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quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

'Reforma política é perfumaria' - Política - iG

Em entrevista ao iG, sociólogo e ex-petista diz haver crise de representatividade dos partidos em todo o mundo, mas diz que reforma não resolve

Nara Alves e Ricardo Galhardo, iG São Paulo

Ex-petista e ex-colaborador direto do então candidato à Presidência Luiz Inácio Lula da Silva, o sociólogo Chico Oliveira, professor emérito da Universidade de São Paulo (USP), foi um dos primeiros intelectuais de esquerda a se desencantar com o governo petista, ainda nos primeiros meses de 2003.

Agora Oliveira, que disse usar o pessimismo como metodologia de trabalho, demonstra o mesmo desalento com uma das principais bandeiras deste início de governo Dilma Rousseff, a reforma política. “É perfumaria, coisa de quem não tem o que fazer”, disse. Para Oliveira, não há como consertar com um pacote de leis a cultura política forjada em séculos de desmandos e corrupção. “É preciso uma longa sedimentação”, afirmou.

Leia os principais trechos da entrevista concedida por Oliveira ao iG no hall do prédio onde mora, no bairro da Lapa, na capital paulista.

iG – O senhor acha que a reforma política vai resolver alguma coisa?
Chico de Oliveira – Reforma política é perfumaria, é assunto de quem não tem o que fazer. A única coisa de política que precisaria ser recuperada é a representatividade dos partidos, mas isso não depende de uma reforma. As experiências que existem de voto distrital em países do tamanho do Brasil são um desastre. Você perde representatividade porque o Brasil é um país que você tem que envolver a política pelos grandes temas, não pelos pequenos. Para os pequenos você já tem o vereador, deputado estadual.

iG – E como recuperar a representatividade dos partidos?
Oliveira - Essa representatividade está em crise no mundo todo. No Brasil, isso é evidente. O que é o PMDB? É um partido da burguesia? Não, não é. A não ser que essa burguesia seja tão vagabunda que seu representante seja o Sarney. Mas isso não é verdade. O PSDB tentou ser um partido diferente. Era uma promessa de um partido laico, não ideológico, republicano. Deu em nada. O PT é uma mistura hoje muito mal definida porque o poder faz isso com todos os partidos de esquerda que chegam ao poder.

iG – Essa onda conservadora que surgiu no final do primeiro turno da campanha presidencial é um sintoma de que os partidos hoje perderam representatividade?
Oliveira – Sim, mas isso não tem conserto por reforma política. Há um movimento das classes sociais que desestruturou os partidos. O PSDB pensava que ia surgir uma nova burguesia e que seria o melhor representante delas. Surgiu? Não. Surgiram grupos econômicos muito fortes, mas isso não se transporta para a política. O PSDB é um personagem em busca de autor. O FHC é um quadro excelente, um dos mais preparados, mas é trágico hoje.

Foto: Agência Estado

Para Chico de Oliveira, tese de que há nova classe média no Brasil é apenas

iG – O surgimento dessa nova classe média tende a aprofundar o abismo entre os partidos e a sociedade?
Oliveira – Isso não é uma nova classe média, é propaganda do governo em que vocês da imprensa acreditam. Uma classe social não é isso, é uma coisa muito mais complexa. O que você tem é um movimento de crescimento capitalista num ciclo muito favorável. Não virou classe média nenhuma. Tem signos do consumo que todo mundo atribui à classe média, mas é falso.

iG – E o que falta para essas pessoas que agora têm acesso a esses 'signos de consumo' para se transformarem nessa nova classe média?
Oliveira – Muita coisa. Você está lidando com estratificações econômicas, e não políticas. Uma classe social é um longo processo. Exige uma mesma situação econômica, quadros, ideologia – que não precisa ser radical. Você se sente parte, com uma experiência comum de classe, ou seja, passar pelas mesmas situações.

iG – Primeiro a sociedade deve se reestruturar em classes políticas para depois resolver a questão da representatividade dos partidos?
Oliveira – É preciso uma longa sedimentação. Isso você não assenta nem por decreto, nem por reforma política. É um longo processo, se houver. Provavelmente não haverá essa reconfiguração da sociedade de forma que se transporte para a política. Em outras palavras, o sistema partidário tende a ser cada vez mais um sistema que alguns chamam de “partido ônibus”, que é uma tentativa de sair à disputa de voto como um mercado.

iG – E a questão ética?
Oliveira - Ética você não injeta em ninguém como penicilina. Na nossa formação histórica o Estado veio antes da sociedade. Portugal transplantou para cá os instrumentos jurídicos de um país semi-feudal. Para reconhecer qualquer coisa você precisa ir a um cartório. As regulações vêm de cima. É muito difícil numa cultura desse tipo criar o sentimento cívico de que o Estado é você que faz.

iG – O senhor é favorável ao financiamento público de campanha?
Oliveira – É uma das únicas coisas da reforma política que é necessária, para democratizar a disputa política. Mas é a única. Por exemplo, reduzir o número de partidos é brincadeira, é antidemocrático. Tem muito partido de aluguel, e haverá outros. As coisas da sociedade se reproduzem no interior do partido.

iG – O voto em lista fechada tem sido defendido pelo PT como uma forma de possibilitar o financiamento público.
Oliveira - Acho a lista profundamente antidemocrática. Será um instrumento para fechar de vez o sistema político porque transforma os que estão eleitos numa oligarquia. Não dá para você penetrar num sistema desses.

iG – Então é melhor manter o sistema como está?
Oliveira – É melhor. Não tem como quebrar essa cadeia da eleição. Todos os sistemas políticos são corruptos. Isso não é conformismo. Quando você tenta cercar o sistema com regras, pode dar num autoritarismo miserável, que é a experiência da ditadura militar, ou pode dar numa oligarquizarão total dos partidos. Deixa o sistema correr.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

ENTREVISTA - OPINIÃO

RO­BER­TO MA­CE­DO

“Não é pro­ble­ma do BC Mei­rel­les ser can­di­da­to”
Dou­tor em Eco­no­mia pe­la Uni­ver­si­da­de Har­vard afir­ma que o Bra­sil saiu de uma re­ces­são, mas ain­da não saiu da cri­se

Edil­son Pe­lika­no

O Bra­sil so­freu me­nos que ou­tros paí­ses, prin­ci­pal­men­te os de­sen­vol­vi­dos, mas po­de­ria ter so­fri­do me­nos se ti­ves­se man­ti­do uma ta­xa mai­or de in­ves­ti­men­tos. A ava­li­a­ção é do eco­no­mis­ta mi­nei­ro Ro­ber­to Ma­ce­do, ex­pli­can­do que a bai­xa ta­xa de in­ves­ti­men­to tem pre­ju­di­ca­do o Pa­ís. Ele ci­ta co­mo exem­plo a fal­ta de in­ves­ti­men­tos da Sa­ne­a­go em le­var água e es­go­to pa­ra os no­vos lo­te­a­men­tos: “Ou­vi em­pre­sá­rios da cons­tru­ção ci­vil re­cla­man­do. In­ves­ti­men­tos do go­ver­no mo­vi­men­tam a eco­no­mia, es­ti­mu­lam os em­pre­sá­rios a tam­bém in­ves­tir”, ava­lia.
Ma­ce­do ana­li­sa que a fi­li­a­ção de Hen­ri­que Mei­rel­les não faz di­fe­ren­ça pa­ra o mer­ca­do fi­nan­cei­ro. E lem­bra que se Mei­rel­les dis­pu­tar a elei­ção, vai fa­zê-lo con­tra pro­fis­si­o­nais da po­lí­ti­ca, o que di­mi­nui su­as chan­ces. Fa­la tam­bém que o PAC foi uma jo­ga­da elei­to­ral do pre­si­den­te Lu­la.
Bol­sa Fa­mí­lia, pré-sal, câm­bio, ju­ros, apa­re­lha­men­to do Ipea e vá­rios ou­tros te­mas são abor­da­dos pe­lo mi­nei­ro Ro­ber­to Ma­ce­do, dou­tor pe­la Uni­ver­si­da­de Har­vard (EUA), pro­fes­sor ti­tu­lar da Uni­ver­si­da­de de São Pau­lo (USP), pes­qui­sa­dor da Fi­pe-USP, vi­ce-pre­si­den­te da As­so­cia­ção Co­mer­cial de São Pau­lo e ex-se­cre­tá­rio de Po­lí­ti­ca Eco­nô­mi­ca do Mi­nis­té­rio da Fa­zen­da. Ma­ce­do tam­bém mi­li­ta na im­pren­sa — é ar­ti­cu­lis­ta do jor­nal Es­ta­do de S.Pau­lo e foi edi­to­ri­a­lis­ta da Fo­lha de S.Pau­lo. Na ter­ça-fei­ra, 15, em tom in­for­mal e pou­co “eco­no­mês”, ele con­ce­deu a en­tre­vis­ta que se­gue, mo­men­tos an­tes de pro­fe­rir pa­les­tra na so­le­ni­da­de de aber­tu­ra do Ins­ti­tu­to Pro­E­co­no­mia, que ini­cia su­as ati­vi­da­des em Go­i­â­nia. Par­ti­ci­pou da en­tre­vis­ta o eco­no­mis­ta go­i­a­no Eve­ral­do Lei­te.
Ce­zar San­tos — O pre­si­den­te do Ban­co Cen­tral, Hen­ri­que Mei­rel­les, po­de se fi­li­ar pa­ra, pro­va­vel­men­te, dis­pu­tar elei­ção em 2010, tal­vez o go­ver­no de Go­i­ás ou vi­ce-Pre­si­dên­cia ou mes­mo Se­na­do. Com sua ex­pe­ri­ên­cia de al­tos car­gos na área eco­nô­mi­ca do go­ver­no, o sr. não acha que con­ta­mi­na a ad­mi­nis­tra­ção um pre­si­den­te do BC fi­li­a­do?
Es­se as­sun­to não tem mui­ta im­por­tân­cia lá den­tro, nin­guém to­ca mui­to nes­se as­sun­to. Eu acho que o pro­ble­ma é do Mei­rel­les, não é do Ban­co Cen­tral ou do mer­ca­do fi­nan­cei­ro. Eu cir­cu­lo no meio fi­nan­cei­ro e ve­jo que nin­guém es­tá pre­o­cu­pa­do se Mei­rel­les vai se fi­li­ar ou não. O pes­so­al da equi­pe apa­re­ce de­mais na mí­dia, às ve­zes mais do que o pre­si­den­te. Vo­cê acha que fi­ca uma pes­soa co­nhe­ci­da, que tem um gran­de ca­pi­tal po­lí­ti­co. Mas é pu­ra ilu­são. Fui can­di­da­to de­pois de par­ti­ci­par do go­ver­no, e as pes­so­as fa­la­vam Ma­ce­do vo­cê apa­re­ce, mas o pes­so­al que te ou­ve na TV, o po­vão, não en­ten­de o que vo­cê es­tá fa­lan­do. Vo­cê acha que Mei­rel­les tem al­gum ape­lo po­pu­lar? Eu não sei. Às ve­zes o ca­ra se em­pol­ga. Se vão vo­tar ne­le é ou­tra his­tó­ria. Ele vai en­fren­tar po­lí­ti­cos ex­pe­ri­en­tes. Ele po­de ser elei­to de­pu­ta­do, co­mo foi, mas ser elei­to go­ver­na­dor ou vi­ce-pre­si­den­te eu acho bem mais com­pli­ca­do.


  1. Da­nin Jú­ni­or — No PT es­tão co­gi­tan­do até An­to­nio Pa­loc­ci pa­ra a pre­si­dên­cia do Ban­co Cen­tral. Um ci­da­dão que que­brou o si­gi­lo ban­cá­rio de um ca­sei­ro ser o pre­si­den­te do Ban­co Cen­tral?
    O PT es­tá pon­do mui­ta fi­cha no Pa­loc­ci, mas es­sa his­tó­ria do ca­sei­ro e ou­tras que acon­te­ce­ram em Ri­bei­rão Pre­to di­mi­nu­í­ram mui­to o ca­pi­tal po­lí­ti­co de­le. Não vai ser fá­cil ele dis­pu­tar uma elei­ção ma­jo­ri­tá­ria, por­que o ou­tro la­do co­me­ça a le­van­tar es­sas ques­tões. Pe­las es­ta­tís­ti­cas elei­to­ra­is que vi, ele não foi elei­to por Ri­bei­rão Pre­to, o par­ti­do ar­ran­jou vo­to pa­ra ele em ou­tros lu­ga­res, a Mar­ta Su­plicy ar­ran­jou mui­to vo­to pa­ra ele em São Pau­lo.
    Ce­zar San­tos — Quem co­nhe­ce Pa­loc­ci não vo­ta em Pa­loc­ci?
    Ele po­de ser o mai­or san­to do Pa­ís, mas a ima­gem pe­ran­te a mí­dia fi­cou ar­ra­nha­da. E num em­ba­te is­so vai ser le­van­ta­do. Em elei­ção pa­ra de­pu­ta­do o ad­ver­sá­rio não es­tá tão pre­o­cu­pa­do com o ou­tro, mas em elei­ção ma­jo­ri­tá­ria se tem opo­si­ção di­re­ta. Vi ho­je no jor­nal um po­lí­ti­co da­qui [Ma­gui­to Vi­le­la] su­ge­rin­do que Mei­rel­les se­ja can­di­da­to a vi­ce-pre­si­den­te, pa­re­ce uma es­tra­té­gia pa­ra se li­vrar do ca­ra (ri­sos).

  2. Ce­zar San­tos —  es­tá com­ple­tan­do um ano da que­bra do Lehmam Bro­thers, que es­can­ca­rou a cri­se fi­nan­cei­ra nos Es­ta­dos Uni­dos afe­tan­do o mun­do to­do. O pi­or já pas­sou pa­ra o Bra­sil?
    O Bra­sil so­freu me­nos que ou­tros paí­ses, prin­ci­pal­men­te os de­sen­vol­vi­dos. E me­nos até que os paí­ses igua­is, co­mo a Chi­na e a Ín­dia. Mas é im­por­tan­te fi­car cla­ro que o Bra­sil saiu de uma re­ces­são, mas ain­da não saiu da cri­se. O con­cei­to de re­ces­são é ter dois tri­mes­tres con­se­cu­ti­vos de va­ri­a­ção ne­ga­ti­va do PIB. No Bra­sil ocor­reu no úl­ti­mo tri­mes­tre de 2008, quan­do veio a cri­se, e o pri­mei­ro tri­mes­tre des­te ano. No se­gun­do tri­mes­tre des­te ano, foi po­si­ti­vo. Is­so sig­ni­fi­ca que o Pa­ís saiu da re­ces­são, vo­tan­do a ter uma ta­xa po­si­ti­va, mas ain­da não su­fi­ci­en­te pa­ra com­pen­sar as que­das an­te­rio­res, ou se­ja, não vol­tou ao que era an­tes. É co­mo vo­cê ca­ir num bu­ra­co e co­me­çar a su­bir pe­las la­te­ra­is. Vo­cê es­tá sa­in­do, mas não che­gou ao to­po ain­da. Não di­go is­so por­que eu tor­ça pe­lo pi­or, pe­lo con­trá­rio, es­tou doi­do pa­ra o Bra­sil sa­ir do bu­ra­co e su­pe­re es­sa cri­se. Se é fa­to que so­fre­mos me­nos que ou­tros paí­ses, po­de­rí­a­mos ter so­fri­do ain­da me­nos.
    “O?Brasil in­ves­te mui­to pou­co”

  3. Da­nin Jú­ni­or — De que for­ma? O que de­ve­ria ter si­do fei­to?
    Se ti­vés­se­mos man­ti­do uma ta­xa mai­or de in­ves­ti­men­tos. Tec­ni­ca­men­te, ta­xa de in­ves­ti­men­to é aqui­lo que vo­cê pro­duz, não con­so­me e trans­for­ma em coi­sas que pro­du­zem bem de ca­pi­tal. No Bra­sil se faz is­so mui­to pou­co. Ve­ja que a Chi­na re­ser­va 40% do que pro­duz pa­ra in­ves­tir e a ta­xa de cres­ci­men­to lá caiu de 10% pa­ra 8% com a cri­se; a Ín­dia in­ves­te 30% e a ta­xa caiu de 8% pa­ra cer­ca de 6%. O Bra­sil tem in­ves­ti­do 19%, mui­to pou­co e com a cri­se caiu pa­ra 15%. Nos­sa ta­xa de cres­ci­men­to caiu de 5% em 2008 pa­ra ze­ro es­te ano, tal­vez che­gue a meio por cen­to ou um pou­qui­nho mais. A gran­de ca­rên­cia do cres­ci­men­to bra­si­lei­ro é re­a­li­zar mais in­ves­ti­men­tos. Sem in­ves­ti­men­tos acon­te­cem gar­ga­los. Vi a no­tí­cia da ex­pan­são da cons­tru­ção ci­vil aqui em Go­i­â­nia, pa­ra áre­as mais lon­ge do cen­tro. Mas aí é pre­ci­so le­var água e es­go­to. Os em­pre­sá­rios da cons­tru­ção es­tão se quei­xan­do da com­pa­nhia lo­cal, a Sa­ne­a­go, que não es­tá le­van­do água (pa­ra os lo­te­a­men­tos). A em­pre­sa não in­ves­te por que não tem di­nhei­ro. En­tão, quan­do o go­ver­no in­ves­te, le­va água, es­tra­da, faz pos­to de sa­ú­de, es­co­la, ele es­ti­mu­la o se­tor pri­va­do a tam­bém in­ves­tir. Os go­ver­nos aqui - e is­so é ge­ral, em to­do o Pa­ís - des­ti­nam mui­to pou­co pa­ra in­ves­ti­men­tos. O go­ver­no fe­de­ral já che­gou a in­ves­tir mais de 2% do PIB, ho­je caiu pa­ra cer­ca de 1,5%.

  4. Eve­ral­do Lei­te — o sr. não acha que o Bra­sil en­trou nes­sa cri­se de ma­nei­ra er­ra­da, quan­do o Ban­co Cen­tral su­biu o ju­ro em vez de re­du­zir? Is­so não po­de fa­zer o Bra­sil de­mo­rar um pou­co mais pa­ra sa­ir da cri­se?
    Não che­gou a su­bir, acho que pa­rou o cres­ci­men­to de ju­ros. Eu me in­te­gro ao gru­po de eco­no­mis­tas que di­zem que o go­ver­no po­de­ria ter agi­do mais rá­pi­do. O que de­ve­ria fa­zer o Ban­co Cen­tral é um pou­co do que faz os Es­ta­dos Uni­dos, lá o Ban­co Cen­tral tem man­da­to não só pa­ra con­tro­lar in­fla­ção, é res­pon­sá­vel tam­bém pe­la eco­no­mia, por­que é mui­to fá­cil pa­ra o Ban­co Cen­tral fi­car con­tro­lan­do in­fla­ção. In­fla­ção so­be, au­men­tam os ju­ros; cai, abai­xam os ju­ros.

  5. Da­nin Jú­ni­or — A po­lí­ti­ca mo­ne­tá­ria po­de­ria me­lho­rar a ques­tão dos in­ves­ti­men­tos?
    Uma épo­ca eu fui pre­si­den­te de uma en­ti­da­de do se­tor elé­tri­co e ele­trô­ni­co, se não me en­ga­no em 1996 ou 1997, o go­ver­no pas­sou a ta­xa de ju­ros pa­ra 45% ao ano em no­vem­bro. So­brou te­le­vi­são em Ma­naus, no meio do ca­mi­nho den­tro dos ca­mi­nhões, nos de­pó­si­tos, pa­ra tu­do quan­to é la­do, uma tra­gé­dia. En­tão, ho­je com 8,75%, com ex­pec­ta­ti­va de in­fla­ção de 4%, vo­cê es­tá com a ta­xa de ju­ros per­to de 5%, que é a ta­xa ba­se da Se­lic. O pro­ble­ma do Bra­sil ho­je é o spre­ad. Sou vi­ce-pre­si­den­te da As­so­cia­ção Co­mer­cial de São Pau­lo e a re­cla­ma­ção lá e mais do spre­ad do que da ta­xa de ju­ros. Spre­ad é uma coi­sa in­te­res­san­te. Quan­do fui es­tu­dar nos Es­ta­dos Uni­dos en­ten­di o que era spre­ad. É, por exem­plo, pas­sar man­tei­ga no pão. Tem ho­ra que pa­re­ce um san­du­í­che de me­lan­cia, aque­le ne­gó­cio enor­me em ci­ma da fa­tia de pão. O spre­ad é mai­or do que a pró­pria fa­tia de pão.

  6. Ce­zar San­tos — Os ban­cos ga­nham ab­sur­da­men­te?
    Re­mu­ne­ra­ção dos ban­cos aqui é bas­tan­te ele­va­da pe­los pa­drões in­ter­na­cio­nais, man­ti­da in­clu­si­ve du­ran­te a cri­se. Mas tem coi­sa que é do go­ver­no, tem mui­to com­pul­só­rio, mui­to im­pos­to. O Hen­ri­que Mei­rel­les tem fei­to pa­les­tras, por­que ele es­tá bus­can­do bai­xar o com­pul­só­rio, que aqui é al­to de­mais. Quem en­trar no Ban­co Cen­tral, o pró­xi­mo go­ver­no, vai ter que se de­bru­çar so­bre o spre­ad. Ve­jo de­ba­te dis­so em São Pau­lo, se tem con­sci­ên­cia do as­sun­to, os em­pre­sá­rios re­cla­mam, o go­ver­no re­cla­ma, os eco­no­mis­tas não com­pro­me­ti­dos com cen­tros fi­nan­cei­ros tam­bém re­cla­mam.

  7. Ce­zar San­tos — A mí­dia tra­ta bem o te­ma eco­no­mia?
    Há um vi­és na mí­dia na­ci­o­nal de quan­do tem al­gum as­sun­to ela re­per­cu­te mui­to com eco­no­mis­tas de ban­cos. Os ban­cos mon­ta­ram ver­da­dei­ras fa­cul­da­des pa­ra es­se ti­po de pes­qui­sa, pro­du­zem uma quan­ti­da­de de ma­te­ri­al imen­sa. É cô­mo­do pa­ra o jor­na­lis­ta re­cor­rer a quem for­ne­ce es­se ma­te­ri­al. Às ve­zes são jor­na­lis­tas in­gê­nuos. Uma vez su­biu a ta­xa de ju­ros e os jor­na­lis­tas fa­la­ram com o pre­si­den­te da Va­le, e ele fa­lou que es­ta­va tu­do ok. Mas quem é o pre­si­den­te da Va­le? Ele re­pre­sen­ta o Bra­des­co (ri­sos). An­ti­ga­men­te os jor­nais da­vam mui­to mais aten­ção ao pes­so­al de fa­cul­da­de. Is­so mu­dou, mas mui­to é cul­pa do pró­prio pes­so­al da aca­de­mia. Mui­tos eco­no­mis­tas da USP não es­tão nem aí, que­rem é fa­zer cur­rí­cu­lo la­tes. Ou­tro dia cri­a­mos um gru­po lá pa­ra dis­cu­tir a con­jun­tu­ra eco­nô­mi­ca, mas o gru­po es­tá fi­can­do ve­lho. Con­vi­da­mos os mais jo­vens, mas nin­guém se in­te­res­sa mais.
  8.  
    Eve­ral­do Lei­te — Qual sua opi­ni­ão so­bre eco­no­mis­tas que es­tão tra­tan­do a ques­tão do de­sen­vol­vi­men­to nu­ma pers­pec­ti­va mais keyne­sia­na?
    A ques­tão é fa­zer a lei­tu­ra cor­re­ta do Keynes, que mui­tos não fa­zem. No go­ver­no há al­gu­mas pes­so­as com uma vi­são keyne­sia­na in­cor­re­ta, que é ex­pan­dir qual­quer gas­to. (Maynard) Keynes diz que é pre­ci­so au­men­tar gas­to do go­ver­no, mas em coi­sas que de­pois se­ja re­ver­ti­do. Ele en­fa­ti­za mui­to in­ves­ti­men­to e se­gu­ro de­sem­pre­go. Com se­gu­ro de­sem­pre­go vo­cê so­cor­re o pes­so­al, e quan­do a eco­no­mia re­cu­pe­rar ele dei­xa de ser de­sem­pre­ga­do. In­ves­ti­men­to cons­trói o pa­ís. A lei­tu­ra cor­re­ta do Keynes é es­sa, o go­ver­no de­ve en­trar mais em in­ves­ti­men­to, se­gu­ro de­sem­pre­go e edu­ca­ção, ten­do edu­ca­ção co­mo in­ves­ti­men­to. Mas não fa­zen­do co­mo o go­ver­no bra­si­lei­ro, au­men­tan­do a fo­lha e sa­lá­ri­os. O go­ver­no es­tá fa­zen­do con­su­mo, es­tá co­men­do se­men­te.

  9. Da­nin Jú­ni­or — O que acon­te­ceu com o Ipea [Ins­ti­tu­to de Pes­qui­sa Eco­nô­mi­ca Apli­ca­da]?
    Ele foi apa­re­lha­do, faz ser­vi­ço de ban­co, vi­são de mun­do que eu res­pei­to. Pes­qui­sa­dor de­ve ter li­ber­da­de pa­ra es­co­lher te­mas, as opi­ni­ões de­vem ser o mais isen­tas pos­sí­veis. In­fe­liz­men­te mu­dou o Ipea, ele faz tra­ba­lhos edi­fi­can­do ações go­ver­na­men­tais, o au­men­to do em­pre­go, coi­sas do ti­po.

  10. Da­nin Jú­ni­or — Quem foi que de­ter­mi­nou a sa­í­da da­que­les qua­tro eco­no­mis­tas?
    Acon­te­ce es­se ti­po de coi­sa, é meio pa­tru­lha. Fo­ram de­mi­ti­dos, mas é co­mum. Sou pro­fes­sor apo­sen­ta­do da USP, che­go lá tem uma sa­la re­ser­va­da aos apo­sen­ta­dos, po­de­mos usar a bi­bli­o­te­ca, man­te­nho meu en­de­re­ço de e-mail de lá, is­so é nor­mal. Acho que is­so de­ve­ria acon­te­cer no Ipea. Mas aí di­zem que não ha­via mais in­te­res­se. Aca­ba­ram fa­zen­do um con­cur­so em que o pró­prio pes­so­al do Ipea re­cla­mou, ti­rou o Ipea da sua tra­di­ção de pes­qui­sa eco­nô­mi­ca apli­ca­da, e con­tra­ta­ram gen­te de vá­ri­as áre­as. Cor­re o ris­co de lá vi­rar um lu­gar da­que­les que cha­mam de pa­po-ca­be­ça, no qual um mon­te de gen­te se reú­ne... (ri­sos). Mas pas­sou gen­te boa lá. Por exem­plo, um eco­no­mis­ta que era jor­na­lis­ta no Es­ta­dão, mui­to com­pe­ten­te, in­clu­si­ve eu sem­pre par­ti­ci­po da pre­mia­ção do cha­ma­do te­sou­ro na­ci­o­nal, e ele ga­nhou du­as ve­zes an­tes de en­trar no Ipea. No meio des­sa tur­ma de­ve ter gen­te apro­vei­tá­vel.

  11. Ce­zar San­tos — Não só o Ipea, mas pra­ti­ca­men­te to­da a ad­mi­nis­tra­ção pú­bli­ca se en­con­tra apa­re­lha­da. Qual a ex­pli­ca­ção pa­ra is­so?
    No ca­so do Ipea é mais sé­rio, por­que se con­tra­tou mui­ta gen­te pa­ra fi­car lá pa­ra o res­to da vi­da. O apa­re­lha­men­to que o pre­si­den­te Lu­la faz é cri­ar car­gos de co­mis­são pre­en­chi­dos tem­po­ra­ria­men­te com gen­te da li­nha par­ti­cu­lar de­le, com pre­do­mi­nân­cia de lí­de­res sin­di­cais. Es­ses car­gos de con­fi­an­ça de­ve­ri­am ser re­du­zi­dos. Co­mo se ex­pli­ca car­go de con­fi­an­ça no Ju­di­ci­á­rio, que é um ne­gó­cio per­ma­nen­te? Pa­ra que car­go de con­fi­an­ça no Ju­di­ci­á­rio? Is­so é fun­cio­ná­rio bu­ro­cra­ta.

  12. Eve­ral­do Lei­te — O Ipea es­tá atu­an­do no marke­ting do Go­ver­no?
    Ele es­tá mui­to en­ga­ja­do, ele tem que fa­zer as pes­qui­sas. Se es­ti­ves­se no go­ver­no, eu me sen­ti­ria mais con­for­tá­vel com o Ipea apon­tan­do não só as coi­sas bo­as, co­mo tam­bém os equí­vo­cos. Acho que tem que ter li­ber­da­de pa­ra fa­zer is­so. Em Har­vard, na pós-gra­du­a­ção, o cri­té­rio é o se­guin­te, não se po­de re­pe­tir o que é da­do em au­la, tem que ir além. E as me­lho­res no­tas vo­cê ga­nha quan­do vo­cê pro­va que o pro­fes­sor es­tá er­ra­do, por­que eles te usam co­mo co­bai­as. Quan­do eles es­tão fa­zen­do um tra­ba­lho, dis­tri­bu­em pa­ra alu­nos de pós-gra­du­a­ção. Aqui­lo ali é uma bom­ba, se cha­ma “take ho­me”, vo­cê le­va pa­ra ca­sa. Es­tu­da no fi­nal de se­ma­na e na se­gun­da-fei­ra de­vol­ve com crí­ti­cas. É ou­tra for­ma­ção. Bra­si­lei­ro não gos­ta mui­to de crí­ti­ca. Aqui se vo­cê cri­ti­ca uma po­lí­ti­ca, o ci­da­dão acha que vo­cê ofen­deu a mãe de­le.

  13. Da­nin Jú­ni­or — O Ipea sem­pre ten­tou jus­ti­fi­car o Bol­sa Fa­mí­lia, que é a me­ni­na dos olhos do go­ver­no.
    Eu de­fen­do o Bol­sa Fa­mí­lia. Nos Es­ta­dos Uni­dos é le­va­do a sé­rio es­se mo­de­lo. Sem­pre fa­lei que aqui no Bra­sil ti­nha que ser ado­ta­do uma coi­sa que lá cha­ma “se­lo co­mi­da” (fo­od stamp). Vo­cê re­ce­be do go­ver­no e é mai­or do que o Bol­sa Fa­mí­lia. Eu sou a fa­vor do Bol­sa Fa­mí­lia, nin­guém po­de ser con­tra. Lu­la deu uma co­zi­nha­da de vá­rios pro­gra­mas que ha­via no go­ver­no Fer­nan­do Hen­ri­que Car­do­so. Mas o Fer­nan­do Hen­ri­que não te­ve a idéia de jun­tar tu­do is­so, co­mo te­ve o Lu­la.

  14. Da­nin Jú­ni­or — Ali­ás, es­sa idéia não é do go­ver­no Lu­la, é da­qui de Go­i­ás...
    Ou­vi di­zer tam­bém que co­me­çou em Cam­pi­nas (SP), is­so é mui­to co­mum em paí­ses, de­ve­ria ser apren­di­do em ca­sa, em re­li­gi­ão. O su­ces­so do Bol­sa Fa­mí­lia vai ser mes­mo quan­do as pes­so­as fo­rem sa­in­do, há um ban­do de gen­te de­pen­den­te do Bol­sa Fa­mí­lia, vai ser cri­a­do um ban­do de zum­bi. O Lu­la foi aos jor­nais di­zer que au­men­ta­ria 135 re­ais por pes­soa. Au­men­ta tan­to que por fim o ca­ra pen­sa por que vou tra­ba­lhar? Os pa­is de­vem re­ce­ber pen­são da Pre­vi­dên­cia, com­pen­sa mais car­re­gar um car­ri­nho de pi­po­ca e na moi­ta fi­car re­ce­ben­do o Bol­sa Fa­mí­lia. Es­ses di­as fi­quei sa­ben­do que lá em São Pau­lo um ra­paz ven­deu o pon­to de­le de to­mar con­ta de au­to­mó­vel e vol­tou pa­ra as ori­gens por cau­sa do Bol­sa Fa­mí­lia, por­que aí fi­ca lá no sí­tio, não tem ren­da mo­ne­tá­ria. Nu­ma re­u­ni­ão es­ses di­as ha­via po­lí­ti­cos re­cla­man­do que tem gen­te dei­xan­do São Pau­lo por cau­sa do Bol­sa Fa­mí­lia. As pes­so­as vol­tam pa­ra su­as ci­da­des com os ví­ci­os de São Pau­lo, da cri­mi­na­li­da­de, fa­ve­la, o ca­ra tor­na-se um mal edu­ca­do.

  15. Eve­ral­do Lei­te — O sr. acre­di­ta que mi­cro­cré­di­to se­ria uma sa­í­da?
    Mi­cro­cré­di­to é bom. Num de­ba­te ou­vi su­ges­tão in­te­res­san­te, de que a em­pre­sa que con­tra­tas­se al­guém do Bol­sa Fa­mí­lia po­de­ria des­con­tar o va­lor do be­ne­fí­cio da con­tri­bui­ção de Pre­vi­dên­cia. Eu já tra­ba­lhei em Bra­sí­lia, sei a di­fe­ren­ça en­tre idéia e exe­cu­ção, é com­pli­ca­do, mas te­ria de ver se com­pen­sa.

  16. Da­nin Jú­ni­or — Nos úl­ti­mos seis mes­es fo­ram acu­mu­la­dos qua­se R$ 57 bi­lhões de dé­fi­cit no­mi­nal...
    Mas o dé­fi­cit no­mi­nal sem­pre exis­tiu, to­dos os paí­ses têm. Há três coi­sas que não se po­de se­gu­rar: fo­go mor­ro aci­ma, água mor­ro abai­xo e go­ver­no com man­da­to pa­ra gas­tar. O pro­ble­ma é que a cri­se dá ao go­ver­no man­da­to pa­ra gas­tar, uma jus­ti­fi­ca­ti­va keyne­sia­na. En­tão es­tão me­ten­do o pau na má­qui­na, e a meu ver er­ro­ne­a­men­te, pois es­tão cri­an­do car­gos per­ma­nen­tes e apos­tan­do no au­men­to da ar­re­ca­da­ção, de que a cri­se vai re­cu­pe­rar e tu­do mais. Se es­se ne­gó­cio frus­tra um pou­co, vo­cê pas­sa a ter pro­ble­mas de dí­vi­da.

  17. Da­nin Jú­ni­or — A re­la­ção dí­vi­da pas­sou de 63% pa­ra 65% em tor­no de dois mes­es, se­gun­do da­dos do Ban­co Cen­tral. O sr. acha que a es­ta­bi­li­da­de mo­ne­tá­ria es­tá ame­a­ça­da?
    Eu não ve­jo is­so. Só se hou­ver al­gum agra­va­men­to. Ela po­de­ria es­tar con­so­li­da­da se vo­cê ti­ver um re­sul­ta­do me­lhor nas con­tas fis­cais. Is­so dá mais es­pa­ço pa­ra di­mi­nu­ir ju­ros. O Ban­co Cen­tral, nas en­tre­li­nhas, se quei­xa que o go­ver­no se­gue uma po­lí­ti­ca ex­pan­sio­nis­ta. Mei­rel­les é mui­to ele­gan­te, vo­cês o co­nhe­cem. Ele põe lá umas coi­sas, dá uns re­ca­dos. En­tão, é o se­guin­te um dos fun­dos das ba­ses da ta­xa de ju­ro é a ques­tão da dí­vi­da go­ver­na­men­tal, por­que os paí­ses ri­cos pa­ra em­pres­tar di­nhei­ro pa­ra o Bra­sil olham mui­to a ques­tão da dí­vi­da. Se a dí­vi­da se agra­var, o pes­so­al vai que­rer mais ju­ros, por­que ju­ro bai­xo é uma re­mu­ne­ra­ção pe­lo ris­co da dí­vi­da pú­bli­ca. En­tão acho que o go­ver­no de­ve­ria — e não é idéia mi­nha, is­so aí é coi­sa de ges­tão fa­mi­liar — não fa­zer dé­fi­cit. O (An­tô­nio) Pa­loc­ci ten­tou apli­car is­so an­tes de sa­ir, por su­ges­tão do Del­fim (Ne­to), de fa­zer um dé­fi­cit ze­ro, por­que aí a dí­vi­da não cres­ce, com dé­fi­cit no­mi­nal ze­ro.
    Da­nin Jú­ni­or — O PAC es­tá sen­do vá­li­do?
    Co­mo es­se dis­cur­so de in­ves­ti­men­to não al­can­ça o po­vo, mas al­can­ça a mí­dia, Lu­la re­sol­veu ado­tar o PAC, no pri­mei­ro man­da­to não ti­nha PAC ne­nhum. En­tão ele in­ven­tou o PAC com pre­o­cu­pa­ção elei­to­ral, mas tam­bém ele es­tá ci­en­te que a ta­xa de in­ves­ti­men­to é bai­xa. Só que PAC ri­ma com pou­co, por­que ele é pe­que­no den­tro das ne­ces­si­da­des. O go­ver­no viu que es­ta­va vul­ne­rá­vel. O go­ver­no Lu­la, no pri­mei­ro man­da­to, foi no Bol­sa Fa­mí­lia. Es­sa crí­ti­ca que eu fa­ço aos in­ves­ti­men­tos não per­meia mui­to os de­ba­tes, por­que não che­ga ao po­vão. Mas en­tre os go­ver­nan­tes, en­tre a gran­de mí­dia o pes­so­al sa­be que o Bra­sil in­ves­te pou­co. Vi um ar­ti­go se­gun­da-fei­ra na pá­gi­na 2 do Es­ta­dão di­zen­do que in­ves­ti­men­to é a mo­la pro­pul­so­ra, e eu di­go que é o cal­ca­nhar de Aqui­les da eco­no­mia bra­si­lei­ra, pois é on­de a coi­sa é frá­gil.
    Da­nin Jú­ni­or — Além de ser pou­co, o PAC nem an­da. Es­tá mes­mo em­pa­ca­do...
    A idéia que cir­cu­la en­tre os eco­no­mis­tas é que é pre­ci­so pas­sar es­sas obras do PAC pa­ra os mu­ni­cí­pios e Es­ta­dos. Os Es­ta­dos es­tão com ní­vel de atri­bu­i­ção na Na­ção mui­to bai­xo. Não sei co­mo é aqui, mas lá em São Pau­lo sai no­tí­cias do go­ver­no fe­de­ral e da Câ­ma­ra dos De­pu­ta­dos; da As­sem­bléia não se tem no­tí­cias nem de es­cân­da­los. Os jor­nais de São Pau­lo, vo­cê pe­ga a "Fo­lha" e o "Es­ta­dão", são jor­nais na­ci­o­nais, eles não dão no­tí­cia es­ta­du­al. Tem um ca­der­no mu­ni­ci­pal lá, por­que se­não tam­bém de­san­da. Pa­ra vo­cê ver, em São Pau­lo, gra­ças a Deus, não se vê mui­tas es­tra­das fe­de­ra­is. Obras fe­de­ra­is de­ve­ri­am ser pas­sa­das pa­ra o go­ver­no es­ta­du­al exe­cu­tar. Eu não te­nho pro­vas, mas ou­vi de um im­por­tan­te se­na­dor da Re­pú­bli­ca que a obra fe­de­ral é mais ca­ra que a obra es­ta­du­al, que é mais ca­ra que a mu­ni­ci­pal. Is­so por­que tem gen­te de­mais en­vol­vi­da.
    Da­nin Jú­ni­or — Vai au­men­tan­do o va­lor ao lon­go da obra...
    Pa­ra o go­ver­no fe­de­ral con­tro­lar uma obra aqui em Go­i­ás, pa­ra não di­zer no Ama­pá, é só co­lo­car uma pla­ca do PAC e lá “Exe­cu­ção Go­ver­no Es­ta­du­al”. Se der pe­pi­no, não vai ser só do Es­ta­do.
    Ce­zar San­tos — São cha­ma­das obras de­le­ga­das.
    Es­se é o no­me téc­ni­co, vou até co­lo­car no meu dis­cur­so (ri­sos).
    “No Pa­ís se cri­ou a in­dús­tria do con­cur­so”
    Da­nin Jú­ni­or — O úl­ti­mo re­la­tó­rio do pri­mei­ro se­mes­tre mos­tra que o de­sem­pe­nho do PAC foi de ape­nas 7%. Lan­çou o Mi­nha Ca­sa, Mi­nha Vi­da e nos pri­mei­ros cin­co mes­es o nú­me­ro de con­tra­tos já fir­ma­dos na Cai­xa Eco­nô­mi­ca, que é a prin­ci­pal ope­ra­do­ra, foi de 3,8%. O que es­tá acon­te­cen­do?
    O que já acon­te­ceu em ou­tros go­ver­nos. Lá em Bra­sí­lia e pes­so­al da área eco­nô­mi­ca e de ou­tras áre­as cos­tu­ma­vam brin­car que a gen­te tem uma pra­te­lei­ra com sa­cos de bon­da­des e de mal­da­des. O che­fe do po­der po­lí­ti­co de­ve ter fa­la­do pre­ci­sa­mos fa­zer al­gu­ma coi­sa, pre­ci­sa fa­zer mais in­ves­ti­men­tos, en­tão vo­cê jun­ta sa­cos da pra­te­lei­ra, co­lo­ca um no­me bo­ni­to no ne­gó­cio, faz um mon­te de sli­des do pro­je­to, em Power Po­int, cha­ma to­do mun­do, faz uma so­le­ni­da­de no Pa­lá­cio, a im­pren­sa co­bre tu­do. Mas de­pois tem o day af­ter. Co­mo va­mos fa­zer es­se ne­gó­cio? Lem­bro que uma vez es­ta­va no go­ver­no e fi­ze­ram um ne­gó­cio que de­pen­dia de fi­nan­cia­men­to do Ban­co do Bra­sil, en­tão o pre­si­den­te fez uma so­le­ni­da­de, cha­mou a gen­te e dis­se: “Eu que­ro ver es­se ne­gó­cio na pon­ta lá no ban­co ama­nha”. É mais fá­cil pas­sar is­so aí pa­ra fren­te. Em Bra­sí­lia a Dil­ma in­ven­tou até um au­men­to pa­ra fun­cio­ná­rios do Dnit, não sei nem se pas­sou, pa­ra dar gra­ti­fi­ca­ção pa­ra os ca­ras fis­ca­li­za­rem obras di­rei­to e se em­pe­nhar fo­ra do ex­pe­di­en­te, por­que não há gen­te. Se pas­sar is­so pa­ra pre­fei­tu­ra, o ca­ra tem que se vi­rar, a bom­ba so­bra na mão de­le.
    Eve­ral­do Lei­te — Co­mo o sr. vê es­sa vol­ta das re­la­ções cam­bi­ais? Co­mo vai fi­car is­so no pós-cri­se?
    Se há um fa­to que di­fe­ren­ciou es­sas cri­ses, e eu pas­sei por vá­ri­as, é que des­sa vez o Bra­sil ti­nha re­ser­vas, es­sa é a gran­de mu­dan­ça. Eu pas­sei, na fa­cul­da­de de eco­no­mia por qua­se 40 anos, com um ne­gó­cio na ca­be­ça cha­ma­do es­cas­sez de di­vi­sas. Vo­cê até usa­va pa­ra jus­ti­fi­car fi­nan­cia­men­tos de pro­je­tos no BNDES. Por exem­plo, vou fa­zer fá­bri­ca aqui, ela vai pro­du­zir lo­cal­men­te o que é de im­por­tá­vel, en­tão va­mos eco­no­mi­zar di­vi­sas, que sem­pre são es­cas­sas. O que acon­te­ceu? Des­sa vez a cri­se pe­gou o Bra­sil com ex­ces­so de di­vi­sa, ou se­ja, re­ser­va mais do que su­fi­ci­en­te. No iní­cio vai ter uma cor­ri­da por dó­lar, mui­to li­ga­do àque­las ques­tões dos ex­por­ta­do­res que ti­nham fi­nan­cia­men­tos ex­ter­nos, que fi­ca­ram sem dó­lar, mas de­pois o pró­prio Ban­co Cen­tral usou um pou­co das re­ser­vas. Mei­rel­les vi­ve fa­lan­do dis­so, pa­ra so­cor­rer es­ses ex­por­ta­do­res. Co­mo a cri­se foi su­pe­ran­do, o dó­lar já vol­tou só que não foi, di­ga­mos, um sur­to, mas o pa­ci­en­te es­tá bom. E es­tá li­ga­do tam­bém ao fa­to de o go­ver­no ter re­du­zi­do mui­to a dí­vi­da de­le, ou em dó­lar, ou do­la­ri­za­da. An­ti­ga­men­te era as­sim: vi­nha a cri­se, vo­cê não ti­nha dó­lar. O dó­lar su­bia, a in­fla­ção su­bia e o Ban­co Cen­tral su­bia os ju­ros. Ago­ra veio a cri­se, o dó­lar su­biu, por­que o pre­ço das com­mo­di­ti­es caiu, de­pois o dó­lar foi ca­in­do, aju­dan­do a di­mi­nu­ir a in­fla­ção, e o que acon­te­ce? O Ban­co Cen­tral bai­xa os ju­ros. É to­tal­men­te di­fe­ren­te, is­so nun­ca acon­te­ceu du­ran­te a mi­nha vi­da. Daí mu­da to­tal­men­te de fi­gu­ra, é im­pres­sio­nan­te, é a gran­de mu­dan­ça. Mei­rel­les não se can­sa de di­zer is­so, o go­ver­no ho­je é um cre­dor em dó­lar.
    Eve­ral­do Lei­te — O que o sr. acha dos em­prés­ti­mos do Bra­sil pa­ra paí­ses co­mo Chi­le e Ve­ne­zu­e­la?
    Há al­gu­mas coi­sas que são jus­ti­fi­cá­veis. O Bra­sil é um pa­ís gran­de. Por ser gran­de tem res­pon­sa­bi­li­da­de gran­de. Vo­cê tem aí uma Bo­lí­via, Pa­ra­gu­ai, o Bra­sil tam­bém aju­da paí­ses afri­ca­nos. Fun­cio­na tan­to que na épo­ca do Del­fim (Net­to) o Bra­sil em­pres­tou di­nhei­ro até pa­ra a Po­lô­nia.
    Ce­zar San­tos — Mas em­pres­tar di­nhei­ro até pa­ra quem to­ma re­fi­na­ria do Bra­sil?
    É, pa­ra o ca­ra da Bo­lí­via que to­ma nos­sa re­fi­na­ria tem que dar uma res­pos­ta du­ra. O Pa­ra­gu­ai, por exem­plo, tem aque­la coi­sa dos bra­si­gua­i­os, o pes­so­al do Ma­to Gros­so re­cla­ma mui­to dis­so, e o Es­ta­do não re­gu­la­ri­za a si­tu­a­ção. Ali­ás, es­ses di­as o Bra­sil fez uma gran­de coi­sa. Em São Pau­lo se vê nas ru­as mui­tos imi­gran­tes bo­li­vi­a­nos. Fi­ze­ram no go­ver­no fe­de­ral uma lei pa­ra re­gu­la­ri­zar es­se pes­so­al, por­que o Bra­sil, se con­ti­nu­ar cres­cen­do, vai ter um pro­ble­ma sé­rio de fron­tei­ra com paí­ses com al­ta ta­xa de de­sem­pre­go, co­mo Pe­ru, Bo­lí­via, Equa­dor e ou­tros. Es­ses di­as an­dan­do pe­lo cen­tro de São Pau­lo ob­ser­vei que já es­tão che­gan­do equa­to­ri­a­nos ao Bra­sil, e o Equa­dor não faz fron­tei­ra com o Bra­sil. Vai ha­ver pro­ble­mas se­me­lhan­tes aos do Mé­xi­co com os Es­ta­dos Uni­dos.
    Da­nin Jú­ni­or — O sr. par­ti­ci­pou do pla­no de go­ver­no do go­ver­na­dor Jo­sé Ser­ra, e ele é um dos go­ver­na­do­res que es­tá con­se­guin­do de al­gu­ma for­ma li­be­rar um pou­co de re­cur­so pa­ra in­ves­ti­men­to. Co­mo ele con­se­guiu is­so em São Pau­lo?
    Pri­mei­ro que a ar­re­ca­da­ção lá não tem ca­í­do mui­to. E co­lo­cou na Se­cre­ta­ria da Fa­zen­da o Mau­ro Ri­car­do Cos­ta, uma pes­soa mui­to com­pe­ten­te. Má­qui­na de ar­re­ca­da­ção tem que tra­ba­lhar bem com fis­cais. Ele in­tro­du­ziu um sis­te­ma cha­ma­do Sub­sti­tui­ção Tri­bu­tá­ria, que po­li­cia es­sa ques­tão de guer­ra fis­cal. Vo­cê faz obra com re­cei­ta tri­bu­tá­ria e não-tri­bu­tá­ria, es­sa que vem de fi­nan­cia­men­tos. É mais fá­cil lá, por­que São Pau­lo tem mais re­cur­sos. A coi­sa, por exem­plo, do fun­cio­na­lis­mo, é mui­to bem con­tro­la­da, não há es­ses su­per­sa­lá­ri­os que exis­tem na área fe­de­ral, lá não se faz es­sa quan­ti­da­de imen­sa de con­cur­sos. Es­tou sem­pre em Bra­sí­lia, e sou li­ga­do à área edu­ca­cio­nal, e ve­jo que no En­si­no Mé­dio o pes­so­al não dis­cu­te mais que fa­cul­da­de vai fa­zer, mas que con­cur­so vai fa­zer. Is­so cri­ou uma in­dús­tria do con­cur­so. A ca­be­ça dos ca­ras é tra­ba­lhar pa­ra o go­ver­no. Is­so es­tá er­ra­do. No fi­nal, quem vai pa­gar es­sa con­ta?
    Da­nin Jú­ni­or — Em 2006, o PT aca­bou co­lo­can­do o PSDB co­mo vi­lão das pri­va­ti­za­ções. O sr. acha que es­se de­ba­te vai vol­tar?
    A mí­dia deu gran­de im­por­tân­cia pa­ra is­so, mas acho que fal­tou pei­to pa­ra en­fren­tar o pro­ble­ma. A ati­tu­de do PSDB foi equi­vo­ca­da, de­ve­ria ter as­su­mi­do e ido pa­ra o de­ba­te.
    Da­nin Jú­ni­or — O que o sr. es­tá achan­do do pré-sal?
    Es­tu­dei is­so e ve­jo que não há ra­zão ne­nhu­ma pa­ra mu­dar o mo­de­lo. Acho que de­ve­ria au­men­tar os royal­ti­es, por­que co­lo­can­do tu­do nas mãos da Pe­tro­bras vai de­mo­rar mui­to. As­sim an­te­ci­pa­ria os re­sul­ta­dos, pois po­de­ri­am en­trar mais em­pre­sas. O que es­tá acon­te­cen­do aí? Se­rá que o di­nhei­ro do pré-sal vai pa­ra fun­do so­ci­al, vai re­sol­ver pro­ble­ma de po­bre­za? Eu ti­ve que fi­car um dia e meio len­do pa­ra con­se­guir en­ten­der es­sa ques­tão do pré-sal. Tem mui­ta gen­te di­zen­do que não há ra­zão pa­ra mu­dar o mo­de­lo, por­que te­ria re­sul­ta­do mais rá­pi­do.
    Ce­zar San­tos — O go­ver­no tem in­ves­ti­do mui­to na ques­tão de Eta­nol. O pré-sal não vai atra­pa­lhar?
    Co­me­çou com aque­le ne­gó­cio do Fo­me Ze­ro, en­tão in­ven­ta­ram o Bol­sa Fa­mí­lia, daí o pre­ço do pe­tró­leo so­be, não acham o pré-sal e o aban­do­nam. Co­mo os Es­ta­dos Uni­dos aban­do­nan­do o eta­nol. Acho que o go­ver­no de­ve­ria car­re­gar as du­as coi­sas se­pa­ra­da­men­te. Di­zer a eles: en­quan­to não acha­rem pe­tró­leo aqui, con­su­mam o eta­nol ali. Não se po­de ne­gli­gen­ci­ar is­so.
    Ce­zar San­tos — Co­mo o sr. vê a eco­no­mia de Go­i­ás?
    Sei pou­co da eco­no­mia de Go­i­ás. Aqui tem pe­cu­á­ria e agri­cul­tu­ra. E mi­ne­ra­ção for­te, que pou­ca gen­te sa­be. Di­ria que é um bom cam­po pa­ra o Ins­ti­tu­to Pro­E­co­no­mia tra­ba­lhar es­ta­tís­ti­cas e me­lho­rar a qua­li­da­de e quan­ti­da­de de in­for­ma­ções de Go­i­ás.
    Da­nin Jú­ni­or — As de­si­gual­da­des re­gi­o­nais no Bra­sil são so­lu­cio­ná­veis?
    O que in­flu­en­cia mui­to não é o eco­nô­mi­co, mas o de­mo­grá­fi­co. Uma das coi­sas mais im­por­tan­tes es­tá acon­te­cen­do no Bra­sil ho­je: a ta­xa de fer­ti­li­da­de es­tá ca­in­do. Com o pas­sar dos anos as coi­sas se es­ta­bi­li­zam. Em vez, por exem­plo, de se fa­zer mais es­co­las, é me­lhor se in­ves­tir em qua­li­da­de. Ha­ve­rá uma pro­por­ção mai­or de pes­so­as tra­ba­lhan­do. A de­mo­gra­fia vai aju­dar mui­to a re­sol­ver os pro­ble­mas de de­si­gual­da­de so­ci­al. Mo­ro em Hi­gi­e­nó­po­lis, em São Pau­lo, e lá há mais ca­chor­ro do que cri­an­ça. Tem mais pet shop do que lo­jas de coi­sas in­fan­tis.
    Eve­ral­do Lei­te — O que o sr. acha das su­pe­rin­ten­dên­cias de de­sen­vol­vi­men­to das re­gi­ões?
    Acho que é uma for­ma de os Es­ta­dos te­rem mais in­flu­ên­cia. Mo­rei nos Es­ta­dos Uni­dos e lá a po­lí­cia é mu­ni­ci­pal, a jus­ti­ça é mu­ni­ci­pal. Vo­cê vê des­cen­tra­li­za­ções. A des­cen­tra­li­za­ção é fun­da­men­tal num pa­ís enor­me co­mo o Bra­sil. Con­tro­lar is­so tu­do pe­lo pa­ís é um gran­de equí­vo­co.

Selzy Quinta

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Vídeo - Presidente do SIAGESPOC critica Segurança Pública em MT

O presidente do Sindicato dos Investigadores da Polícia Civil e Agentes Prisionais de Mato Grosso (SIAGESPOC/MT) , Cledison Gonçalves da Silva, critica falta de planejamento do Governo do Estado para a Segurança Pública.

 

Caldeirao Politico

Selzy Quinta

sábado, 21 de fevereiro de 2009

Entrevista: Jarbas Vasconcelos O PMDB é corrupto

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Revista VEJA | Edição 2100 | 18 de fevereiro de 2009

Senador peemedebista diz que a maioria dos integrantes do seu partido só pensa em corrupção e que a eleição de José Sarney à presidência do Congresso é um retrocesso

Otávio Cabral

Cristiano Mariz

"A maioria se incorpora a essas coisas pelas quais os governos vêm sendo denunciados: manipulação de licitações, contratações dirigidas, corrupção em geral"

A ideia de que parlamentares usem seu mandato preferencialmente para obter vantagens pessoais já causou mais revolta. Nos dias que correm, essa noção parece ter sido de tal forma diluída em escândalos a ponto de não mais tocar a corda da indignação. Mesmo em um ambiente político assim anestesiado, as afirmações feitas pelo senador Jarbas Vasconcelos, de 66 anos, 43 dos quais dedicados à política e ao PMDB, nesta entrevista a VEJA soam como um libelo de alta octanagem. Jarbas se revela decepcionado com a política e, principalmente, com os políticos. Ele diz que o Senado virou um teatro de mediocridades e que seus colegas de partido, com raríssimas exceções, só pensam em ocupar cargos no governo para fazer negócios e ganhar comissões. Acusa o ex-governador de Pernambuco: "Boa parte do PMDB quer mesmo é corrupção".

O que representa para a política brasileira a eleição de José Sarney para a presidência do Senado? É um completo retrocesso. A eleição de Sarney foi um processo tortuoso e constrangedor. Havia um candidato, Tião Viana, que, embora petista, estava comprometido em recuperar a imagem do Senado. De repente, Sarney apareceu como candidato, sem nenhum compromisso ético, sem nenhuma preocupação com o Senado, e se elegeu. A moralização e a renovação são incompatíveis com a figura do senador.

Mas ele foi eleito pela maioria dos senadores. Claro, e isso reflete o que pensa a maioria dos colegas de Parlamento. Para mim, não tem nenhum valor se Sarney vai melhorar a gráfica, se vai melhorar os gabinetes, se vai dar aumento aos funcionários. O que importa é que ele não vai mudar a estrutura política nem contribuir para reconstruir uma imagem positiva da Casa. Sarney vai transformar o Senado em um grande Maranhão.

Como o senhor avalia sua atuação no Senado? Às vezes eu me pergunto o que vim fazer aqui. Cheguei em 2007 pensando em dar uma contribuição modesta, mas positiva – e imediatamente me frustrei. Logo no início do mandato, já estourou o escândalo do Renan (Calheiros, ex-presidente do Congresso que usou um lobista para pagar pensão a uma filha). Eu me coloquei na linha de frente pelo seu afastamento porque não concordava com a maneira como ele utilizava o cargo de presidente para se defender das acusações. Desde então, não posso fazer nada, porque sou um dissidente no meu partido. O nível dos debates aqui é inversamente proporcional à preocupação com benesses. É frustrante.

O senador Renan Calheiros acaba de assumir a liderança do PMDB... Ele não tem nenhuma condição moral ou política para ser senador, quanto mais para liderar qualquer partido. Renan é o maior beneficiário desse quadro político de mediocridade em que os escândalos não incomodam mais e acabam se incorporando à paisagem.

O senhor é um dos fundadores do PMDB. Em que o atual partido se parece com aquele criado na oposição ao regime militar? Em nada. Eu entrei no MDB para combater a ditadura, o partido era o conduto de todo o inconformismo nacional. Quando surgiu o pluripartidarismo, o MDB foi perdendo sua grandeza. Hoje, o PMDB é um partido sem bandeiras, sem propostas, sem um norte. É uma confederação de líderes regionais, cada um com seu interesse, sendo que mais de 90% deles praticam o clientelismo, de olho principalmente nos cargos.

Para que o PMDB quer cargos? Para fazer negócios, ganhar comissões. Alguns ainda buscam o prestígio político. Mas a maioria dos peemedebistas se especializou nessas coisas pelas quais os governos são denunciados: manipulação de licitações, contratações dirigidas, corrupção em geral. A corrupção está impregnada em todos os partidos. Boa parte do PMDB quer mesmo é corrupção.

Quando o partido se transformou nessa máquina clientelista? De 1994 para cá, o partido resolveu adotar a estratégia pragmática de usufruir dos governos sem vencer eleição. Daqui a dois anos o PMDB será ocupante do Palácio do Planalto, com José Serra ou com Dilma Rousseff. Não terá aquele gabinete presidencial pomposo no 3º andar, mas terá vários gabinetes ao lado.

Por que o senhor continua no PMDB? Se eu sair daqui irei para onde? É melhor ficar como dissidente, lutando por uma reforma política para fazer um partido novo, ao lado das poucas pessoas sérias que ainda existem hoje na política.

Lula ajudou a fortalecer o PMDB. É de esperar uma retribuição do partido, apoiando a candidatura de Dilma? Não há condições para isso. O PMDB vai se dividir. A parte majoritária ficará com o governo, já que está mamando e não é possível agora uma traição total. E uma parte minoritária, mas significativa, irá para a candidatura de Serra. O partido se tornará livre para ser governo ao lado do candidato vencedor.

O senhor sempre foi elogiado por Lula. Foi o primeiro político a visitá-lo quando deixou a prisão, chegou a ser cotado para vice em sua chapa. O que o levou a se tornar um dos maiores opositores a seu governo no Congresso? Quando Lula foi eleito em 2002, eu vim a Brasília para defender que o PMDB apoiasse o governo, mas sem cargos nem benesses. Era essencial o apoio a Lula, pois ele havia se comprometido com a sociedade a promover reformas e governar com ética. Com o desenrolar do primeiro mandato, diante dos sucessivos escândalos, percebi que Lula não tinha nenhum compromisso com reformas ou com ética. Também não fez reforma tributária, não completou a reforma da Previdência nem a reforma trabalhista. Então eu acho que já foram seis anos perdidos. O mundo passou por uma fase áurea, de bonança, de desenvolvimento, e Lula não conseguiu tirar proveito disso.

A favor do governo Lula há o fato de o país ter voltado a crescer e os indicadores sociais terem melhorado. O grande mérito de Lula foi não ter mexido na economia. Mas foi só. O país não tem infraestrutura, as estradas são ruins, os aeroportos acanhados, os portos estão estrangulados, o setor elétrico vem se arrastando. A política externa do governo é outra piada de mau gosto. Um governo que deixou a ética de lado, que não fez as reformas nem fez nada pela infraestrutura agora tem como bandeira o PAC, que é um amontoado de projetos velhos reunidos em um pacote eleitoreiro. É um governo medíocre. E o mais grave é que essa mediocridade contamina vários setores do país. Não é à toa que o Senado e a Câmara estão piores. Lula não é o único responsável, mas é óbvio que a mediocridade do governo dele leva a isso.

"O marketing de Lula mexe
com o país. Ele optou
pelo assistencialismo,
o que é uma chave para
a popularidade em
um país pobre.
O Bolsa Família é
o maior programa
oficial de compra
de votos do mundo"

Mas esse presidente que o senhor aponta como medíocre é recordista de popularidade. Em seu estado, Pernambuco, o presidente beira os 100% de aprovação. O marketing e o assistencialismo de Lula conseguem mexer com o país inteiro. Imagine isso no Nordeste, que é a região mais pobre. Imagine em Pernambuco, que é a terra dele. Ele fez essa opção clara pelo assistencialismo para milhões de famílias, o que é uma chave para a popularidade em um país pobre. O Bolsa Família é o maior programa oficial de compra de votos do mundo.

O senhor não acha que o Bolsa Família tem virtudes? Há um benefício imediato e uma consequência futura nefasta, pois o programa não tem compromisso com a educação, com a qualificação, com a formação de quadros para o trabalho. Em algumas regiões de Pernambuco, como a Zona da Mata e o agreste, já há uma grande carência de mão-de-obra. Famílias com dois ou três beneficiados pelo programa deixam o trabalho de lado, preferem viver de assistencialismo. Há um restaurante que eu frequento há mais de trinta anos no bairro de Brasília Teimosa, no Recife. Na semana passada cheguei lá e não encontrei o garçom que sempre me atendeu. Perguntei ao gerente e descobri que ele conseguiu uma bolsa para ele e outra para o filho e desistiu de trabalhar. Esse é um retrato do Bolsa Família. A situação imediata do nordestino melhorou, mas a miséria social permanece.

A oposição está acuada pela popularidade de Lula? Eu fui oposição ao governo militar como deputado e me lembro de que o general Médici também era endeusado no Nordeste. Se Lula criou o Bolsa Família, naquela época havia o Funrural, que tinha o mesmo efeito. Mas ninguém desistiu de combater a ditadura por isso. A popularidade de Lula não deveria ser motivo para a extinção da oposição. Temos aqui trinta senadores contrários ao governo. Sempre defendi que cada um de nós fiscalizasse um setor importante do governo. Olhasse com lupa o Banco do Brasil, o PAC, a Petrobras, as licitações, o Bolsa Família, as pajelanças e bondades do governo. Mas ninguém faz nada. Na única vez em que nos organizamos, derrotamos a CPMF. Não é uma batalha perdida, mas a oposição precisa ser mais efetiva. Há um diagnóstico claro de que o governo é medíocre e está comprometendo nosso futuro. A oposição tem de mostrar isso à população.

"Eu fui oposição ao governo militar e me lembro de que Médici era endeusado no Nordeste. Mas ninguém desistiu de combater a ditadura.
A popularidade de Lula não deveria ser motivo para a extinção da oposição"

Para o senhor, o governo é medíocre e a oposição é medíocre. Então há uma mediocrização geral de toda a classe política? Isso mesmo. A classe política hoje é totalmente medíocre. E não é só em Brasília. Prefeitos, vereadores, deputados estaduais também fazem o mais fácil, apelam para o clientelismo. Na política brasileira de hoje, em vez de se construir uma estrada, apela-se para o atalho. É mais fácil.

Por que há essa banalização dos escândalos? O escândalo chocava até cinco ou seis anos atrás. A corrupção sempre existiu, ninguém pode dizer que foi inventada por Lula ou pelo PT. Mas é fato que o comportamento do governo Lula contribui para essa banalização. Ele só afasta as pessoas depois de condenadas, todo mundo é inocente até prova em contrário. Está aí o Obama dando o exemplo do que deve ser feito. Aqui, esperava-se que um operário ajudasse a mudar a política, com seu partido que era o guardião da ética. O PT denunciava todos os desvios, prometia ser diferente ao chegar ao poder. Quando deixou cair a máscara, abriu a porta para a corrupção. O pensamento típico do servidor desonesto é: "Se o PT, que é o PT, mete a mão, por que eu não vou roubar?". Sofri isso na pele quando governava Pernambuco.

É possível mudar essa situação? É possível, mas será um processo longo, não é para esta geração. Não é só mudar nomes, é mudar práticas. A corrupção é um câncer que se impregnou no corpo da política e precisa ser extirpado. Não dá para extirpar tudo de uma vez, mas é preciso começar a encarar o problema.

Como o senhor avalia a candidatura da ministra Dilma Rousseff? A eleição municipal mostrou que a transferência de votos não é automática. Mesmo assim, é um erro a oposição subestimar a força de Lula e a capacidade de Dilma como candidata. Ela é prepotente e autoritária, mas está se moldando. Eu não subestimo o poder de um marqueteiro, da máquina do governo, da política assistencialista, da linguagem de palanque. Tudo isso estará a favor de Dilma.

O senhor parece estar completamente desiludido com a política. Não tenho mais nenhuma vontade de disputar cargos. Acredito muito em Serra e me empenharei em sua candidatura à Presidência. Se ele ganhar, vou me dedicar a reformas essenciais, principalmente a política, que é a mãe de todas as reformas. Mas não tenho mais projeto político pessoal. Já fui prefeito duas vezes, já fui governador duas vezes, não quero mais. Sei que vou ser muito pressionado a disputar o governo em 2010, mas não vou ceder. Seria uma incoerência voltar ao governo e me submeter a tudo isso que critico.

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