quinta-feira, 24 de maio de 2012

CPI deixa escapar "envolvimento nacional" da Delta

Deputado do DEM diz ter tido acesso a provas de que Cláudio Abreu podia movimentar conta da matriz da construtora, no Rio

Por Elder Dias

O empresário Carlos Augusto Ramos, ou simplesmente Carlinhos Cachoeira, ficou calado durante todo seu depoimento à CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito), na terça-feira, 22. Mas a sessão que o questionou abriu a possibilidade de alteração de rumos dos trabalhos da comissão, que investiga a relação suspeita dele com os poderes público e privado.

Ao perguntar sobre a relação de Cachoeira com a construtora Delta — que seria o braço legal de seu negócios, segundo a Polícia Federal —, Ônix Lorenzoni (DEM-RS) cometeu uma inconfidência: o deputado disse ter tido acesso a provas de que o ex-diretor da Delta no Centro-Oeste, Cláudio Abreu, tinha sinal verde para mexer também em contas da matriz da empresa, no Rio. Relator da CPI, Odair Cunha (PT-MG) confirmou a informação e complementou: o fato abre caminho para que a construtora seja investigada nacionalmente.

"Na medida em que se identificou que a Delta nacional autorizou que Cláudio Abreu movimentasse contas da construtora por procuração, há um indício forte de que toda a diretoria e a presidência [da Delta] tinham ciência e consentiram com Cláudio Abreu. As contas da Delta nacional movimentadas por ele foram instrumentos de transferência de dinheiro para empresas laranja ou empresas ligadas à organização criminosa", declarou Cunha. A probabilidade de quebra de sigilos — fiscal, bancário e telefônico — da matriz da construtora também aumentou muito, de acordo com o petista.

Isso significa que a estratégia de restringir as investigações ao Centro-Oeste tem grandes chances de mudar, conforme parte dos integrantes da CPI já havia solicitado. Cunha já se negou a colocar em votação requerimento de ampliação das quebras de sigilos da Delta nacional, dizendo que era preciso focar e limitar a apuração, ao menos inicialmente, ao Centro-Oeste.

O fato de Cachoeira ficar calado também levou aos parlamentares a entenderem que a estratégia de apostar em depoimentos de réus pode ser perda de tempo. Isso porque a maioria espera que o silêncio seja adotado também por outros depoentes. Ao contrário: a sabatina pode ajudar a defesa dos acusados — durante o depoimento de Carlos Cachoeira, parlamentares perceberam que estariam apenas permitindo a seu advogado, Márcio Thomaz Bastos, tomar nota das perguntas e preparando seu cliente para eventual volta à CPI.

* Com informações do "Valor Econômico"

Fonte: Jornal Opção

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