quinta-feira, 5 de abril de 2012

Cultura ou....?

por Onofre Ribeiro em colaboração

No último domingo abordei aqui as questões da cultura e do turismo para o evento da Copa do Mundo de 2014 em Cuiabá. Confesso-me surpreso com o nível das manifestações que recebi. A questão cultural pensando na copa é muito mais séria do que poderia imaginar. Mesmo considerando que a cultura cuiabana está vivendo uma baita crise de identidade. Está muito ruim. A questão do turismo será tema do próximo artigo. Recebi muitas e muito boas informações a respeito.

Mas vamos à cultura que é o tema deste artigo. Cuiabá tem uma cultura rica, que veio se consolidando na última década, especialmente na música e nas artes plásticas, com algumas boas contribuições da literatura. O rasqueado tornou-se um símbolo musical de Mato Grosso, e o vale do rio Cuiabá considerado como o seu berço. Mérito de tanta gente heroica que lutou muito contra as tendências contrárias. Alguns grupos de rasqueado, de cururu e de siriri tornaram-se profissionais e já não fazem parte da política cultural do Estado. Outras ainda não, embora para isso exista uma Secretaria de Cultura e, o pior, um Conselho Estadual de Cultura...

É muito ruim ver no relatório dos projetos aprovados no Conselho, uma enorme quantidade de eventos religiosos patrocinados com o dinheiro público do Fundo Estadual de Cultura. E fica evidente um “loteamento” de áreas e de projetos dentro do Conselho, no velho estilo “este é meu, aquele é seu”. Sem contar algumas atitudes pouquíssimo republicanas do conhecimento público.

Mas é ruim também que os promotores de eventos e os chamados promotores culturais vem discriminando todas as manifestações musicais e de artes plásticas mato-grossenses, em favor de mediocridades vergonhosas vindas de fora. Se bem que a cultura local está muito desorganizada e não consegue enquadrar o Conselho Estadual de Cultura, o municipal e nem as secretarias estadual e municipal de Cultura.

O Conselho Estadual de Cultura, que gere um fundo maior, deveria estar preocupado em construir um projeto cultural específico capaz de atender à demanda de negócios que a Copa do Mundo vai gerar na área cultura. É preciso que haja dezenas de grupos musicais e de dança incentivados para atender a centenas de bares, de restaurantes, de hotéis e de eventos que virão na esteira da copa. Turista quer ver coisas da terra que visita. Rock ele ouve lá. Rasqueado, jamais. Só aqui! Ele quer ouvir o que se ouve aqui. Não existem manifestações culturais em número suficiente em área nenhuma para o evento da copa. Vai ser um caos na época.

Já os promotores de eventos culturais que discriminam a cultura local, vão ficar muito mal durante a copa, porque todos os grupos nacionais estarão comprometidos em outras capitais-sede e vão achar Cuiabá longe, quente, etc. Certamente vão preferir a comodidade do sul, do sudeste e do nordeste. Por isso é preciso desde já apoiar quem canta, quem compõe, quem vive a alma da música, das artes plásticas, da literatura nesta terra. E como tem gente boa! Falei com muita gente nestes dias. Não vou citar nomes, mas não posso deixar de registrar mágoas e mais mágoas no mundo cultural contra os descasos e a cegueira pública e política diante da cultura local. Cultura é negócio, gente! E negócio grande! O PIB da música sertaneja no Brasil, por exemplo, é uma monstruosidade de grande. Cultura e arte são elementos da identidade. Por que aqui não são, mesmo com a Copa do Mundo na nossa cara? Por isso, o título do artigo.

Agua Boa News

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