Geração Coca-Cola? Especialistas afirmam que jovens do século XXI não podem ser tachados de despolitizados e apontam novas formas para criticar o sistema INÃ ZOÉ E SARAH MOHN |
Lívia Ramirez: “somos a sociedade do descaso”
Era 29 de maio de 1992 quando grande número de estudantes ganhava destaque na mídia nacional ao se reunir para manifestar forte rejeição ao então presidente da República, Fernando Collor de Mello. Quatro meses depois, em 29 de setembro, a Câmara dos Deputados votava a abertura do impeachment contra Collor, documento contendo assinatura favorável de 448 deputados, contra 38 desfavoráveis, 23 ausências e uma abstenção. Passados exatos sete meses da primeira reunião dos jovens, o chefe do Executivo renunciava ao cargo máximo da nação, em 29 de dezembro de 1992. A pressão popular, sobretudo sob as tintas do Movimento dos Caras Pintadas, permaneceu até o Senado prosseguir com o processo que tirou o cargo de Collor e o deixou inelegível por oito anos.
Isso foi há 17 anos e o Brasil nunca mais presenciou manifestação popular semelhante. O Movimento Caras Pintadas — o nome se referia às cores verde e amarelo pintadas no rosto dos estudantes — recebeu adesão de milhares de pessoas em vários Estados brasileiros e perdurou por meses até alcançar o objetivo de sua instauração, a queda do presidente Fernando Collor de Mello. Tudo bem que em quase duas décadas a população brasileira não foi vítima de outro Plano Collor, nem de contas bloqueadas, congelamento de preços, pré-fixação de salários, muito menos de outra “maior recessão da história brasileira”. No entanto, desde que o governo Collor se exauriu, os problemas no País continuaram, inclusive muitos se acentuaram.
Fatos dignos de revoltas populares de igual ou maior magnitude poderiam ser vivenciados, por exemplo, com o Escândalo do Apagão e o aumento dos juros reais que chegou ao ápice da história, provocando um dos maiores aumentos da dívida externa brasileira — acontecimentos do final da primeira gestão de Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e início da segunda —; com a maior crise do governo Lula da Silva (PT), conhecido como “Escândalo do Mensalão” (2005/2006); e, por fim, com o recente desgaste envolvendo a descoberta de Atos Secretos do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AC) – atitude que recebeu respaldo do presidente Lula.
Poderia, mas a juventude brasileira vanguardista parece ter deixado de lado a crença de que é por meio da política que se transforma a realidade social. A instituição política caiu em descrédito tão grande que é quase consenso a apatia diante dela. Com a sociedade descrente, a consciência política é observada atualmente em raras mentes críticas e, geralmente, com formação especializada. É quase privilégio para uma parcela da classe média intelectualizada.
Pablo Kossa enxerga nos festivais independentes saída para atrair jovens a discussões políticas |
“Os jovens não se interessam por política porque não veem motivo para se interessar. É esse o ponto. Eles não sabem o que estão perdendo e também não fazem idéia do que têm a ganhar”, opina a fotógrafa e produtora cultural Lívia Ramirez, de 21 anos. Ex-estudante de Filosofia, que optou por não concluir o curso, Lívia acredita que a década de 1980 pode ser realmente considerada “década perdida”, pois instaurou no imaginário juvenil falsa liberdade com o que ela chama de “suposto” fim da ditadura militar. “Todo mundo ficou feliz, mas sem saber o que fazer após a ditadura. A geração seguinte foi criada com a liberdade do descaso, do niilismo, que ao invés de servir para jovens expressarem suas opiniões políticas, acabou tornando as pessoas vazias e sem educação sócio-política”.
Um dos aspectos que mais assusta é a consciência que o jovem do século XXI tem do descompromisso da população com o próprio País. Integrante da Comissão Organizadora do 3º Perro Loco — Festival de Cinema Universitário Latino-americano, Danilo Camilo Costa acredita que a corrupção, o jogo de interesses e, principalmente, a ineficácia das ações dos representantes políticos criou a malfadada descrença com a instituição. “Jovens não gostam de se envolver com política por achar que não adianta. Se com 15 anos de idade uma pessoa presenciava o Collor sofrer impeachment, por volta dos 30 anos essa mesma pessoa via o cara que era o demônio da sociedade, culpado por 500 problemas do país, ser eleito senador e pagar de santo numa plenária. Isso causa desânimo em qualquer pessoa”, diz Danilo, também estudante de Jornalismo da Universidade Federal de Goiás.
Na organização do Festival Perro Loco desde a primeira edição, o estudante defende que iniciativas como a que organiza contribuem para a oportunidade de discussão. Ele conta que neste ano o evento trouxe a Goiânia personagens importantes do chamado “Cinema Marginal”, da década de 1960 e 1970. Opina que através da arte — cinema, música, livros, por exemplo — e do entretenimento, é possível desenvolver discussão política e, ao mesmo tempo, atrair a participação de jovens.
“Esses eventos ajudam no acesso à informação. A arte colabora para a abertura do mundo para o jovem, que passa a se interessar por coisas que não imaginaria. O mundo do cara vai ser maior depois que ele assistir a algum filme ou ler determinado livro. E, a partir desse interesse em coisas novas, o interesse político vai sendo despertado. Afinal, a política está ligada a tudo. O fato de alguém não conseguir comprar uma guitarra, ou de a universidade dele ser ruim depende de fatores políticos”, sugere.
Também ligado a festivais independentes, o jornalista e produtor cultural da Fósforo Records, Pablo Kossa, assina embaixo. Ele explica que o Festival Vaca Amarela tem como objetivo discutir política sob a perspectiva de fazer uma cultura independente em Goiânia. Tanto que, como exemplifica, o evento não fica restrito a shows: é dividido em dois dias de apresentações musicais e dois de workshops e palestras. “Esses festivais servem para posicionar a juventude, pois têm conteúdo. Pela perspectiva meramente estética concordo que fica muito limitada, mas nosso objetivo é discutir cidadania por meio da cultura”, diz Pablo.
Neste ano, o festival levanta a bandeira do meio ambiente. Na largada do projeto, buscaram estabelecer diálogo com a população por meio do plantio de 200 mudas de no Aterro Sanitário de Goiânia. No ano passado, o tema do evento foi o uso consciente em relação às drogas. No ano anterior, voltaram-se à discussão da valorização dos espaços públicos da Capital, como o Martim Cererê. “Procuramos sempre promover ações práticas. Falta à sociedade entender a importância desses programas, que não são irrelevantes, pois atingem parcela pequena, mas significante e que precisa ser ouvida”, alerta.
Nova postura — Diretor do Instituto de Pesquisa Grupom, Mário Rogrigues informou ao Jornal Opção que há pouco tempo realizou pesquisa de mercado com 4,8 mil jovens para avaliar o grau de interesse dessa parcela da sociedade para diversos assuntos, inclusive política. O resultado, segundo ele, não foi tão surpreendente. Constatou que os jovens compõem o grupo que mais critica a classe política no Brasil. “É o grupo mais radical em suas críticas”, diz. No entanto, política ainda é algo secundário, fica atrás da dedicação do jovem aos estudos. “A partir do sétimo período da faculdade, percebemos maior interesse do jovem por leitura de jornais, notícias, inclusive relacionadas à política. Conforme passam a ler, começam a se interessar mais por trabalho e por política”, conclui com o levantamento.
A leitura que se faz dessa nova realidade é, portanto, de que a juventude atual não pode ser considerada menos politizada que os jovens da época da ditadura militar, e sim que a postura crítica adotada hoje em dia é diferente? Segundo a coordenadora de Projetos Sociais da Casa da Juventude, Vanildes Gonçalves, a resposta é sim. Ela defende como equivocada e ultrapassada a constatação de que os jovens de hoje são alienados, não possuem senso critico e formam uma geração despolitizada. “Mais do que alienação há uma desconfiança dos jovens para com a instituição política. Eles estão muito mais críticos do que alienados”, acredita.
Vanildes critica o que chama de “mitificação dos jovens da década de 1970”. A coordenadora acredita que os jovens politizados da época eram minoria, que houve vanguarda para a juventude se engajar, mas não teria sido toda geração do período empenhada na luta estudantil. “Não podemos cair no consenso de dizer que participação política é participação partidária”. Ela cita pesquisas que chegaram à conclusão de que os jovens olham com desconfiança para as instituições políticas por questões históricas da própria política brasileira, que vem sendo manchada por acontecimentos negativos envolvendo corrupção clara na atualidade.
“Se observarmos que todo movimento que se manifesta é um movimento político, que reivindica, discute, reflete opinião e que estão cheios de jovens, percebemos que há grande participação deles na política”, constata. Para ela, generalizações são sempre inoportunas. “Temos de sair do senso comum, a sociedade é que não está dando conta de olhar para o que o jovem está dizendo”, dispara.
Danilo Camilo estende o raciocínio observando que havia maior interesse dos jovens na época da ditadura militar, mas discorda que a maioria era ligada à política. Na opinião dele, o inimigo da época era claro: o governo militar. Havia em quem colocar a culpa pelas mazelas sociais. Atualmente, a questão seria mais complexa. “A briga ficou mais diluída. Hoje, a Globo sozinha não é o problema da comunicação no país. O DEM não é o partido de direita corrupto que quer só lucrar, nem o PSOL é formado por comunistas que querem transformar o Brasil num país socialista”, critica.
Na opinião do estudante, hoje em dia outras bandeiras são levantadas a favor do engajamento político. Sem crença na luta político-partidária, o jovem se apega, por exemplo, a causas ambientais para tentar melhorar o mundo. “Eles vão em busca de pequenas coisas, que são políticas também, mas de outra maneira”. Ele acredita que para o jovem se interessar mais por política é preciso que a questão seja pensada sem saudosismo e de maneira atualizada. “Não tem como haver embate entre comunistas e direitistas. O Brasil não funciona mais assim e uma discussão dessas não vai muito longe”. Defende também a ampliação de informação sobre o que acontece dentro dos cômodos político-partidários para os jovens entenderem como funciona a política e a importância dela para a vida deles. “O debate na mídia fica muito restrito aos escândalos, corrupções, brigas de partido. Mesmo com os escândalos, é preciso entender que a Política é fundamental”, salienta.
Desinteresse — Se por um lado alguns defendem que em qualquer época há na sociedade grupos de pessoas completamente despolitizadas, não deixa de assustar que a grande maioria dos cérebros juvenis da atualidade corra longe, inclusive da reportagem, quando o assunto é política. Por puro preconceito, desinformação ou apenas desinteresse, como bem atesta Thaís Nunes, 21, estudante de Pedagogia. “Voto mesmo por votar, porque é obrigatório. Não acredito que alguma coisa vá mudar com meu voto”.
A jovem é enfática ao afirmar que não possui nenhum interesse em votar, muito menos em acompanhar acontecimentos políticos. Faz questão de ficar à parte do assunto e não lembra sequer em quem votou na última eleição, realizada no ano passado. A colega de curso Wellida Carolina, 17, demonstra a mesma repulsa pelo assunto. Garante que vai adiar enquanto puder a participação em pleitos eleitorais. “Não me interessa, aliás, nunca me interessou”, declara.
Jeferson Santos, 18, estudante, sugere que se mudar o perfil de quem se candidata a cargos eletivos, será possível mudar também o interesse de quem vota. Enquanto isso, orienta os representantes políticos a “se interessar em melhorar o País, e não apenas o salário deles”. Na mesma linha de pensamento, o estudante de Publicidade e Propaganda Gustavo Fernandes, 21, dispara que os jovens se desiludiram tanto que não levam nada relacionado à política a sério. “Os jovens hoje, que tentam recorrer a seus direitos, apanham, como os que reivindicaram a renúncia de Sarney da presidência do Senado”.
Como incremento do descrédito, a estudante Kelly Cristina Silva, 26, critica o assistencialismo do governo Lula através de incentivos populares como o Bolsa Família. “É uma muleta, um projeto eleitoreiro para a base eleitoral do Lula, formada por um pessoal de baixa renda”, diz. Fernanda Soares, 18, relata que optou por se abster das eleições em que poderia votar facultativamente por não observar nenhuma candidatura que a interessasse. “Quero votar, mas quero ter interesse de pesquisar e avaliar um candidato, o que ainda não aconteceu. O sistema ficou rotineiro, alienado, desinteressante”.
Na opinião da jornalista Angélica Vieira, que trabalha diretamente com jovens no Colégio Classe, a apatia é um círculo vicioso. “Os jovens não acreditam na política por causa da corrupção institucionalizada, e o quadro não muda exatamente porque quem poderia mudar — o eleitor e, principalmente, o eleitor jovem — não quer se envolver, pois não acredita no sistema corrupto”, sintetiza. Para Angélica, antes da ditadura militar os jovens se interessavam pela política porque acreditavam na instituição como ferramenta de transformação da realidade. “A consciência crítica era desenvolvida e o sentido de pertencer a uma nação era mais aguçado. Hoje, o povo brasileiro não se engaja porque foi vítima de 20 anos de ditadura que nos ensinou a calar”.
Motivador para os jovens voltarem a se interessar por política, de acordo com a jornalista, deve partir da escola, desde o ensino fundamental com eleição para representante da sala, por exemplo, para o indivíduo aprender na pratica o que é política. Ela acredita que um centro acadêmico forte pode lutar por mudanças que nem a direção de um colégio ou a reitoria de uma universidade tem vontade de lidar com o problema. “É mais fácil enquadrar com retaliação quem pensa e se expressa de verdade do que ter que repensar todo o sistema, inclusive de ensino. Mas acho que a mudança já começou e os jovens vão acabar se envolvendo mais”. Como exemplo, ela cita o terceiro setor — as Organizações Não-Governamentais (ONGs) —, que apesar de ainda contaminado pela corrupção institucionalizada abre caminhos de atuação.
All Star, meio ambiente e política
Thaís Nunes, 21, e Wellida Carolina, 17, estudantes de Pedagogia, levantam a bandeira contra o obrigatório. Elas não acreditam na transformação da sociedade por meio das instituições políticas |
“Não me interesso por esse assunto”. “Político é tudo igual, depois que entra no poder só pensa nele mesmo”. “Só roubalheira, é isso que virou o Brasil”. As declarações em tom quase que de desabafo são repedidas dia após dia em filas de banco, no ônibus, no fim de tarde no botequim, enfim, já virou uma mania comum e ganhou tom um tanto quanto vazio. A descrença generalizada da população quando o assunto em pauta é a política, e suas consequências sociais, tem preocupado especialistas que veem a necessidade da construção de novos discursos que atraiam o eleitorado para o debate.
O jovem, principalmente, tem se mostrado por diversas vezes alheio a todo o processo, negligenciando a necessidade de interferir nos rumos tomados pelos governantes. Para os que fizeram parte dos movimentos estudantis no período da ditadura militar, quando as manifestações, articulações e lutas por direitos chegaram a extremos, ver a pulverização, ou até mesmo a falta de ideologias na moçada causa no mínimo estranheza.
Não se pode negar que o processo político no País tem características próprias e vem sofrendo mudanças ao longo dos anos, mesmo que sejam por diversas vezes minimizados. O jovem neste contexto pode ser visto de dois panoramas básicos, aponta o cientista social Mauro Victoria Soares. “Existe o apático e desinteressado e do outro lado, o que tem a oportunidade de participar e atua até mais que em outras épocas. Esses dois perfis devem ser levados em consideração inclusive por se misturarem”, ressalta.
Para Soares, que é professor da Universidade Federal de Goiás (UFG), a falta aparente de interesse pelas causas políticas é até certo ponto natural e faz parte do processo democrático a que o País vem sofrendo. Repetindo um bordão comum entre os especialistas, ele diz que durante o regime militar era mais fácil se posicionar politicamente, inclusive pela própria opressão característica do período.
Em uma democracia onde as questões são múltiplas o jovem acaba tendo dificuldades de se encontrar em determinado grupo e formular adequadamente suas demandas. “Ele prefere abrir espaço para aqueles que de alguma forma estão mais engajados”. Como em toda mudança, o cientista político diz que são necessárias adaptações. Em um regime aberto, mesmo com limitações, é possível realizar discussões e articulações que podem refletir positivamente na sociedade. “Talvez as transformações não venham de forma tão rápida, mas dentro das vias institucionais”, destaca.
Ser politizado então saiu de moda? Para o historiador Ademir Luiz, sim. Segundo ele, alguns jovens continuam na arena fazendo um trabalho muito sério, mas que não repercute da forma que se espera. “Creio que o grande problema é de jargão”. Boa parte dessas lideranças estudantis continua agindo como se estivessem nos anos 60, lutando contra o regime ditatorial. “Às vezes o debate sério que pretendem promover se torna engraçado por conta do vocabulário datado, das palavras de ordem ultrapassadas”, repara. Como resultado, muitos não se envolvem.
Luiz, porém não culpa o novo eleitor pelo fato de ser desinteressado por causas que aparentemente não dizem respeito a ele. Assim como Soares, o historiador nota que o modelo vigente não estimula a participação efetiva. “Pergunte a um jovem de 16 anos se ele prefere votar ou dirigir. E como explicar a ele que, após completar 18 anos, é obrigado a exercer o direito do voto?”. Além disso, ele nota que o público juvenil, ao menos no discurso, é careta e tradicionalista. “É muito comum que um rapaz tatuado, cabeludo, cheio de metal pelo corpo, seja contra o aborto e frequente algum culto religioso aos domingos”, dispara.
Mesmo com todas as ferramentas de comunicação à mão falta maior interação entre governantes e população. Uma tradição democrática madura. Como exemplo disso ele lembra a relação que há nos Estados Unidos entre congressistas e os jovens eleitores. O tratamento diz tudo: “meu congressista”. Pressupõe que o parlamentar existe para atender a comunidade. É um servidor público. “No Brasil, tratamos políticos como celebridades”, contesta.
Fim da política tradicional — A maneira de se fazer política, se não está mudando, deveria. Vários fatores levam a crer que o modelo adotado já não atinge o eleitorado como se espera e isso tem trazido prejuízos tanto para candidatos quanto para os maiores interessados, ou seja, a população. Com tantas distrações e ferramentas tecnológicas à disposição, entre elas a internet, a juventude tem se mostrado muito mais voltada para causas pessoais — a formação profissional e uma boa colocação no mercado de trabalho, na melhor das hipóteses — do que para discutir ideologias.
O publicitário Renato Monteiro, da Cantagalo Comunicações, observa o novo militante como alguém mais voltado para causas que focam, por exemplo, questões ambientais, raciais e artísticas, fugindo ao modelo dos movimentos estudantis. A participação, mais individualista, segundo ele, tem sido quase que de forma virtual, mas não menos poderosa. “Talvez vamos aprender uma nova maneira de atuar como cidadãos”, analisa.
Monteiro admite que os profissionais da publicidade e do marketing ainda estão aprendendo a lidar com este novo cenário, onde tudo ocorre de forma muito rápida. Apesar de a TV ser ainda o grande veículo de comunicação, ele nota crescimento surpreendente da internet e seus efeitos, principalmente nos jovens, o que tem feito com que repensem as formas de atuação.
Ele diz que na rede cresceram muito as ferramentas como o Twitter, o Facebook e o Orkut, que são importantes para a comunicação, mas que ainda é algo novo a ser experimentado. “Recentemente fizemos uma pesquisa qualitativa em Mineiros e apuramos que 34% dos entrevistados acessam a internet. Eles se mostraram totalmente antenados nas notícias a partir desse veículo, que inclusive já atinge os demais”, exemplifica.
Fazendo um parâmetro, com a geração de militância nos tempos de repressão, o publicitário diz que havia grande participação, atuação, discussão organizada por pensamentos ideológicos, mas sofriam com a falta de veículos e instrumentos para se comunicar. “Para mobilizar uma categoria de operários era uma dificuldade. Quando se tinha ferramentas à disposição eram a máquina de datilografia e o mimeógrafo”, lembra.
Hoje, ele vê menos organizações ideológicas e correntes partidárias pouco articuladas, mas com a facilidade muito grande de circular a informação. “Isso, porém, não quer dizer que estejam ausentes, apáticos e alienados. O modo de fazer política é que talvez esteja defasado. Até porque em vários assuntos que têm afinidade, vemos grandes movimentações, principalmente na rede”.
Entre as estratégias pensadas para atingir este grupo, que apesar de fazer parte de uma mesma faixa etária é bastante eclético, Monteiro diz que é necessário realizar uma fragmentação de forma a atingir públicos específicos. “O que se vê são ‘tribos’ que têm suas formas de linguagem e pensamento. A movimentação da sociedade tem sido muito mercadológica e inflacionada, com isso vemos ser essa a melhor maneira de agir”.
Marcos Vinícius Queiroz, Consultor de Comunicação, faz uma breve análise da realidade do jovem no País e lembra que três recentes pesquisas de institutos conceituados trazem dados que comprovam o crescimento da participação desse eleitorado nas questões políticas brasileiras.
Bem articulado e com ampla experiência na área, ele observa que as estratégias de campanhas eleitorais para 2010 trazem fatores antes pouco trabalhados, mas que devem vir como carros chefes de partidos que já notaram necessidade de novos discursos. A questão ambiental, segundo ele, lidera as discussões a serem levantadas, principalmente para atrair o público jovem que representa hoje quase 50% do eleitorado.
Apesar dos números apontarem maior interesse político por parte da juventude, o consultor critica o processo, que no parecer dele, tem causado alienação na sociedade. Políticos para se protegerem de críticas, têm se recolhido a ações contidas e evitado discursos ácidos que possam prejudicar de alguma maneira a imagem de bons moços. Isso por sua vez, tem afastado o eleitor de seu representante e feito com que se amplie o sentimento de apatia. “Como que alguém que não participou do debate vota? A verdade é que infelizmente acaba fazendo uma análise superficial e adotando parâmetros que não são ideais nessa situação”.
Ele ressalta que os partidos ou candidatos que tentam de alguma forma fazer um trabalho diferenciado ainda não têm ganhado a visibilidade necessária, além de sofrerem pressões por parte das estruturas tradicionais. Para que essa realidade mude e a influência da “rapaziada” ganhe força, ele aponta a necessidade de uma tomada de decisão.
Neste sentido, Queiroz aponta que a participação dos veículos de comunicação e movimentos organizados é essencial. “O que se viu até agora foi a modernização do voto de cabresto e dos currais eleitorais. A partir do momento que se cobre novo comportamento da classe política vamos assistir a reintegração de um processo de participação da sociedade nos debates”, frisa.
Ações descentralizadas com compromisso social
Por anos o movimento estudantil foi o ícone de luta de jovens que buscavam transformar a realidade social brasileira. O que se vê atualmente é essa forma de se fazer e pensar a política, que foi disseminada em outras frentes dotadas de objetivos também de caráter político, mas com focos, por exemplo, na qualificação da mão-de-obra, preservação ambiental e combate à discriminação racial. Temas não menos relevantes dos que ainda hoje defendidos pelos universitários. As Organizações Não-Governamentais (ONGs) são exemplo de entidades que trabalham com a mudança de paradigmas e, mesmo que a passos lentos, têm conseguido resultados positivos.
“O compromisso social existe, mas está descentralizado em outras ações. O trabalho das ONGs se fortaleceu muito em atividades voluntárias”, afirma o vereador por Goiânia Virmondes Cruvinel (PSDC). Ele, que tem forte ligação a diversos grupos jovens em Goiânia, como o Movimento Escoteiro, diz que as entidades classistas têm dado muitas vezes o respaldo necessário para que essa juventude se manifeste. “Não vejo que o movimento estudantil enfraqueceu, mas abriu leque para o desenvolvimento de outras áreas. Isso tem permitido formar novas lideranças”, ressalta.
Para o vereador, a participação do jovem tem sido expressiva inclusive na própria Câmara Municipal, onde ele observa a presença de lideranças que em um passado recente militavam em outras áreas. Ele destaca que a interação, inclusive com sugestões valiosas, tem ajudado na elaboração de projetos e realização de audiências públicas. Perguntado sobre o que ainda motiva o jovem a discutir questões políticas, Virmondes não titubeia e diz que “ainda existem lutas a serem compradas como uma posição no mercado de trabalho, a qualificação profissional e o ensino público de qualidade; e isso faz se erguer bandeiras”.
Presidente da Associação de Jovens Empresários (AJE), Marduk Duarte defende a necessidade da participação da juventude no processo político, seja partidário ou classista. Segundo ele, mesmo que os espaços ainda sejam restritos para o debate é preciso lembrar que as discussões levantadas hoje se refletirão no futuro. “No projeto da reforma tributária, por exemplo, não se ouviu os jovens empresários, justamente esses que terão que lidar com as mudanças propostas. No Comitê da Copa do Mundo, o grande incentivador da iniciativa — Fórum Empresarial Jovem — foi ouvido em parte e os resultados todos puderam ver”, frisa o empresário.
Apontando as principais dificuldades em aglutinar pessoas simpáticas à causa, Duarte diz que a inserção prematura no mercado de trabalho e o excesso de informação sem muita filtragem têm trazido um comodismo, o que atrapalha ações em conjunto. “Mesmo assim vejo que a AJE em seus três anos conseguiu muitas conquistas. Temos atualmente 2,4 mil filiados e apontamos para um futuro promissor”, comemora.
Seja ressaltando os feitos dos jovens militantes do movimento estudantil, ou mesmo analisando o que tem sido feito pelas ONGs e entidades classistas, o que se nota é a necessidade de se motivar o jovem a participar ativamente do processo político democrático. Pode parecer clichê, mas o futuro deve ser debatido no presente para que ao menos sejam suavizados os grandes problemas que ainda virão pela frente.
Pautas como meio ambiente, arte, e inserção no mercado de trabalho mostram que a política tem tomado novos rumos e que necessariamente devem ser acompanhados de perto pela juventude. Jovens esses que não devem se apegar apenas à internet como forma de se expressar, mas se utilizar das potencialidades do meio da melhor forma possível. Seja via e-mail, Orkut, Twitter, carta, telefonemas, fax, faixas, enfim, o importante é estar presente, ser mais uma voz ativa, e não simplesmente mais um a dizer que não se interessa por esse assunto e que tudo no Brasil acaba em pizza mesmo.
Jornal Opção
Selzy Quinta
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