segunda-feira, 10 de agosto de 2009

ALTO BOA VISTA - Casaldáliga aponta envolvimento de políticos com grileiros

 

   O bispo emérito de São Félix do Araguaia, Dom Pedro Casaldáliga, foi o principal responsável pelas denúncias que revelam a participação de políticos, grileiros e policiais militares no esquema de grilagem de terras indígenas na região do Vale do Araguaia, em Mato Grosso. Num dos relatos reproduzidos na denúncia do Ministério Público Federal (MPF) oferecida à Justiça, ele revela o envolvimento dos prefeitos dos municípios de São Félix do Araguaia, Filemon Gomes Costa Limoneiro (PPS), e de Alto Boa Vista, Aldecides Milhomens de Ciqueira (DEM), com o “chefe” da organização responsável por crimes relacionados à grilagem de terras, Gilberto Luiz Rezende, o Gilbertão, que teria mantido escritório em São Félix até o final de 2004.

   Conforme o MPF, Gilbertão estimulava posseiros a invadirem terras da União, inclusive da reserva indígena Marãiwatsede, ocupada por Xavantes, da qual foi desmembrada a Fazenda Suiá-Missú. Posteriormente, expulsava os ocupantes, comprando suas posses, ou por meio de violência física e psicológica. Em seguida, providenciava a emissão de títulos de domínios falsos à cartorária de São Felix do Araguaia, Maria Elizabeth Carvalho, para depois vender os lotes a médios e grandes fazendeiros e grupos empresariais. A expulsão dos posseiros era feita por policiais militares e jagunços de Mato Grosso e outros Estados.

   No relato de Casaldáliga, Aldecides e Filemon aparecem como grandes fazendeiros que compraram lotes de Gilbertão dentro da reserva indígena. O bispo relatou à PF que pessoas ligadas a Gilbertão ingressaram em uma área de preservação ambiental da Fazenda Bordolândia, entre os municípios de Bom Jesus do Araguaia e Serra Nova Dourada, e extraíram madeira. Também revela que, em dezembro de 2007, um grupo, supostamente ligado ao deputado estadual de Goiás, Samuel de Almeida (PSDB), expulsou sem-terras do Incra do assentamento Futura, em Porto Alegre do Norte, sob alegação de que eram donos da área e possuíam a determinação judicial para a reintegração de posse. Na ocasião, segundo Casaldáliga, eles alegaram que também eram policiais federais para poder expulsar os assentados.

   Outra testemunha relata que o prefeito de Acreúna (GO), Vander Carlos de Souza, agricultor e suposto sócio do vice-presidente da República, José Alencar, comprou um lote de terras na Fazenda-Suiá Missú de Gilbertão. Alencar e Vander são citados, juntamente com o deputado federal de cinco mandatos, pecuarista e empresário da comunicação Wellington Fagundes (PR), como financiadores das ações de Gilbertão. No inquérito da PF, Vander aparece também como principal fornecedor da Coteminas, de propriedade de José Alencar, maior produtor individual de algodão do mundo. Segundo o levantamento do MPF, Gilberto agiria em nome de Vander e Alencar. O vice-presidente teria se dedicado a resolver pessoalmente problemas de Vander com propriedades rurais - saiba mais aqui.

   Casaldáliga reforça que terras griladas por Gilbertão foram vendidas a conglomerados empresariais, como ao Grupo Cotril, que comprou a Gleba Novo Horizonte, e o Grupo Arroz São Jorge, proprietário da Gleba Bridão Brasileiro. Também aponta que todos da região têm envolvimento de policiais militares, reformados e da ativa, no bando de Gilbertão. Casaldáliga revela ter recebido informações de que Gilbertão oferecera R$ 60 mil a pistoleiros para assassiná-lo. Segundo o bispo, em abril de 2008, houve um tiroteio na Fazenda Laçada e, desde então, dois rapazes estão desaparecidos. “Comenta-se na região que os dois teriam sido mortos e os seus corpos jogados no Rio Belo Horizonte”, informou.

   Uma testemunha garante que Gilbertão mantinha pistoleiros na reserva indígena, dentre eles Altamiro Schneider, o Nego Schneider, que teria baleado índios da reserva.  O presidente de um dos sindicatos de trabalhos rurais da região disse, em depoimento, que Gilbertão andava com um grupo de pistoleiros armados e tentava retirar posseiros da Gleba Airton Senna. São relatados homicídios, dentre eles o de Antônio Pereira, na Gleba Porta da Amazônia, e dois na Gleba Novo Horizonte ou Fazenda Laçada, pertencente à Cotril, além de agressões na Fazenda Bridão.

   Casaldáliga foi o primeiro a denunciar a existência de trabalho escravo no Brasil, ainda em 1971. É considerado um combatente das injustiças sociais e políticas. Aos 81 anos, se dedica à defesa de índios, posseiros, negros e peões e continua morando em São Félix do Araguaia, Prelazia que conduziu por 33 anos. Hoje sofre de mal de Parkinson e de hipertensão. É autor de mais de 60 livros.
   Outro Lado
   Os prefeitos dos municípios de São Félix do Araguaia, Filemon Gomes Costa Limoneiro (PPS), e de Alto Boa Vista, Aldecides Milhomens de Ciqueira (DEM), não foram encontrados pelo RDNews para falar sobre o suposto envolvimento com grileiros. Já o deputado Wellington Fagundes mandou informar que estava em reunião com o governador Blairo Maggi. (Andréa Haddad)

Autor: RDNews

Selzy Quinta

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