domingo, 31 de maio de 2009

A vitória de Alcides

 

Por por Helvécio Cardoso

O governador vence a primeira batalha ao evitar fazer o jogo dos provocadores
O objetivo primário do deputado Carlos Leréia não foi atingido. Como ação tática visando obter um efeito político pré-estabelecido, a investida do deputado tucano foi um retumbante fracasso. As entrevistas iradas de Leréia, com seus insultos grosseiros ao governador e ao secretário Jorcelino Braga não foi um mero incidente. Foi um movimento estudado dentro de uma estratégia em curso há bastante tempo.
Toda ação desenvolvida por Leréia não passou de uma provocação. Não uma provocação inconseqüente, embora assim pareça. Alcides foi provocado para reagir de um modo tal que justificasse uma retaliação por parte do marconismo. Alcides foi provocado para declarar rompida a aliança do PP com o marconismo. Esta aliança já está vencida faz tempo, e o contrato não foi prorrogado. Mas o PSDB queria, por conveniências político-eleitorais, que a iniciativa de um rompimento traumático e beligerante partisse de Alcides.
Marconi e o PSDB ficariam, assim, no papel de vítimas. Alcides seria declarado “traidor” e “ingrato”. Perante a opinião pública e o moralismo mediano do povo, pregar no adversário a pecha de Judas é condená-lo ao inferno. Tudo foi uma manobra para estigmatizar Alcides e situá-lo como o vilão da história. Uma tática usada com êxito no passado contra Henrique Santillo, que sofreu horrores na língua ferina dos iristas. Nenhuma novidade, portanto.
Um influente político tucano, atualmente sem mandato, e que possui acesso direto ao senador, revelou a este jornal, sob compromisso de anonimato, que a estratégia dos tucanos é exatamente esta: provocar o governador para tome a iniciativa do rompimento. É por isso, por exemplo, que vários marconistas ocupantes de cargos importantes do governo não vão pedir exoneração. A orientação do senador é que fiquem onde estão, mesmo esvaziados e desprestigiados, só deixando o cargo se Alcides os exonerar.
Segundo esta fonte, “Marconi percebeu que, nos últimos tempos, vinha perdendo substância, e por isso resolveu agir”. Perder substância, no caso, quer dizer mais ou menos o seguinte: Marconi está isolado e perdendo favoritismo em pesquisas de intenção de votos que os políticos fazem para consumo interno. Essas pesquisas apontam crescimento de Íris e de Meirelles. Em uma situação como esta, a “trincheira da oposição” seria um local privilegiado para travar o combate eleitoral. Marconi, então, vestiria novamente o figurino do herói sem mácula, o valente guerreiro incompreendido e renegado por aqueles a quem amparou no passado. Em termos de marketing eleitoral, não existe nada igual.
Como já se disse, foi o que Íris Rezende fez em l990. Depois de usufruir os benefícios políticos do Governo Santillo, Íris rompeu estrepitosamente com o governador, anunciando-se candidato de oposição. PDS, PFL e PDC assistiram, impotentes, o esbulho do oposicionismo de que legitimamente detinham a posse.
A manobra de Leréia fracassou por duas razões. A primeira é que Alcides não aceitou a provocação. Ele deu respostas duras, defendeu-se das aleivosias de Leréia, sustentou suas convições, não se arreglou, manteve a altivez. Mas também fez o que os tucanos esperavam que ele fizesse. Alcides não retaliou, não ameaçou represálias. Manteve-se sereno e comedido.
A segunda razão do fracasso é que os deputados tucanos não tiveram peito de romper com o governo. Os mais afoitos, como Daniel Goulart, propunham o imediato início de operações bélicas contra o Palácio das Esmeraldas. Tudo que ele mais deseja é guerra. Teoricamente, os marconistas podem, na Assembléia, travar o governo de Alcides, já que datem a maioria numérica. O problema é que muitos deputados, marconistas pero no mucho, não querem brigar com o governo. Têm seus próprios interesses e, largar a sombra fresca do poder para sofrem sob o sol escaldante da oposição, é uma decisão que pode custar muito caro a alguns. Melhor contemporizar. Uma vez que Alcides não fez a declaração oficial de guerra, as aparências se salvaram. Chegou-se a um cessar-fogo, mas o estado de beligerância permanece. Em todo caso, a velada ameaça de ingovernabilidade com que tucanos coagiam o governo, agora se vê, nunca passou de um blefe.
...endurecerse, pero sin
perder la ternura!

Um graduado prócer tucano, membro do estado-maior marconista, falando off the record a este repórter, procura dourar a pílula. Segundo ele, a avaliação de Marconi é que o rompimento é desejado pelos hardliners do PP, não do PSDB. Marconi não quer rompimento porque, diz a fonte, precisa do PP e do DEM na sua coligação. Mas, como! Será que Marconi ainda não desconfiou que Alcides e o PP não querem mais aliança com o PSDB, e que até já têm candidato a governador? Não, Marconi ainda não desconfiou. Segundo a fonte, a avaliação do senador é que o PP, cedo ou tarde, vai se recompor com o PSDB. "Eles não têm para onde ir, o PMDB não aceita eles; então, não vai restar ourtra saída senão compor com a gente", explica didaticamente a fonte tucana. Mas, e a candidatura própria do PP? "Isso não existe. Marconi acha que Meirelles não será candidato. O Meirelles não virá. Aí, quem eles teriam para lançar?" questiona.
É, portanto, esta convição de que "Meirelles não vem", e que o PP descerá por gravidade ao PSDB, que orienta todos os movimentos táticos de Marconi e sua gente. Não é uma certeza racional, pois não se baseia em fatos. É, na verdade, um wisfull thinking, um desejo ardente de que que meras aspirações venham a se tornar realidade. É um desejo tão intenso que o estado-maior marconista sequer elaborou planos alternativos. Caso Meirelles venha mesmo, os tucanos não têm um plano B. Mas, por quê, então, a agressão de Leréia? "Olha, o Leréia tomou a iniciativa, ninguém mandou ele falar, mas ele falou por todos nós, lavou a nossa alma. Chega de ficar apanhando calado! Fica aí o Braga esculhambando a gente, e vamos deixar por isso mesmo? Claro que não! Agora, não queremos romper, mas temos que defender o nosso patrimônio político; temos ser duros, mas sem perder a ternura" - explicou a fonte, aludindo ao Che.
Enquanto os marconistas confabulavam sobre como pendurar o guizo no pescoço do gato, Alcides recebia em palácio a Bancada do PMDB e do PSC, com a ausência do peemedebista tucano Thiago Peixoto. Foi um acontecimento histórico. Nunca, em toda história republicana de Goiás, um governador convida a palácio a bancada oposicionista para dialogar.
O PMDB garantiu a Alcides aprovação a todos os projetos do governo que, a critério dos peemedebistas, consultarem os interesses públicos. Não quer dizer que o PMDB aderiu. Equivocam os que julgam que o PMDB deixou de ser oposição. Ao aceitar o diálogo com o governador e assumir o compromisso político de apoiar pontualmente o governo, o PMDB reinventa o oposicionismo, conferindo ao mister oposicionista uma nova dimensão.
Não chega a ser uma novidade. No final dos anos 50, o PSD de Pedro Ludovico ameaça boicotar o governador Juca Ludovico, pessedista. Juca é amparado pela UDN de chico de Britto e o PPS de Alfredo Nasser. Os dois foram a um encontro com o governador em Palácio. Entregaram ao governador um papel com reivindicações políticas. Caso Juca se comprometesse em atendê-las, as oposições lhe dariam suporte na assembléia Legislativa. Nasser, porém, deixou as coisas bem esclarecidas: a oposição não estava virando governo, não aceitava favores fisiológicos, e expulsaria de suas fileiras qualquer um que aceitasse benesses governamentais. Com esta conduta ética, Nasser estabeleceu o postulado segundo o qual “oposição também governa” (H.C.).

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