quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Articulista critica postura do Sindicato de Jornalistas de Mato Grosso

Editoria Mato Grosso

 

Adriana Vandoni

Libertas quae sera tamem

POR ADRIANA VANDONI

Veja só, mais uma vez um simples desabafo meu relatando toda a minha indignação com a irresponsabilidade com que o povo é tratado, virou polêmica, e agora eu soube que até entre alguns jornalistas. No dia 29 eu relatei no blog Prosa & política, a falta de um mísero comprimido de Isordil em um posto de saúde do bairro Novo Horizonte, em Cuiabá, que poderia ter salvado a vida do Senhor Valter. Relatei também as péssimas condições do Pronto Socorro de Cuiabá, que mais parece um matadouro clandestino.
Pois bem, para minha surpresa, e até consternação, esse meu desabafo foi motivo de debate entre um grupo de jornalistas dentro de uma instituição pública. Não, eles não estavam discutindo as condições da saúde pública da cidade de Cuiabá, muito menos a responsabilidade dos gestores. E eis aqui a minha consternação.
Por mais deplorável que pareça, o que ocupou os neurônios do grupo não foi o relato da falta de remédio no posto de saúde ou o ambiente funesto do Pronto Socorro de Cuiabá, muito menos a morte do Seu Valter, mas a tentativa de descobrir por que eu havia escrito aquilo.
"Será que a Adriana está virando a casaca?!?”, foi o que comentaram no grupo. Por esse raciocínio, se eu reclamo do serviço prestado pelo município, eu estou brigando com o PSDB, partido do prefeito, logo, virando a casaca e apoiando o grupo político do governador. Se faço o contrário, não tenho moral pra criticar, porque sou tucana.
Por aquelas cabeças não passou a possibilidade que a vítima poderia ser uma pessoa querida, e meu texto um desabafo de indignação diante dos atuais responsáveis pela saúde pública. Pois é, Seu Valter era motorista dos meus sogros, há 22 anos, e eu apenas não quis colocar o episódio como um fato pessoal, mesmo porque se fosse um total desconhecido, mas soubesse dos fatos como soube deste, escreveria com a mesma indignação. Já cansei de fazer isso, independente de qual partido ou governante seja o responsável pelo descaso.
Para alguns jornalistas a escrita só pode ser interpretada de duas formas: ideológica ou fisiológica. Funciona assim: ESCRITA IDEOLÓGICA = “Cicrana critica Fulano porque é seu adversário político. Mesmo que Fulano esteja cometendo um ilícito, Cicrana só pode estar escrevendo assim porque tem interesse político”. Na outra interpretação, a ESCRITA FISIOLÓGICA = “Cicrana critica Beltrano, porque foi cooptada por Fulano, que deve estar pagando pra ela fazer isso”.
Talvez isso seja a causa do famoso “Jabá” no meio jornalístico, em que Fulanos e Beltranos usam o dinheiro roubado do povo para satisfazer as necessidades fisiológicas dos Cicranos. E que se danem as injustiças do país!!! Neste caso não sei quem é mais canalha, se o vagabundo que rouba ou o salafrário que se farta do dinheiro roubado.
Ética profissional, preocupação com o próximo, compromisso social?, pra essa turminha de meia dúzia isso só é defendido até o momento que lhe abanam umas notinhas. Um carguinho, um salário, uma mesada ou um mensalinho, ou até um terreninho, refestelam o rabo tal qual uma cadela no cio. E o pior, essa meia dúzia acaba comprometendo a imagem de uma classe inteira.
Às vezes fico me perguntando o que será que lhes foi ensinado na faculdade??? Gabam-se tanto de serem jornalistas com diploma, mas não passam de massa de manobra para essa ou aquela ideologia. Não investigam ou criticam o presidente do STF embasados em fatos ou documentos. Enterram-no, simbolicamente, como protesto para pressioná-lo a decidir-se pela exigência do diploma, mas para quê? O médico serve à sociedade pra curar doentes, o advogado para fazer a defesa dos cidadãos. O que eles desejam?
A maioria dos que estavam no tal “debate sobre mim”, se negou a criticar a tentativa do diretor geral do Dnit, Luiz Pagot, de cercear a liberdade de expressão porque não tenho diploma de jornalista. Vejam só!, o umbigo deve ser muito distante para esses, porque não conseguem enxergar nem o próprio.
A causa, isto é, a defesa da liberdade não passou pela cabeça dos mais deveriam ser interessados nela [na liberdade], o que interessa é que não querem que eu escreva por não ter o tal ‘diproma’. De antemão aviso: não quero ter diploma de jornalista, não sou jornalista e jamais quis ser. Mas como cidadã tenho o direito de opinar e escrever sobre o que quer que seja. Ou não? E por isso defendo a democracia e a liberdade de expressão de qualquer ameaça, vinda de quem quer que seja, contra qualquer um.
Semanas atrás, assim que a ameaça de Pagot eclodiu e ele deixou claro que o processo contra mim era um exemplo a todos que intencionassem escrever dele, liguei para a presidente do sindicato de jornalistas do estado de Mato Grosso, por desencargo de consciência e para ver até onde ia a luta do sindicato pela liberdade de expressão, base que lastreia o exercício da profissão da classe que ela representa. Veja o que ela me disse: “Sabe o que é, a mídia às vezes exagera!”. Verdade. Juro que escutei isso da presidente do sindicato dos jornalistas do estado de Mato Grosso. Perguntei se o sindicato não iria se pronunciar, não por minha necessidade, afinal, já estou muito bem defendida e a postura do sindicato pouco ou nada interessa a mim, mas jamais imaginei que um sindicato de jornalistas iria se calar diante da declarada ameaça ao direito de liberdade de expressão.
A presidente do sindicato foi “muito compreensiva”, disse que se eu quisesse poderia ir à reunião que acontecerá no dia 12 de janeiro, daí eu poderia expor meu caso e eles se reuniriam para decidir o que fazer. Democrática a sua forma de lidar com a questão, não fosse a liberdade de expressão uma questão que não precisa da minha presença para ser discutida, mas deveria ter uma resposta dos representantes dos jornalistas. Porque eu iria a uma reunião do sindicato dos jornalistas? Prefiro discutir a liberdade de expressão neste meu espaço, independente deles.
Mas talvez essa postura tenha uma explicação. O sindicato dos jornalistas acabou de ganhar do governo do estado um terreno para construir a sua sede, além de conseguir também fazer com que alguns deputados destinem uma verbinha para a obra. (veja a foto). Entenderam como funciona? Vejam só o convite para o lançamento da pedra fundamental da sede, com a logomarca do governo do estado. Pra que lutar pela preservação do direito de expressão quando o desejo maior é possuir a própria sede?
Uma “foca” da cidade vizinha, Várzea Grande, chegou a fazer uma representação no sindicato dos jornalistas de MT, imagine, em nome de Pagot, por supostamente eu exercer ilegalmente a profissão. Caramba, que tem o fiofó com as calças? Nada, mas a coitada cometeu esse desatino. Seria o mesmo que eu apresentar uma reclamação contra um arquiteto no sindicato dos médicos! Ou representar contra ela no sindicato das prostitutas.
É a tal história, princípios, coerência, compromisso com o povo são ideais que independem de partido ou profissão. Eis a nossa diferença. Não sou orientada por isso, muito menos por dízimos governamentais.
Mas tenho esperança em um futuro melhor, apesar dessa meia dúzia.
Será que se eu me filiasse ao PT ou PR (a bola da vez para esse grupinho) eu me tornaria ídolo dessa meia dúzia? Eles tentam me enquadrar em algum estereótipo. Pois, podem desistir. Vão acabar torrando as cacholas tentando me decifrar, como já disse, sigo o lema do Chacrinha: não vim para explicar, vim para confundir.
Tomara que a tal reunião do dia 12, que eu não vou, seja para discutir não sobre mim, mas sobre a subserviência de um sindicato que usa como lema a frase: "Com as pedras do caminho construímos o nosso muro de resistência" e que na verdade não resiste a um sopro do poder. Tomara que usem a reunião para repensar a postura de um sindicato que representa uma classe séria e importante e que já foi a vanguarda na luta pelo direito à liberdade de expressão no Brasil.
(*) Adriana Vandoni é economista, especialista em Administração Pública pela FGV/RJ, articulista política do blog: www.prosaepolitica.com.br

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