sábado, 4 de agosto de 2012

ALTO BOA VISTA:Terra em transe

Decisão da Justiça determina que até o final do mês, milhares de pessoas terão que deixar área dos índios

A longa história de disputas fundiárias em Mato Grosso está prestes a ganhar um novo, e por ora imprevisível, capítulo.
Por determinação da Justiça
Federal de Mato Grosso, uma população estimada entre três e cinco mil ocupantes não-índios deverá será removida dos limites da Terra Indígena Marãiwatsede, no Araguaia.
A operação, com o apoio da Polícia Federal e da Força Nacional de Segurança, está marcada para ocorrer no final do mês e pretende encerrar um exílio imposto aos índios da etnia xavante há 46 anos.
Na semana em que o plano de desintrusão elaborado pela Funai ganhou o aval da Justiça, a reportagem do DIÁRIO esteve na região e conversou com índios, posseiros e representantes dos fazendeiros.
Ouviu, ainda, o bispo emérito de São Félix do Araguaia, Pedro Casaldáliga, testemunha dos conflitos fundiários da região desde a década de 1960.
Na localidade de Posto da Mata, um núcleo urbano encravado no coração da área homologada para os índios em 1998, conversou com moradores que prometem resistir “até a última bala”.
No campo judicial, seus representantes correm contra o tempo para tentar impedir –por meio de recursos ao STF e ao STJ- o cumprimento da desintrusão. E confiam poder provar, por meio de documentos da própria Funai, que a demarcação da área foi uma fraude.
Na única aldeia xavante, os cerca de 700 índios acompanham com ansiedade as notícias vindas dos tribunais de Cuiabá. Desde 1966, quando aviões da FAB os removeram para dar lugar a cabeças de gado, sabem que nunca estiveram tão perto de retomar suas terras.
A tarefa não será fácil. A associação que reúne os produtores locais diz ter 800 filiados. Em 2010, um levantamento da Funai apontou a existência de 68 fazendas de grande porte na área demarcada. O rebanho bovino é estimado em 300 mil cabeças.
Em Posto da Mata, 800 alunos estão prestes a iniciar o segundo semestre nas três escolas locais. Nas ruas e avenidas sem asfalto, há dezenas de pontos comerciais, que incluem supermercado, oficinas, salões de beleza.
Por teimosia, otimismo ou mesmo protesto, moradores continuavam a erguer
novas paredes. Uma faixa convocava voluntários para a construção de uma nova praça.
Com sete anos de atuação no caso, o procurador da República Mário Lúcio Avelar, hoje atuando em Goiás, diz não ter dúvidas de que o incentivo à consolidação do núcleo urbano fez parte de uma estratégia para dificultar a desintrusão. “As melhores áreas ficaram com os grandes grileiros e o resto é massa de manobra”, resume.
Seja como for, a desintrusão irá envolver pessoas que hoje têm casa,
trabalho e escola para seus filhos e netos. A incógnita é saber como irão reagir, no momento em que tiverem que deixar tudo para trás.

FONTE: DC

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