Intervenção em Brasília
GERALDO TAVARES/DC
Índios aliados dos posseiros estiveram ontem no Palácio Paiaguás para protestar contra a demarcação
Por STÉFANIE MEDEIROS
O governador Silval Barbosa irá se reunir com o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, a fim de tentar uma solução para o impasse na reserva de Marãiwatsédé, localizada na gleba Suiá Missú. A reunião está marcada para a próxima semana.
Depois de terem fechado rodovias federais e estaduais que dão acesso ao município de Alto Boa Vista, em protesto contra a ordem de desintrusão da reserva Marãiwatsédé, posseiros e índios xavantes realizaram uma reunião na tarde de ontem com o vice-governador do Estado, Chico Daltro, no palácio Paiaguás. O que ficou decidido é que, na próxima semana, em reunião com o ministro, o governo estadual irá tentar encontrar uma alternativa para a situação.
O governador Silval Barbosa ofereceu aos índios uma área de 250 mil hectares, localizada no parque estadual do Araguaia. No entanto, há uma ruptura na etnia, que está dividida entre os que concordam com a retirada dos habitantes da reserva, para que possam eles mesmos ocupá-la, e entre os que dizem que a região nunca foi habitada pela etnia e se negam a serem transferidos para ela.
Quando questionado sobre se concordariam ir para o parque do Araguaia, o cacique Paulo Cesar disse que estão esperando uma decisão do governador, para então darem resposta sobre o assunto. “Nós não estamos aqui por dinheiro, nós não queremos conflito, queremos ouvir o governador”. Segundo ele, a reserva Marãiwatsédé nunca foi ocupada por índios xavantes, pois era anteriormente região de floresta, e a etnia vive somente em áreas de cerrado e campos e é justamente nesse tipo de bioma que foram encontrados vestígios de antepassados xavantes.
Em coletiva com a imprensa, mais cedo no mesmo dia, Silval Barbosa afirmou que está colocando tudo à disposição para que não haja conflito entre índios (favoráveis à desintrusão) e posseiros. “Esperamos que se faça justiça de fato, porque estes produtores estão na área há mais de 25 anos”.
A gleba Suiá Missú abriga uma vila com mais de 2 mil habitantes, várias fazendas e regiões onde vivem pessoas realocadas pela reforma agrária. “O que queremos é a paz no nosso território e resolver essa pendência que causa um constrangimento muito grande para nós e para o governo federal”, disse o governador.
A área em questão foi declarada de ocupação tradicional indígena em 1993. A reserva de Marãiwatsédé não poderia ser habitada por brancos, de acordo com a Fundação Nacional do Índio (Funai). Por isso foi decidido pela desintrução, adiada até a demarcação final do local.
No entanto, a extrusão de todos os não-índios foi novamente retomada e decidida em última instância, sem possibilidade de recurso. De acordo com o laudo pericial da Funai, baseado em vários documentos históricos, não há dúvidas de que a reserva foi habitada por índios xavantes, que foram despojados de suas posses na década de 60.
No entanto, mesmo com a decisão final de desocupação da área, os posseiros se recusam a desistir de “suas” terras. É o que diz o produtor rural Sebastião Prado. Segundo ele, a Funai está obrigando os índios a irem para uma terra que na verdade não foi ocupada por seus antepassados, causando um conflito que pode ser evitado. Os advogados dos posseiros vão tentar, mais uma vez, reverter a homologação da área, alegando irregularidades desde o início do processo.
Fonte: Diário de Cuiabá
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