terça-feira, 30 de agosto de 2011

Estou sem mãe... Saudade é somente o que resta!!!

Por Selzy Quinta.

Eu Minha mãe, Fleuripes Alves Quinta, faleceu quarta-feira, dia 20 de Julho de 2011.

Esta data passou a marcar definitivamente minha vida.

Nunca deixarei de sentir o aperto no peito, a sensação do chão fugindo sob meus pés e da minha verdadeira raiz sendo arrancada brutalmente...

A vida parecia negar-me o oxigênio que um dia propiciara quando cheguei ao mundo, depois de abrigada durante nove meses no útero materno.

Senti-me asfixiada, sem ar...

Alguma coisa arrastou-me para o velho e silencioso fundo do poço, onde meu velho pai “também já falecido” nos ensinou que às vezes era preciso permanecer por um tempo para que se desse a renovação interior e pudéssemos retornar mais amadurecidos pelo sofrimento...

E é nele que estou nesse momento para que, quem sabe, sair renascida para essa nova etapa da minha vida. . 
Pensava que minha mãe não morreria jamais.

É claro que sabia que isso era impossível.

Mas ela sempre se manteve tão segura, com uma coragem inquebrantável, força ilimitada e vigor admirável!

Era quase impossível imaginá-la inerte...
Uma das lembranças mais remotas que surgem no meu pensamento como se fosse um filme de curta metragem, foram os constantes anos com dias difíceis, muitas dores e amarguras...

Quanto sofrimento minha eterna e amada mãezinha viveu!

No dia em que a ironia do destino nos arrancou sua vida, seu rosto estava tão bonito, com uma paz tão grande, que desejei cobri-la de beijos e abraçá-la. Seus lábios pintados discretamente contrastavam com a cor clara de sua pele que parecia dizer agora estou em paz, sem dor e sem sofrimento. 
Minha linda e doce mãe, era uma mulher culta, consciente de sua própria segurança, gostava imensamente da arte de tecer cobertas em seu velho Tear, e foi Dele que sempre tirou o sustento da sua prole por vários e vários anos, também era nele que ela tecia as vestimentas para seus filhos.

Ela era muita religiosa, sua fé e seu amor a Deus davam a ela forças pra sobreviver apesar dos sofrimentos pela vida dura que levava e pelas constantes dores que ela sentia, devido, à sua saúde já debilitada.

Suas opiniões eram declaradas com imensa transparência.

Fora criada em um ambiente de amor e muito carinho.

Minha avó era uma excelente esposa, uma mãe maravilhosa e muito dedicada à família.  Meu avô era adepto da justiça, da paz e do amor, além de um perfeito esposo e pai.

Portanto, tudo isso ficou marcado dentro da alma de mamãe, tornando-a uma excelente pessoa e exemplo de mulher!
Por tudo isso, prevalecia sua autoridade sem precisar falar alto, mesmo estando extremamente zangada, ela jamais perdia a compostura. E assim sendo, suas opiniões eram acatadas pelo carisma que ela exercia e pelo respeito que ela naturalmente conquistava
Sentava-se sempre ereta em sua cadeira preferida, “coisa que nunca consegui”. Nunca a vi deitada à tarde, mesmo em dias de domingo.

Sua postura fazia-me lembrar alguém em visita de cerimônia, porém eu sabia que mesmo estando sozinha, era esse o modo como ela convivia consigo mesma. 
Era sensível sem ser exagerada e o lado racional conduzia sua vida com mais eficácia, por isso, pergunto-me sempre o porque de deixar a sensibilidade me dominar a ponto de várias vezes ela ter precisado chamar minha atenção para o quanto isso podia me fazer sofrer.

Foi mãe de dezenove filhos, “sete nasceram prematuros e não sobreviveram”, doze nasceram normalmente, sendo sete homens e cinco mulheres aos quais ela deu tudo de si com muito amor!
No decorrer de sua vida encarou como a mais forte das guerreiras a perda de um dos filhos já com vinte e nove anos, dois anos depois perdeu também meu avô (pai dela) e meu pai; pouco tempo depois a morte ceifou mais um dos filhos com vinte e quatro anos de idade, em seguida se foi minha avó (sua mãe); e como se não bastasse viajou pra eternidade uma filha com quarenta e quatro anos; perdendo também alguns anos depois, três netos, sendo o primeiro ainda bebê, o segundo uma criança de sete anos e o terceiro já adulto.

Sofreu demasiadamente...

E eu me perguntava de onde ela tirava forças para seguir com tanta coragem apesar da saudade que expressava em lágrimas constantes, da dor imensa que transparecia em seus olhos e da obstinação em continuar vigorosa, conservando intactos, sua fé e os bons conceitos.
Era sempre verdadeira e nunca foi amável apenas para agradar.

Era amada por todos, principalmente pela família mesmo nos momentos mais críticos.

Esse fascínio que ela exercia em relação às pessoas era um mistério sedutor não só para os filhos como para todas as pessoas que conviviam com ela.

Uma mulher realmente muito especial!

Sabíamos que acima de tudo o amor que sentíamos era a sensação que realmente importava.
É imenso o conteúdo que tenho para descrevê-la, mas a emoção faz-me parar num ponto indefinido e passar a sentir suas palavras, os momentos que passamos juntas, e refletir na força de seu caráter em todas as situações.
Agora, quarenta dias após sua morte, com uma profunda saudade, desejando desesperadamente vê-la, senti-la, eu me pergunto aflita e ainda não aceitando essa realidade dura e cruel...

Mamãe morreu?

Eu não acreditava, por mais que pensasse nisso, e mesmo sabendo que todos nós vamos embora um dia...

Por essa razão volto a questionar... Mamãe morreu?!

A resposta cala fundo em minha alma, e ecoa no silencioso abismo sob os meus pés...

E agora meu Deus???
Somos nove irmãos agora, perdidos em tristezas profundas, comentando nossas vidas, falando sobre nossa mãe e pai, sobre a infância e adolescência...

Os dias e as noites são testemunhas de nossos passos ou do tempo que nos faz reconhecer perdas irreparáveis.

Fixamos os olhos uns nos outros e perguntamos perdidos com essa inacreditável e desesperante realidade...

Mamãe morreu??!

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