sábado, 9 de janeiro de 2010

Aviões de guerra e a sociedade

A Força Aérea Brasileira selecionou a aeronave de combate sueca Gripen Nove Geração (NG) para servir como o principal instrumento para a defesa de nosso espaço aéreo. Além de suas funções bélicas, ela representará a peça fundamental para o desenvolvimento de nossa aviação pelos próximos 30 anos. E a sociedade brasileira pode ganhar muito com o programa FX-2 da FAB, especialmente se for corroborada pelo Executivo a opção da Aeronáutica de aquisição do caça sueco, pois assim se abrirá para nossa indústria aeroespacial grande oportunidade de participar do projeto e do desenvolvimento de uma aeronave de combate nova e de última geração.

A última vez que o Brasil participou como parceiro no desenvolvimento de uma aeronave de combate foi no fim dos anos 70, quando um acordo firmado com indústrias italianas resultou na produção da aeronave AMX, fabricada em parceria com a Embraer. À época, esse fato foi duramente criticado por diversos setores da sociedade, sendo que chamava a atenção o fato de que o custo final de cada AMX produzido pela Embraer resultava bem maior do que o de várias aeronaves mais avançadas e já disponíveis no mercado.

Contudo, o programa AMX demonstrou que o pensamento estratégico da Força Aérea estava correto. Após sua finalização, a Embraer passou a dispor de know-how para a produção de aeronaves de alto desempenho. Esse conhecimento seria logo aplicado na recém-criada família de jatos regionais ERJ-135/145/170/190. Como resultado, a Embraer figura como a terceira maior fabricante de aeronaves civis do planeta, e uma das grandes contribuintes para o saldo positivo em nossa balança comercial.

Por esse aspecto, é importante que a sociedade possa acompanhar todo o desenrolar dos acontecimentos envolvendo o programa da compra do novo avião de combate da FAB. Nossas forças armadas precisam de uma maior integração com a indústria civil, pois os militares não são mais os possuidores isolados das tecnologias de ponta.

Do ponto de vista político, a FAB tomou outra decisão acertada, pois mesmo que seja impossível garantir a transferência de toda a tecnologia para nossa indústria, a opção pelo avião sueco representa maiores garantias de que isso possa acontecer. A Suécia é um país reconhecidamente neutro e produtor de tecnologia de ponta. Os Estados Unidos oferecem a aeronave F-18, mas o Brasil teve uma péssima experiência em uma de suas parcerias com o País. Depois de acertado que uma empresa norte- americana forneceria os radares para o Sistema de Vigilância da Amazônia (Sivam), os equipamentos chegaram apenas na configuração para o controle de tráfego aéreo, pois na última hora foi revogada a autorização da entrega do sistema em configuração plena.

A França oferece muito pouco além da entrega de um avião pronto, o Rafale, o que significa dizer que a FAB poderá até aprender a operá-lo, mas não terá acesso à concepção e produção de seus principais sistemas operacionais. O avião francês, apesar de ser uma boa opção, custa duas vezes o valor de um Gripen NG sueco.

Com o mesmo orçamento para o programa FX-2, a FAB, caso opte pelo modelo nórdico, poderá adquirir igual número de aeronaves e terá ainda garantidos os valores necessários para empreender todo seu projeto. Isso sem contar que toda a divisão aeronáutica da SAAB, responsável pelo projeto do Gripen NG, poderá vir junto no pacote e o parque industrial brasileiro poderá ter acesso a tão necessária tecnologia para a fabricação de motores a jato.

Georges de Moura Ferreira é aviador e professor de Direito Aeronáutico Internacional

Jornal O Popular

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