domingo, 11 de outubro de 2009

Mendes magoado e reinventando a política em Mato Grosso

Edilson Almeida - 24 Horas News

Empresário de sucesso, que faz questão de contar todas as vezes sua trajetória de vida, de origem  humilde do interior de Goiás, Mauro Mendes encontrou mais uma explicação para sua saída do Partido da República:  a ideologia. Só não disse se já requereu uma carteirinha. Passados pouco mais de uma semana, em que divulgou uma carta com dois parágrafos anunciado sua saída do PR, muitas perguntas não se calam. Em entrevista de uma página ao jornal  “A Gazeta”, o empresário bate na tecla do desafio, do projeto da candidatura do presidenciável Ciro Gomes e outras justificativas mais. E confirma uma mágoa dilacerante: a derrota que sofreu para Wilson Santos, na disputa pela Prefeitura de Cuiabá.

Mendes causou furor com sua decisão porque era, verdadeiramente, uma espécie de “príncipe” do PR. Antes de o partido dedicar apoio à candidatura do vice-governador Silval Barbosa, consultou-o duas vezes se ele aceitaria ser candidato ao Governo: disse que não.  Depois, antes de o partido trocar de direção, ele foi consultado se queria dirigir o PR. Também disse não. Seu “guru” político, o governador Blairo Maggi, de quem copiou até o discurso para tentar chegar a ser prefeito, deu início ao projeto de fazer o empresário prefeito de Cuiabá em 2014: lançou-o a vice na chapa de Silval. Mendes demonstrou pouco caso.

Desde o dia em que foi anunciado que deixaria o PR, Mendes tem dito algo do tipo “deixei o PR porque nesse momento tenho uma grande simpatia pelo projeto nacional do deputado federal Ciro Gomes”. Na entrevista à “Gazeta”, ele tenta ser contundente: “Deixei o partido porque me encantou muito a oportunidade de ajudar na construção de um partido. O PSB é um pequeno partido mas que tem aí muitas boas ideias e seguramente esse trabalho é um desafio grande e todo grande desafio sempre me atrai”.

As explicações do empresário, a rigor, não convencem. Tanto que todos os dias surgem tentativas de entender o que se passa na cabeça dele. Fontes do PR, por exemplo, garantem que em 2008, ano em que foi derrotado por Santos, acabou tendo que “bancar” praticamente sozinho sua candidatura. Os aliados não teriam comparecido no caixa para deixar a contribuição de campanha. De outro lado, outras versões indicam que a transferência para o PSB teria sido motivado por uma estratégia empresarial, já que o empresário estaria buscando uma fatia do mercado de metalurgia nas bases de Ciro Gomes.

Nessa transição partidária, porém, o empresário colheu  adjetivos pouco qualificados para quem quer ser governador, prefeito ou mesmo líder político. O mais leve veio do guru Blairo Maggi, que viu na virada de costas ao PR um gesto de traição do então pupilo. Maggi tentou várias vezes dissuadir o amigo de seguir com o projeto de ir para o PSB. Em vão! Por conta da atitude do amigo, Maggi cancelou o projeto de dar um tempo na política de partido e suspendeu as férias que teria com a primeira-dama Terezinha.

“Eu conversei sim como o governador, expus para ele o meu ponto de vista, o que eu penso, o que eu acredito, a minha leitura do cenário político e expus vários argumentos do porque dessa mudança. Ele não concordou com meus argumentos, concordou com alguns, descordou de outros e obviamente a democracia é isso” – afirmou, em entrevista a jornalista Sônia Fiori, publicada na edição deste domingo.

As duras críticas do governador, por outro lado, rapidamente mostraram um Mendes acuado. No mesmo dia, ele procurou o vice-governador Silval Barbosa para dizer que o apóia ao Governo. Conseqüentemente, falou que não será candidato ao Governo.  Silval disse que acreditou na conversa, mas um observador do encontro sintetizou melhor: “Foi difícil saber quem dissimulou mais”. A ponto de Silval ter proferido a seguinte frase: “Não tenho porque não acreditar na palavra dele”. 

Em verdade, Mendes acaba de inaugurar um novo jeito de fazer política. Está reinventando – quiça patenteie a idéia – o modelo tradicional. Ao dizer que não é candidato ao Governo e apóia um candidato cujo partido, o PMDB, apoiará o nome que o PT vai indicar para disputar a presidência da República, Mendes subverteu a regra mais elementar do estatuto partidário , qual  seja:  todo partido quer ter um candidato para crescer; especialmente se esse partido tem um candidato a presidente da República.

Mendes chega a ser contradiutório, inclusive na entrevista ao jornal “A Gazeta” – o que sugere que tem algo mais que não revela sobre sua saída do PR. Sobre a candidatura de Silval, ele observa:  “Sei que ele está fazendo um grande trabalho para tentar construir esse projeto e eu estarei inclusive me disponibilizando para ajudar na construção desse projeto como parceiro que fui, continuo sendo e pretendo ser”. Logo a seguir, diz que e vai discutir sua eventual candidatura em 2010 ao Governo somente em 2010. O PSB nem cogita a hipótese de não ter candidato ao Governo. 

Feitos os elogios de praxe a Silval, Mendes revela seu alvo preferencial: o prefeito Wilson Santos.  Não esconde a mágoa com os rumos da campanha de 2008. Lembra que Wilson fez dezenas ou centenas de promessas para Cuiabá e fala duro: “Eu acredito que ele deveria cumprir pelo menos uma grande parte dessas promessas antes dele pensar ou até mesmo imaginar deixar a Prefeitura. Vou lembrar inclusive de uma promessa que ele fez de que ficaria quatro anos. Ele disse para mim e vou cobrar duramente se ele deixar essa cidade cumprindo quase nada daquilo que ele prometeu para a sociedade cuiabana. Seria chutar todos os compromissos e aí isso se ternária uma grande mentira que ele contou para Cuiabá. Eu tenho certeza que a sociedade cuiabana não vai perdoar essa traição”.

Mauro é didático e ao mesmo tempo  ácido: “Pretendo cobrar duramente como acho que é o dever de todo cidadão cobrar os compromissos que os políticos fazem. Acho que a sociedade precisa cobrar mais. O cidadão tem que entender que política não se faz só na época de eleição. Se os políticos fazem muitas coisas erradas é porque o cidadão cobra pouco, exige pouco. Se todos nós começarmos a cobrar mais, prestarmos mais atenção durante os quatro anos e não só no período eleitoral naquilo que os políticos fazem, seguramente nós teríamos políticos muito melhores ou muito diferente do que nós temos aí”.

Selzy Quinta

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