Ex-funcionário denuncia orientação passada pelos inspetores aos seguranças
Foto: MidiaNews/Álbum de Família
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Vendedor ambulante Reginaldo Queiroz (destaque) foi espancado e torturadoPreconceito social e agressões são comuns dentro Shopping Goiabeiras, onde o vendedor ambulante Reginaldo Donnan dos Santos Queiroz, 31, foi espancado e torturado no dia 29 de agosto e morreu em decorrência dos ferimentos no dia 1º de setembro. A informação é de um ex-funcionário que atuava como segurança no centro comercial e preferiu pedir demissão a "ter que conviver com as regras do inspetor Jefferson Luis Lima Medeiros".
O inspetor é procurado pela Justiça e foi apontado pelos também seguranças Ednaldo Rodrigues Belo, Valdenor de Moraes e Jorge Dourado Neri, como a pessoa responsável pela maioria das agressões contra Reginaldo.
Fábio* (nome trocado a pedido do entrevistado) garante que a orientação passada pelos inspetores aos seguranças é monitorar pessoas mal vestidas e "estranhas". "Quem chega vestido de short, camiseta, boné e chinelo é vigiado. A orientação é clara. Muitas vezes isso me deixava contrariado porque você percebe que a pessoa não está fazendo nada, mas ainda assim eu tinha que ficar cuidando".
As pessoas consideradas "estranhas" por Medeiros eram as que apresentavam não ter dinheiro ou que andavam em grupos, geralmente homens. "A informação é passada pelo rádio para todo mundo ficar em alerta, mesmo que a pessoa não esteja fazendo nada".
O ex-funcionário revela que não ficou surpreso ao saber do espancamento do vendedor ambulante. Porém, dessa vez a vítima era trabalhadora e foi a óbito. "Geralmente, as surras são dadas em pessoas flagradas furtando lojas. Como elas estão erradas, terminam não registrando queixa sobre a agressão. Na maioria das vezes, o Medeiros e o Belo batiam na pessoa dentro do refeitório. Eles eram os mais violentos, principalmente o Medeiros".
Fábio cita que em uma ocasião, um rapaz foi pego furtando uma lata de leite e levado para o refeitório, onde foi humilhado e apanhou várias vezes. As agressões teriam partido do Belo, que chegou a jogar um copo de água no rosto do rapaz. "Já fazia um tempão que o rapaz estava no refeitório e ele pedia pra ir embora, mas não deixavam. Aí ele pediu um copo de água e o Belo jogou no rosto dele".
Porém, as principais reclamações são relacionadas ao comportamento de Medeiros, considerado arrogante, prepotente, truculento e metido. "Desde que ele entrou no Shopping, várias pessoas pediram demissão. Ninguém gosta dele. É uma pessoa extremamente estúpida, que não aceita conversa sobre nada. Tudo com ele é na base da ignorância".
Medeiros teria trancado Fábio na sala de segurança - onde Reginaldo foi espancado - para questioná-lo sobre o que as pessoas falavam dele pelo shopping. Isso teria ocorrido porque o segurança mantinha várias paqueras dentro do local de trabalho e teria surgido várias fofocas sobre o seu comportamento. "Ele chegou a ser proibido de passar em frente a uma loja porque estaria mexendo com uma funcionária".
Para o ex-funcionário o comportamento de poucos, compromete o currículo de todos os que atuaram como segurança no Shopping Goiabeiras. Ele explica que as agressões e preconceitos eram provocadas por alguns inspetores e a ordem tinha que ser obedecida por todos, criando um preconceito contra todos os seguranças.
"A administração não sabe que isso acontece. O procedimento violento e preconceituoso não é uma política do shopping, faz parte do comportamento de alguns inspetores. Tem muita gente legal ali dentro, muitas pessoas trabalhadoras, pessoas de bem. Mas isso suja o nome de todo mundo. Várias pessoas me perguntam se eu já fiz isso também. Queria continuar atuando como segurança, mas não sei como será, se vou arrumar emprego, porque minha Carteira de Trabalho é assina pelo Goiabeiras".
Segundo o ex-funcionário, o shopping sempre oferecia palestra sobre atendimento ao público, porém o Medeiros nunca participava as orientações. "No currículo dele tem somente "especializações" relacionadas a lutas. Uma pessoa dessa não deveria estar dentro de um shopping e sim dando aula em uma academia de artes marciais".
Espancamento - A notícia do espancamento de Reginaldo chegou até Fábio na manhã do domingo. Um dia depois das agressões. Um amigo do ex-segurança entrou em contato e perguntou se ele tinha ficado sabendo que o "Medeiros tinha matado o rapaz".
Em seguida, procurei saber o que tinha ocorrido e várias pessoas contaram que o Reginaldo apanhou muito na escadaria e dentro da sala de segurança. "Parece que eu escuto o Medeiros falando: não se mete nisso. Deixa que eu resolvo, deixa que esse assunto é comigo".
Mesmo antes de saber sobre os depoimentos dos seguranças à delegada Ana Cristina Feldner, Fábio revelou que tinha certeza da culpa de Medeiros na maioria das agressões contra Reginaldo, com apoio do Belo. "Pelo o que entendo da dinâmica do sistema de segurança, o Medeiros mandou o Jorge segurar a porta e o Valdemor estava na sala porque ele é responsável pelo monitoramento das câmeras. Ele estava apenas fazendo o serviço dele e acabou presenciando".
O ex-funcionário acredita que poderia estar preso injustamente hoje, caso estivesse de plantão no dia do espancamento. "Eu poderia ter recebido a ordem do Medeiros para segurar a porta. E quem estaria preso no lugar do Jorge seria eu. Lá o Medeiros mandava e o resto obedecia. Ninguém o questionava por causa da truculência dele. Eu acredito muito na inocência do Valdemor e do Jorge".
Depois da morte de Reginaldo, Fábio ficou amigo da família e tem tentado ajudar como pode. "Eu consegui o telefone da irmã dele e estamos conversando desde então. Fui eu que contei a eles que o Reginaldo saiu da sala dentro de um conteiner de lixo. Todo mundo viu isso e ninguém fez nada por medo".
Outro lado - A administração do Shopping Goiabeiras, por meio da assessoria de imprensa, garantiu que nenhum tipo de preconceito ou violência faz parte da política da empresa. Afirmou ainda que desconhece que existam funcionários no local que sejam truculentos com os clientes ou qualquer tipo de agressão dentro das dependências do shopping.
Segurança do Goiabeiras gravou violência em celular
Imagens mostram Jefferson Medeiros espancando Reginaldo Queiroz
Foto MidiaNews
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Acusados atribuem a Jefferson (foragido) a idéia do espancamentoADILSON ROSA
DIÁRIO DE CUIABÁUm dos seguranças do Goiabeiras Shopping acusados de homicídio gravou, em seu celular, parte do espancamento sofrido pelo o vendedor ambulante Reginaldo Donnan dos Santos Queiroz, 31, no dia 29 de agosto. O aparelho com a gravação foi entregue à delegada Ana Cristina Feldner, responsável pelas investigações. O nome de quem gravou não foi divulgado para não prejudicar o inquérito.
"A gravação mostra o Jefferson (Luiz de Lima Medeiros) espancando o ambulante na sala de segurança. A gravação é clara e mostra os ferimentos sofridos. Com isso, quer jogar a culpa maior nas costas dele (Jefferson), embora o segurança que tenha gravado participou da agressão", disse um policial que participa das investigações.
Para a delegada, todos participaram da mesma forma. "São co-autores em um homicídio triplamente qualificado", explicou. Jeferson, que deveria se apresentar na última sexta-feira, fez a delegada ficar até tarde no Cisc Verdão esperando por ele. Assim que se apresentar, o que sua defesa disse acontecer nesta segunda-feira, será preso preventivamente.
Dois dos três seguranças presos mudaram a versão sobre os fatos e confessaram o crime na sexta-feira, após novas oitivas. Os seguranças Jorge Dourado Neri e Ednaldo Rodrigues Belo negaram que Reginaldo caiu da escada e confirmaram o espancamento na sala de segurança.
O uso de qualquer objeto durante a ação, porém foi negado por ambos. No novo depoimento, eles afirmam que utilizaram socos e pontapés. "Com certeza eles viram o que a gente sabia e perceberam que não adiantava ficar com a mesma versão de queda", disse a delegada. Ela acrescentou que os seguranças não tiveram acesso às imagens das câmeras de vigilância.
Ana Cristina atribui a confissão ao impacto da prisão. "Isso acontece sempre, por isso, depois que prendemos, costumamos tomar novos depoimentos". Na nova versão, os seguranças atribuíram a maior parte das responsabilidades ao colega Jefferson.
De acordo com a delegada, os seguranças afirmaram que a iniciativa da agressão e a ideia de utilizar um contêiner para transportar Reginaldo, sem chamar atenção, foram de Jefferson, que ainda jogou um saco de lixo por cima. "Afirmaram que foi o que mais agrediu, o que não parou de bater", disse Ana Cristina.
RAQUEL FERREIRA - A GAZETA
Selzy Quinta
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