domingo, 13 de setembro de 2009

Maggi: De estuprador de floresta a amigo dos ambientalistas

24 Horas News

Revista Veja

O governador de Mato Grosso, Blairo Maggi, tem um novo perfil para ser analisado pelo Brasil e pelo mundo da política e dos negócios:  agora é apontado como o “queridinho” dos ambientalistas. Essa nova roupagem foi apresentada na edição deste final de semana da revista “Veja”. Ela lembra que o governador é um dos mais ricos políticos brasileiros – e uma admirável exceção por não ter feito fortuna na política, mas que não foi a riqueza que tornou Blairo célebre: foi o terror que inspirava nos ambientalistas do Brasil e do mundo. “Ele era considerado o mentor, o executor, o defensor da derrubada da floresta mato-grossense num ritmo chinês para o cultivo de soja” – diz a revista. Desde 2008, porém, vem-se operando uma metamorfose em Blairo. Tanto que, agora, há ambientalistas entre seus simpatizantes.

Um deles é o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc. Há apenas dezesseis meses, o ministro disse que, se o governo deixasse, Blairo plantaria soja até nos Andes. Hoje, ele já não poderia afirmar o mesmo. No último ano, o desmatamento da Amazônia caiu 47% – e boa parte disso se deve ao estado administrado por Blairo. Entre agosto de 2007 e julho de 2008, foi ceifada a cobertura vegetal de 8 200 quilômetros quadrados da região. De agosto de 2008 a julho deste ano, a devastação caiu para 4 300 quilômetros quadrados. Mato Grosso contribuiu com uma redução de 2 000 quilômetros quadrados.

"É por isso que estamos em paz com Blairo", explica Minc. "No começo da minha gestão, não dei prioridade à política ambiental. Foi o maior erro que cometi", reconhece o governador, que chegou a ser chamado de "estuprador da floresta". Antes escorraçados, os movimentos ambientalistas passaram a participar de suas decisões.

Blairo adotou bandeiras caras aos ambientalistas, como a adoção de medidas que desestimulam a pecuária extensiva, uma das principais razões do desmatamento. Também passou a advogar em prol da regularização da situação fundiária dos fazendeiros que atuam nas bordas das florestas – precondição para punir os proprietários que abrem clareiras maiores que o permitido por lei. Ela acabou sendo adotada em maio com a edição da Medida Provisória 458.

A revista conta que a metamorfose de Blairo começou em 2008, mas em 2006 ele já emitia sinais contraditórios em relação a seu discurso de "Motosserra de Ouro", título que lhe foi conferido pelo Greenpeace. Naquele ano, ele persuadiu os grandes esmagadores de soja do país a assinar a "moratória da soja". Por esse acordo, renovado neste ano, os esmagadores se comprometeram a não adquirir mais grãos oriundos de áreas recém-desmatadas. Há alguns meses, ele abraçou uma proposta da rede varejista Wal-Mart de reproduzir a iniciativa no setor de carnes. E, com o empurrão de Blairo, os maiores frigoríficos do país se comprometeram a não comprar mais bois criados em áreas de desmatamento ilegal. Maggi ainda se dispôs a fiscalizar o cumprimento do acordo.

"Há uma percepção de que Blairo Maggi mudou sua visão sobre o problema ambiental e existe um reconhecimento pelo seu esforço nesse sentido" -  diz Steve Schwartzman, da ONG Environmental Defense Fund, com sede em Washington.

Até o fim do ano, de acordo com “Veja”, o governador de Mato Grosso pretende dar a prova definitiva de sua conversão. Ele quer ser o primeiro governante a compensar financeiramente, em grande escala, quem não devasta. Propõe pagar 150 dólares aos fazendeiros por hectare de floresta preservado. O dinheiro, se tudo der certo, será fornecido por ONGs europeias e grandes empresas. Blairo diz que já tem garantidos recursos suficientes para sustentar um projeto piloto de 105 000 quilômetros quadrados no noroeste do estado, onde a floresta ainda está intacta. Esse sistema, conhecido como Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação (REDD), é defendido por ambientalistas de peso.

Blairo tenciona anunciá-lo no fim deste mês durante a Conferência Internacional de Governadores sobre o Clima Global, a ser realizada em Los Angeles. Na edição de 2008 desse encontro, o governador mato-grossense dividiu as atenções da imprensa internacional com o ator Arnold Schwarzenegger, que governa a Califórnia. O REDD lhe renderá novos holofotes. Em dezembro, Blairo fará também uma apresentação do programa na Conferência sobre Mudanças Climáticas que as Nações Unidas realizarão em Copenhague, na Dinamarca. "Blairo esverdeou", comemora Paulo Adário, um dos líderes do Greenpeace no Brasil.

“Veja” ainda observa que, apesar da metamorfose sugerir um certo romantismo, Blairo continua a agir como um homem de negócios. “Ele entendeu que o discurso de que Mato Grosso é um dos celeiros do mundo não colava mais e que o bombardeio ambientalista poderia comprometer suas empresas e o futuro do estado. Na Europa, por exemplo, alguns dos principais compradores esboçavam impor restrições à importação de soja, carne e outros produtos de Mato Grosso. Piruetas pragmáticas, aliás, não são exatamente uma novidade na biografia de Blairo. Há uma década, quando percebeu que havia compradores dispostos a pagar mais pela soja convencional, forçou toda uma região, o Chapadão do Parecis, situada no noroeste de Mato Grosso, a cultivar apenas esse tipo de lavoura. Para fazer isso, Blairo, que também é um poderoso intermediário nas transações do grão, passou a pagar menos pela soja transgênica. Com isso, exterminou a cultura geneticamente modificada” – frisa a publicação, em matéria assinada pelos jornalistas Felipe Patury, que esteve em Sapezal, cidade erguida pelo grupo de Maggi,  e José Edward, em  Cuiabá.

Comentários:

Enio Pires - 13/09/2009 11:40:00

Uma coisa me intriga: Qual o motivo que um cidadão como Blairo Maggi,sem problemas financeiros, opte por ser governador, e, de quebra, manter o ICMS mais caro do Brasil, sacrificando um estado inteiro? Quais as razões que este cidadão alega,sendo conhecedor da área, para não asfaltar os principais corredores de escoamento das safras?Cáceres-Barra do Bugres,por exemplo?Qual o motivo que o mantem intransigente em reduzir certos impostos de âmbito estadual"Quer fazer média com a mídia? E o pior,~encontra defensores,admiradores...E ELEITORES!

Selzy Quinta

Maggi: De estuprador de floresta a amigo dos ambientalistas

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