Polícia Civil leva 20 à prisão por fraudar esquema de créditos da Sema e comercializar madeira ilegalmente
Esquema acontecia em Marcelândia, onde 25 mil ha foram desmatados, através de fraudes em projetos de manejo
KEITY ROMA - Da Reportagem
A Polícia Civil prendeu 20 pessoas, entre empresários e engenheiros florestais, e desarticulou um esquema milionário de clonagem de notas fiscais, fraude no sistema de créditos florestais da Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema) e comércio ilegal de madeira, que abastecia grandes empresas do norte. O grupo teria promovido o desmate de 25 mil hectares no município de Marcelândia (712 quilômetros de Cuiabá), desmantelado através da Operação Dolly.
O juiz de Marcelândia, Anderson Candiotto, decretou o sequestro de bens e bloqueio de contas bancárias de 14 envolvidos nas ações criminosas, entre pessoas físicas e jurídicas. O Ministério Público Estadual está movendo uma ação cautelar para a futura recuperação da área devastada, que seria estimada em cerca de R$ 125 milhões, considerando o custo de R$ 5 mil por hectare.
Os presos são acusados de crime ambiental, formação de quadrilha, lavagem de dinheiro, sonegação fiscal e falsificação documental e ideológica. Além dos 20 presos, duas pessoas eram consideradas foragidas até o início da noite. Os 22 mandados de prisão foram expedidos para os municípios de Marcelândia (10), Alta Floresta (2), Sinop (8), Santa Carmem (1) e Cuiabá (1).
Entre os presos figuram pessoas já detidas durante a Operação Cupim, como o proprietário de uma transportadora de Sinop, Júlio Alberto Pereira Pinto, além de Cláudio Golizesc e Hélio Della Vedova.
As investigações realizadas pelo delegado Luiz Henrique Oliveira duraram cinco meses e revelaram dois modos de atuação distintos pelos criminosos. No esquema mais complexo, o grupo usava a empresa fantasma Adrissa Madeiras, localizada em Marcelândia, para movimentar cargas frias de madeira para grandes empresas.
O esquema começava com a fraude de projetos de manejo, por meio dos quais o bando obtinha créditos florestais junto ao Sistema de Comercialização e Transporte de Produtos Florestais (Sisflora). Então, o crédito obtido em propriedades rurais de outros municípios era utilizado para transportar madeiras retiradas de Marcelândia.
Entre outubro de 2007 e julho de 2009 a Adrissa recebeu 28 mil metros cúbicos de créditos virtuais no Sisflora e comercializou R$ 6 milhões. Apesar da movimentação, desde setembro a unidade está embargada pelo Ibama e sem produzir, segundo o delegado da cidade.
O produto florestal esquentado abastecia madeireiras da região e era destinado também para São Paulo, Paraná e Santa Catarina. “A operação beneficia a sociedade e os madeireiros que trabalham dentro da lei, pois a atuação ilegal dos demais fazia com que os valores de mercado da concorrência fossem desleais”, defendeu o delegado.
Outra maneira de atuação da quadrilha, e de quatro presos unicamente por esse crime, era a clonagem de notas fiscais para circular com madeira retirada de áreas sem manejo florestal. O posto fiscal de Marcelândia não é informatizado, o que facilitou a fraude. Uma única empresa usou notas fiscais frias 32 vezes.
A reportagem tentou ouvir o Sindicato das Indústrias Madeireiras do Norte de Mato Grosso, mas foi informada de que o presidente, José Eduardo Pinto, estava viajando.
Selzy Quinta
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