segunda-feira, 17 de agosto de 2009

ARAGUAIA - Casaldáliga um exemplo de vida

 Diário de Cuiabá

Casaldáliga é polêmico, direto, defensor das causas humanas e crítico ferrenho do capitalismo. O bispo dedicou a sua vida é aos mais necessitados
Da Reportagem
Estréia no dia 21 de agosto, no teatro da TV Centro América, uma história de dedicação, determinação e amor ao próximo. O texto foi escrito por Luis Carlos Ribeiro e Flávio Ferreira, que também dirige a peça.
'A permissão generosa de Luiz Carlos, para sermos co-autores, nos trouxe uma visão para construirmos um libelo dramático, por se tratar da acusação e defesa simbólicas do personagem Dom Pedro Casaldáliga, em que suas idéias ganham vida na presença dos personagens índios, que podem ser de qualquer etnia desta América Latina e que tanto sofrem: negros subjugados e desrespeitados pela cor da pele e posseiros e peões, historicamente, perseguidos e muitas vezes assassinados pela força injusta do latifúndio' diz Flávio Ferreira.
Entre os livros e sites pesquisados sobre a vida de dom Pedro Casaldáliga começou uma caminhada que levou o diretor Flávio Ferreira com sua equipe à cidade de São Félix do Araguaia. Com o apoio do amigo Banavita, viajaram mais de 2.400 km de buracos e estradas até encontrar Pedro Casaldáliga. Ficaram frente a frente com o adepto da teologia da libertação, que adotou como lema para sua atividade pastoral “Nada possuir, nada carregar, nada pedir, nada calar e, sobretudo, nada matar”. O poeta, autor de várias obras, Pedro Casaldáliga os recebeu de braços abertos.
A equipe viveu momentos de longas conversas e aprendizado, em que constatou que o pensamento de Casaldáliga somente será compreendido no futuro, “pois está além do que ora conseguimos perceber na sua dedicação à causa dos pobres, negros, índios e posseiros. Faz-nos sentir medíocres, ante a exagerada preocupação que temos com a própria sobrevivência, neste momento histórico em que o capitalismo nos faz tão egoístas. Choramos por várias vezes nesses encontros, ora por emoção, ora por remorso”, desabafa Flávio Ferreira.
A partir destas pesquisas e oficinas foram montadas cenas e coreografias, que lembram a vida, o sofrimento, as alegrias e os valores dos índios, negros e posseiros.
Os atores fizeram laboratórios e oficinas com diversos conhecedores e especialistas na área de capoeira e maculelê, como o mestre Olavo, baiano, que os ensinou as características do negro e suas performances e expressões. A orientação do Banavita trouxe aos atores uma gama de conhecimentos indígenas para tornar o espetáculo mais próximo possível das mais variadas tribos da América Latina. Além disso, eles aprenderam o dialeto tupi-guarani, ensinado pelo professor Jorge. Os posseiros, encenados pelos atores, tiveram um encontro com alguns dos representantes do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra), que falaram sobre a política e a educação desse movimento social brasileiro, servindo de inspiração para a composição cênica apresentada na peça.
A peça foi inspirada ainda nas obras desse personagem vivo, poeta sereno, sábio e determinado, Dom Pedro Casaldáliga. Títulos como Sonetos neobíblicos, Espiritualidade da libertação, Murais da libertação, TIERRA, Pedro. Ameríndia, Morte e Vida, Orações da Caminhada, Missa da Terra Sem Males e Missa dos Quilombos.
Esta obra cênica é dedicada especialmente ao Pe. João Bosco Penido Burnier e a todos os que lutaram e faleceram, e também aos que ainda lutam pela socialização da terra, da moradia, da educação, da cultura na América Latina.
A Companhia Cena Onze também traz ao palco a assistência social, onde uma menina da Casa de Retaguarda Dr. Paulo Prado faz parte do elenco. Ela participou de oficinas oferecidas através de ação social e se destacou entre as participantes, sendo convidada pelo diretor Flávio Ferreira.
Além da apresentação, o público poderá apreciar, no salão de espera, a exposição fotográfica de Dom Pedro Casaldáliga em suas citações poéticas e das justiça e injustiças sociais. Um vídeo também será projetado com entrevista exclusiva dos seus pensamentos sobre capitalismo, Américas, regime militar, MST e socialismo.
O espetáculo fica em cartaz de 21 de agosto a 4 de outubro de 2009, no Teatro da TV Centro América, sempre às sextas, sábados e domingos, às 20 horas.
A peça tem o patrocínio da Secretaria de Estado de Cultura e do governo do Estado de Mato Grosso, que distribuirá parte dos ingressos para escolas da rede pública e apoio cultural da TV Centro América, Ótica Diniz, Ponto Certo, Livraria Janina, Unic, Sindicato dos Motoristas, Unimed, Prefeitura Municipal de Cuiabá (Imeq-MT - Instituto de Metrologia e Qualidade de Mato Grosso), União Transporte, Funec, Colégio Máster, Academia Pedro Fernandes, Prefeitura Municipal de Várzea Grande, IDM Informática, Guia Cidade, Restaurante São Sebastião, AB Assessoria e Eventos, Cesuc, F3 Video Produções, Stettcr, Big Papelaria e Maxi Door.
Dom Pedro Casaldáliga
Nascido em Balsareny (Barcelona), 16 de fevereiro de 1928, ingressou na Congregação Claretiana em 1943, sendo ordenado sacerdote em Montjuïc, Barcelona, no dia 31 de maio de 1952. Em 1968, mudou-se para a Amazônia Brasileira. Foi nomeado administrador apostólico da prelazia de São Félix do Araguaia no dia 27 de abril de 1970 a qual renunciou em 2005.
Na sua carta circular de 2009 arrepia os cabelos daqueles de horizonte mais estreito. Abaixo trechos da Carta que pede uma revolução em prol do ser humano, da justiça e da igualdade.
“A grande crise econômica atual é uma crise global de Humanidade que não se resolverá com nenhum tipo de capitalismo, porque não é possível um capitalismo humano; o capitalismo continua a ser homicida, ecocida, suicida. Não há modo de servir simultaneamente ao deus dos bancos e ao Deus da Vida, conjugar a prepotência e a usura com a convivência fraterna. A questão axial é: Trata-se de salvar o Sistema ou se trata de salvar à Humanidade? A grandes crises, grandes oportunidades. No idioma chinês a palavra crise se desdobra em dois sentidos: crise como perigo, crise como oportunidade.”
“Com todo respeito pela opinião do Papa Bento XVI, o diálogo interreligioso não somente é possível, é necessário. Faremos da corresponsabilidade eclesial a expressão legítima de uma fé adulta. Exigiremos, corrigindo séculos de descriminação, a plena igualdade da mulher na vida e nos ministérios da Igreja. Estimularemos a liberdade e o serviço reconhecido de nossos teólogos e teólogas. A Igreja será uma rede de comunidades orantes, servidoras, proféticas, testemunhas da Boa Nova: uma Boa Nova de vida, de liberdade, de comunhão feliz. Uma Boa Nova de misericórdia, de acolhida, de perdão, de ternura, samaritana à beira de todos os caminhos da Humanidade. Seguiremos fazendo que se viva na prática eclesial a advertência de Jesus: «Não será assim entre vocês» (Mt 21,26). Seja a autoridade serviço. O Vaticano deixará de ser Estado e o Papa não será mais chefe de Estado. A Cúria terá de ser profundamente reformada e as Igrejas locais cultivarão a inculturação do Evangelho e a ministerialidade compartilhada. A Igreja se comprometerá, sem medo, sem evasões, com as grandes causas de justiça e da paz, dos direitos humanos e da igualdade reconhecida de todos os povos. Será profecia de anuncio, de denúncia, de consolação. A política vivida por todos os cristãos e cristãs será aquela «expressão mais alta do amor fraterno» (Pio XI).”
Serviço:
O QUE: Espetáculo “Fica, Pedro!?”
ONDE: Teatro da TV Centro América
QUANDO: 21 de agosto a 4 de outubro de 2009 (sextas, sábados e domingos) sempre às 20 horas
INFORMAÇÕES: 3615 4000 / 8113 2417

Selzy Quinta

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