quarta-feira, 8 de julho de 2009

Nem 10% estão presos, Promotor que iniciou investigação, em 2005, diz que pistoleiros do esquema continuam livres no Araguaia

KEITY ROMA-DC

Célio Wilson resume situação: “ali se tornou grande negócio, repassado de comandante a comandante”

O promotor de justiça, Célio Wilson de Oliveira, afirmou que nem 10% da quadrilha de grilagem e estelionato desarticulada durante a Operação Pluma está na prisão. “Os operadores da organização criminosa (pistoleiros) continuam agindo na região do Araguaia. Grande parte deles, policiais militares ou reformados. Os líderes do esquema foram presos, isso representa um passo grande”, avaliou.
O promotor iniciou as investigações em 2005 pelo Grupo de Atuação e Combate ao Crime Organizado (Gaeco), antes de o caso ser repassado a esfera federal por envolver áreas pertencentes à União. A operação deflagrada sexta-feira passada já prendeu 16 pessoas, de 18 mandados de prisão decretados. Seis presos são oficiais da Polícia Militar, entre eles o ex-comandante geral da corporação no Estado, Adaildon Costa.
Célio Wilson frisou que a prisão dos criminosos contumazes Gilberto Luiz de Rezende, chamado de “Gilbertão”, e do ex-prefeito de Porto Alegre do Norte, Luiz Machado, conhecido como “Luiz Bang”, pode fazer com que a população da região do Araguaia sinta mais segurança para denunciar outras ações truculentas do bando, como homicídios.
“A partir do momento que as pessoas de lá tiverem segurança de que os envolvidos estão sendo punidos e ficarão na prisão, muitos outros crimes serão esclarecidos, porque ninguém se sentirá intimidado para falar. Porém ainda impera o medo”, avaliou o promotor.
Os membros da suposta quadrilha são conhecidos e temidos na região nordeste de Mato Grosso. A presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Confresa, Aparecida Silva, revelou que, apesar da fisionomia de “Gilbertão” ser um mistério, já que ele não aparece na região, todos sabem sobre as atrocidades cometidas por ele.
“Ele é um monstro, muita gente tem medo. Com a prisão, tem pessoas que estão mais amedrontadas ainda, porque os pistoleiros do grupo continuam na ativa”, falou ela. O temor dos moradores do Araguaia tem fundamento. Entre os processos aos quais “Gilbertão” responde constam um duplo homicídio qualificado em Rondonópolis, processo em que já existe pronúncia para julgamento pelo Tribunal do Júri, e por escravizar e torturar trabalhadores rurais em São Félix do Araguaia.
O promotor de Justiça frisou que os criminosos antigos conseguiram se manter tanto tempo no poder por conivência dos militares e de outros servidores públicos que obtinham vantagens com o esquema. “Ali se tornou um grande negócio que há muitos anos vem sendo repassado de comandante para comandante”, avaliou.
A prisão de 30 dias decretada pelo juiz da 1ª Vara Federal, Julier Sebastião, para 18 pessoas acusadas de integrar a quadrilha, foi uma medida solicitada pelo Ministério Público Federal para que a liberdade do grupo não ameace a conclusão das investigações. Nenhum dos presos havia conseguido revogação da prisão na Justiça até ontem.
O grupo tinha várias frentes de atuação e núcleos, todos comandados por “Gilbertão” e mantidos com a prestação de serviços de agentes da Polícia Militar, que construíram uma vida de luxo incompatível com a renda do cargo público.

Selzy Quinta Marcas:

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