Por:Onofre Ribeiro
Amanhã completam três anos da morte de Dante de Oliveira. Sempre gostei muito de História e de filosofia. Por isso, ouso afirmar que alguns personagens de todas as áreas da atividade humana acabam extrapolando o seu tempo e entram na galeria da História. Penso que Dante é um deles. Conheci-o em 1978, jovem, barbudo e irreverente. Confesso que, de saída, não me entusiasmei com aquele personagem magrelo. Foi eleito deputado estadual e tivemos algumas conversas e alguns desencontros. Mas nunca pude negar que era uma figura carismática.
Passados os anos acabamos nos distanciando por muitas divergências e até mesmo pelo esforço de algumas pessoas próximas em nos distanciar. De qualquer modo, não faria mesmo diferença. Na sua eleição para prefeito de Cuiabá, em 1985, houve entre nós alguns arranhões e a distância aumentou ainda mais. Em 1997, ele era governador e, confesso, não tive participação nenhuma na sua eleição. Um dia escrevi um artigo em “A Gazeta”, de Cuiabá, criticando a falta de planejamento do governo estadual diante das realidades que mudavam em grande velocidade. Há muito tempo sequer nos víamos pessoalmente. Por conta do artigo ele telefonou-me e convidou para um café da manhã na residência oficial no dia seguinte. Ficamos das 7 e meia até às 11 horas “garrados” na prosa. Ao final ele abraçou-me da sua enorme altura e disse-me do seu jeito espontâneo: “não sei como a gente ficou tanto tempo sem conversar”. Nasciam ali uma longa seqüência de almoços e de cafés da manhã, regados a filosofia e a discussões de largo alcance futuro. O que ele fez delas, eu não sei. Mas de minha parte consolidava-se ali uma grande e inestimável amizade.
Reeleito, em 1998, nossas conversas ficaram mais freqüentes em viagens, em algumas festas onde nos cruzávamos, na escrita de alguns dos seus discursos, e de avaliações sobre questões mais complexas de governo, nas quais ele introduzia pouquíssimas pessoas. Nunca me pediu sigilo sobre as coisas que conversávamos. Terminou o governo, candidatou-se e foi derrotado. Conversamos algumas vezes depois da eleição de 2002, sempre no seu apartamento, até que no dia 6 de julho de 2006 ele resolveu partir de repente sem dizer adeus exceto, talvez, a algumas pessoas íntimas.
O período que sucedeu a 2002 e à sua derrota ao Senado, foi muito ruim para ele. Sofreu muito. Nas nossas conversas nunca se queixou de pessoas, de ingratidões e até mesmo do seu sucessor Blairo Maggi. Aprendi com ele essa capacidade de enfrentar tempos ruins e sobreviver, porque depois de hoje sempre existirá o amanhã. Conversamos muito sobre isso.
Falar sobre o seu governo, seguramente outras pessoas falarão melhor do que eu. Nesse aniversário de três anos de sua morte, quero registrar somente a amizade, a minha admiração e o seu cavalheirismo em nossas longas conversas e os seus gestos fraternos que fazia questão de não se vangloriar. Estou convencido de que Dante foi a ponta mais moderna da política histórica de Mato Grosso. Com ele, morreu o período da política tradicional de toda a História do estado. Seu mérito, perguntaria o leitor: qual foi? Diria com segurança que foi o de construir a ponte entre o seu tempo e o futuro. O Mato Grosso de 2009 pouco tem do Mato Grosso de 1995, quando se elegeu governador, do mesmo modo que o futuro repetirá sempre essa inevitável trajetória de evolução. Fazer isso com consciência é um mérito muito grande. Dante sabia que mudava o seu tempo. Uns dias antes de partir, ele disse-me numa rápida conversa telefônica: “fiz o que fiz, e nem sei se fiz bem...”. Quem o responderá será a História. Seguramente!
Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso
Selzy Quinta
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