Época
Diversas pesquisas já mostraram o descrédito da população em relação ao Congresso Nacional. Parlamentares são majoritariamente vistos como improdutivos, corruptos e interessados apenas em seus projetos pessoais. A novidade é que, de maneira geral, os próprios deputados e senadores concordam com esse diagnóstico. Uma pesquisa inédita de ÉPOCA feita pelo Instituto FSB com 247 congressistas mostra que os parlamentares enxergam o Congresso como uma instituição ensopada pela corrupção, pouco transparente, refém do governo, exposta aos lobistas e incapaz de cumprir com suas funções primordiais de representação e fiscalização. Um poder sem forças.
Um analista ouvido pela reportagem fez uma constatação curiosa sobre essa visão depreciativa: “Se há um aspecto positivo disso tudo, é a sinceridade dos parlamentares que responderam ao questionário”. A observação brinca com a conhecida tendência dos políticos de autoexaltação. Agora, aparentemente, ela não se manifestou. Alguns dos principais resultados da pesquisa, detalhados nas próximas páginas, são:
para quase 70%, a corrupção tem presença marcante no Congresso, mas só 20% a classificam como alta; apenas 35% estão convencidos de que o Legislativo faz leis claras, concisas e inteligíveis; a maioria diz que a compreensão dos colegas sobre os temas importantes do país é apenas “mediana”; metade reclama que o salário é baixo; 80% afirmam que o negro está mal representado no Congresso; 74%, que a mulher está mal representada; a chance de um cidadão comum ser eleito sem apoio de empresas, igrejas ou sindicatos é irrisória.“A conclusão preocupante é que os parlamentares assumem seus defeitos, mas demonstram incapacidade de organizar suas ações para mudar”, diz o cientista político Fernando Abrucio, colunista de ÉPOCA. “Só cabe a eles mesmos mudar. Mas não há indícios dessa mobilização.” A pesquisa também ouviu os parlamentares sobre três temas específicos da reforma política. A conclusão é igualmente curiosa: eles querem financiamento público para as campanhas, mas não aceitam mexer nas regras da eleição.
As 32 perguntas da pesquisa Congresso no Espelho ÉPOCA-FSB foram inspiradas num documento de autoavaliação de congressistas da União Interparlamentar, uma organização internacional que promove o intercâmbio entre parlamentos. Os questionários foram respondidos pessoalmente por 214 deputados e 33 senadores (42% dos congressistas) entre os dias 8 e 25 de junho. Foram ouvidos representantes das 27 unidades da Federação e de 18 dos 19 partidos com assento no Congresso (só o PHS não foi entrevistado). A margem de erro é de 4,8 pontos porcentuais. Aos resultados.
Selzy Quinta
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