sábado, 27 de junho de 2009

A ficção do terceiro mandato

José Dirceu é ex-ministro-chefe da Casa Civil

Nesta semana, duas questões ocuparam, com maior destaque, espaço no noticiário da imprensa brasileira: o factóide em torno do 3º mandato para o presidente Lula e o suposto acordo entre os governadores José Serra, de São Paulo, e Aécio Neves, de Minas Gerais, ambos pré-candidatos pelo PSDB ao pleito presidencial de 2010.
Boatos atrás de boatos ocuparam os editoriais, as entrelinhas, as análises políticas e a construção de fatos ou factóides na imprensa. Avaliando-os mais detidamente, tudo indica que essas discussões, embora vendam jornal, não passam de balões de ensaio.
Tratam-se de iniciativas, desejos e articulações de setores determinados, mas sem apoio das cúpulas partidárias, muito menos dos principais interessados, e sem o apoio de quem realmente decide: a maioria do Congresso Nacional, no caso de nova reeleição; e dos próprios interessados, Serra e Aécio, na história do acordo.
No caso tucano, o presidenciável Aécio Neves reagiu ao ser alvo da cilada tucana, que nesta semana propagandeou uma suposta “chapa puro-sangue”, em que o mineiro seria vice do presidenciável governador paulista José Serra. Aécio foi claro em declaração ao jornal Folha de S. Paulo (18.05): “Qualquer negociação ou construção de uma chapa de um só partido, qualquer que seja este, não tem eficácia eleitoral e tem uma grande dose de presunção.” O suposto acordo do governador de São Paulo, José Serra, com o colega mineiro Aécio Neves, também tucano, é mero desejo da cúpula serrista do PSDB que não quer debate nacional.
Já sobre o 3º mandato de Lula, é bom que fique claro que a articulação da proposta não tem apoio nem do PT, nem do PMDB e muito menos dos partidos aliados. Além disso, e o mais tranquilizante, é que essa questão já está resolvida: Lula e o PT não querem o terceiro mandato, e Dilma Rousseff é a candidata do partido e do presidente. Essa discussão não passa de mais um balão de ensaio, bom para preencher linhas dos jornais e espaços do noticiário, mas sem futuro.
Não podemos esquecer que um terceiro mandato dependeria de uma emenda constitucional, tanto para ser aprovado, quanto para convocar um plebiscito com consulta popular. Isso exigiria uma hegemonia e correlação de forças políticas favoráveis, o que não é o caso. Além disso, não há clima no País para esta discussão. Estamos superando a crise internacional e a pauta prioritária é exatamente nos concentrarmos na superação dos efeitos da turbulência mundial, implementar as obras do PAC e promover o crescimento do País.
E, principalmente agora, estamos no momento de consolidação da candidatura Dilma Rousseff. É agora que nossa candidata aumenta sua taxa de conhecimento por parte do eleitorado – até agora somente a metade dos eleitores sabe que Dilma é a candidata do presidente Lula. Os partidos aliados começam a apoiar sua candidatura e o próprio presidente Lula afirmou que não concorda com a continuidade de seu mandato. Uma decisão apoiada pelo PT que, inclusive, tomou uma decisão em seu Diretório Nacional em oposição a esse caminho.
Adotar e permitir dar curso a uma segunda tática (a do terceiro mandato) neste momento é trilhar um caminho para a derrota. Como vemos pelo noticiário da semana, muitos serão os factóides que surgirão até o pleito de 2010. De qualquer forma, uma coisa é certa: Dilma Rousseff é a candidata do presidente Lula e do PT para dar continuidade ao projeto de desenvolvimento com distribuição de renda deste governo.

Selzy Quinta

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