CLARINDO ALVES DE CASTRO
Tenente coronel da Polícia Militar
Edson Rodrigues/Secom-MT
Um dos coordenadores da elaboração da obra o tenente-coronel Clarindo Alves de Castro
De acordo com o professor e psicólogo canadense Robert Hare 1% da população mundial preenche os critérios para o diagnóstico da psicopatia, que é caracterizada pela ausência de sentimento moral, extrema facilidade para mentir e grande capacidade de manipulação.
Onde estão essas pessoas? Segundo Robert Hare é muito difícil saber, pois, na aparência, um psicopata pode parecer um sujeito normal, sendo possível divisá-lo apenas quando se olha com mais cuidado. O cientista exemplifica que: “se o psicopata é flagrado fazendo algo errado, tenta convencer todo mundo de que está sendo mal interpretado”. Ou seja, eles podem estar bem próximos de nós, ser um amigo, um parente ou talvez estar dentro da nossa própria casa. Para piorar, alguns são do tipo sádico, isto é, sentem satisfação em prejudicar outras pessoas, apresentando comportamentos perversos e perigosos, como é o caso do serial killer, quando muitos cometem crimes. Os psicopatas não conseguem ver nada de errado em seu próprio comportamento eles fazem o que desejam, sem se preocupar com o filtro emocional. E, o que é pior, o psicopata não pode ser curado pelas terapias tradicionais, uma vez que as mesmas não têm nenhum efeito prático sobre ele. Em geral os psicopatas não levam em conta a dor da vítima, mas sim o prazer que sentem com o crime.
Diante disso insurjo: como as polícias brasileiras podem enfrentar esse tipo de criminoso? Será que o recorrente modelo de polícia comunitária, adotado pela Secretaria Nacional de Segurança Pública tem efeito prático na prevenção dos delitos praticados pelos psicopatas?
Trajanowicz Buqueroux (1994) ensina que a Polícia Comunitária é uma filosofia e estratégia organizacional que proporciona uma nova parceria entre a população e a polícia. Baseia-se na premissa de que tanto a polícia quanto a comunidade devem trabalhar juntas para identificar, priorizar e resolver problemas contemporâneos tais como o crime, as drogas, o medo do crime, as desordens físicas e morais, e, em geral, a decadência do bairro, com o objetivo de melhorar a qualidade geral da vida na área.
Ela tem como objetivo o envolvimento de todas as pessoas da comunidade para que possam, voluntariamente, colaborar com as polícias na obtenção de soluções para os problemas que levam à violência e à criminalidade. Trata-se de uma tentativa que visa juntar todas as forças vivas, de dentro e de fora da instituição e da comunidade para enfrentar os problemas de segurança pública.
Para tanto, a Polícia Comunitária deve estimular a participação da comunidade através do diálogo, inserindo a polícia como parte integrante da comunidade, através da participação dos policiais em eventos cívicos, culturais, trabalhando juntamente com agências sociais e tomando parte de atividades educacionais e recreativas em escolas. Assim, se a polícia entender que sua atividade está em ajudar a comunidade a resolver seus problemas, espera-se, como contrapartida, que haja, por parte dos moradores dessa comunidade, um constante crescimento de confiança na polícia.
Nessa direção, Skolnik e Bayley ensinam que: “Se as forças policiais encorajarem a prevenção do crime, baseada na comunidade, enfatizarem a interação com o público fora das situações de emergência, aumentarem a contribuição do público na definição de políticas e descentralizarem o comando, poderão ser creditados benefícios substanciais, tanto para a comunidade como para a polícia”.
Bem, e o que isso tem a ver com a psicopatia? Vejamos então: A Polícia Comunitária busca trabalhar com a comunidade para, em regra, melhorar a qualidade de vida, através da resolução dos problemas, aumentando a confiança na Polícia e possibilitando melhorias nos bairros, notadamente nas áreas degradadas. Ou seja, alterando o ambiente.
Entretanto, o psicólogo canadense Robert Hare sentencia que: para os psicopatas, o ambiente tem um grande peso, mas não mais do que a genética. Na verdade, o que um ambiente com influências positivas pode proporcionar é um melhor gerenciamento dos riscos. Ele também ensina que até mesmo uma boa educação está longe de ser uma garantia de que o problema não aparecerá lá na frente, visto que os traços da personalidade podem ser atenuados, mas não apagados.
Por outro lado, o cientista político e professor, da universidade de Harvard, Robert Putnam afirma que quanto maior o capital social de uma comunidade menor são as taxas de criminalidade. Ele constatou – nas cidades italianas pesquisadas – que onde a solidariedade e a confiança entre os membros de uma comunidade eram altas, ou seja, onde a cooperação entre as pessoas era estimulada e onde existiam muitas associações e organizações voluntárias, que promoviam o entrelaçamento dos órgãos públicos e a participação efetiva da sociedade, a criminalidade era inferior a das demais cidades.
Essa constatação permite afirmar, com base nessa pesquisa, que o ambiente pode influenciar na diminuição dos crimes, provavelmente, até daqueles praticados por psicopatas, pois, de acordo com Robert Hare, quando fazemos uma avaliação de uma decisão a ser tomada normalmente envolvemos o conhecimento intelectual e o aspecto emocional. Contudo, com o psicopata, uma tomada da decisão envolve apenas o aspecto da razão, pois ele pode até saber que determinada conduta é condenável, mas como sua decisão não passa pelo filtro emocional, ele faz o que deseja, sem pensar na dor da vítima.
Então, como ele racionaliza a sua decisão, podemos deduzir que ele faz uma análise da relação custo x benefício e, para tanto, considera algumas variáveis, presentes na comunidade – nunca o sofrimento da vítima – que podem dificultar seu intento tais como: o empenho das pessoas na resolução dos problemas; o nível de solidariedade da comunidade; a confiança de uns nos outros; a cooperação entre as pessoas; a presença de organizações voluntárias; o entrelaçamento dos órgãos públicos para a resolução dos conflitos e a participação efetiva da sociedade na melhoria da qualidade de vida. Assegurados esses aspectos, o psicopata, imagina-se, percebe as dificuldades e, uma vez assim, pode sentir-se desestimulado para a ação criminosa.
Como já anunciamos, a Polícia Comunitária visa exatamente o fortalecimento dessas variáveis. Dessa forma, podemos imaginar que essa filosofia e estratégia organizacional, adotada por boa parte das polícias brasileiras, especialmente a de Mato Grosso através das Bases Comunitárias, podem ser o melhor remédio para o enfrentamento do fenômeno da criminalidade e da violência no Brasil, podendo inclusive inibir as ações criminosas praticadas pelos psicopatas, especialmente dos mais violentos, como o tipo sádico, que estão mimetizados como pessoas normais. Ações simples como essas podem proteger, dessa forma, a sociedade brasileira dos mentirosos, manipuladores e desprovidos de qualquer sentimento de remorso ou gratidão, como o "Bandido da Luz Vermelha", o "Maníaco do Parque", o "Chico Picadinho", o "Champinha" e tantos outros, que se encontram anônimos.
Por fim, é bom destacar que, de acordo com Robert Hare, um ambiente com influências positivas, como os buscado pela Polícia Comunitária, proporciona apenas um melhor gerenciamento dos riscos, porque, os traços da personalidade do psicopata, mesmo aqueles que tiverem uma boa educação, podem ser atenuados, mas não apagados. Assim, independentemente do ambiente, sempre teremos psicopatas, com maior ou menor inclinação para o crime.
*Clarindo Alves de Castro
Tenente Coronel da Polícia Militar.
alves.castro@yahoo.com.br; alvesdecastro@pm.mt.gov.br
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