domingo, 31 de maio de 2009

Estou vivo

 

O carro vinha deslizando pela rodovia suavemente, em direção a cidade de Barreiras, no oeste da Bahia, para onde eu ia a trabalho e depois para um descanso de dez dias. No CD-Player, uma coletânea do Legião Urbana. Na cabeça um monte de planos para este novíssimo 2009. De repente, numa curva molhada, entre Chapada da Natividade e Santa Rosa, no sudeste do Tocantins,  uma das mais perigosas no trecho entre Dianòpolis e Porto Nacional, perco o controle do meu carro, a primeira vez em 25 anos de volante.

Quando percebi que não segurava mais a máquina e que eu ia sair da pista capotando-o, comecei a gritar por Deus. Claro que não queria morrer naquele momento. Mas quando o veículo começou a rodopiar no matagal, a pouco menos de um metro abaixo do nível da pista, e com algumas pedras, achei que era o fim. Ai, então, um filme de poucos segundos passou pela minha cabeça, já resignada: lembrei um por um de meus filhos: A Isis, a Cáritas, a Tatiane, o João Antônio e o André Vinicius. Cada um com suas personalidades (graças a Deus, boas). Lembrei ainda dos meus queridos netinhos: Pedro Henrique e Ana Luiza – 1 ano e onze meses de idade, respectivamente. Por fim, lembrei de Simonny, jovem companheira de ideais que Deus colocou na minha vida, mostrando que o amor não tem idade e nem tem preconceitos, e que eu amo tanto e que, alías semspre viaja a serviço comigo (Não foi desta vez que alguns cachos de seus cabelas seriam cortados, não). Ambos, abaixo de Deus, são muito sagrados e especiais para mim.

Quando o carro parou, com as rodas para o lado, fiquei quietinho, ainda mais resignado com a morte. Espírita que sou, sei que quando o Espírito deixa o corpo, geralmente, principalmente quando tem consciência do que é a morte, ele se desloca e vê o seu corpo material sem vida. Uns entendem esta transferência do mundo material para o Espiritual, outros não e ficam confusos.

Sai de dentro do carro, na convicção que o fazia na condição de Espírito desencarnado e o olhei para o banco do motorista e lá o meu corpo não estava. Só aí que eu percebi que Deus ouviu os meus gritos e até mandou um moço, que os escutou na sede  de uma fazenda nas imediações do local do acidente para me socorrer. Era uma hora da madrugada de sexta-feira 8 de janeiro de 2009.

Ao ver o estado em que ficou o meu carro, fiquei muito triste com o enorme prejuízo material. Mas, imediatamente, lembrei-me que minha vida foi poupada, que Deus ouviu meus desesperados gritos em forma de preces; que meu corpo não ficaria inerte durante a madrugada a espera que alguém o encontrasse e tomasse as devidas providências, como a comunicação aos meus familiares.

Meia hora depois do acidente é que me veio uma crise de choro. Não pelas feridas que se abriram no braço esquerdo - não muito profundas -, e pelo prejuízo material, mas pela graça da vida.

Estou vivo e aqui me encontro numa lan house  de Natividade, cidade próxima ao local do acidente, enquanto espero um guincho para rebocar o carro até a cidade de Barreiras.

Aqui estou, depois da adrenalina voltar à normalidade, comunicando o ocorrido, em forma de crônica, aos meus filhos e à algumas pessoas mais íntimas, pedindo-os que, por enquanto, não repasse esta informação adiante. Tenho pessoas na família que precisam ser poupadas desta informação neste primeiro momento, para não entrarem em pânico. Já outros vão levar mais em conta o prejuízo material, o "não falei para não viajar a noite", "não falei isto","não falei aquilo" – detesto isso -, esquecendo-se que estava fazendo o que e gosto, trabalhando, não importa o horário, mesmo que sempre fui muito prudente no trânsito urbano e nas rodovias.

Meus filhos, meus queridos amigos. Estou bem. Estou vivo e sigo para Barreiras para cumprir com meus objetivos: distribuir minha revista e depois tirar aqueles dez dias de férias que tanto esperei e preciso para o bem da minha saúde física e psicológica.

Este sou eu: muita coragem e determinação. Que me respeitem assim.

Um beijo para todos, não se preocupem.

Antônio Oliveira, Edidor-geral da Revista Cerrado Rural Agronegócios

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