sexta-feira, 12 de junho de 2020

Dever sanitário de casa

Estourou ontem a notícia de que surgiu um foco de febre aftosa em Eldorado, no estado de Mato Grosso do Sul.
Embora seja em outro estado, a questão é que os estados vizinhos ficam proibidos de exportar carne. Goiás, São Paulo, Minas Gerais e Mato Grosso possivelmente serão alcançados pelas penalizações sanitárias.

 O problema de Mato Grosso do Sul é a fronteira seca com o Paraguai, responsável pelo vai-e-vem de animais de um lado para o outro.

Embora nós tenhamos em Mato Grosso fronteira seca com a Bolívia, com os estados de Rondônia, do Amazonas e do Pará, os cuidados são muito grandes porque as normas sanitárias mundiais são muito rigorosas.

Já nem funcionam mais só como normas sanitárias, mas como barreiras comerciais protecionistas. Em 1999 houve outro surto em Mato Grosso do Sul, na região de Naviraí, que é vizinha de Eldorado e também na fronteira com o Paraguai.

Na ocasião, o Ministério da Agricultura e Produção Agropecuária decidiu por suspender a exportação da carne, mas depois de três meses liberou, considerando que o foco de febre aftosa não era relevante o suficiente para impedir a comercialização da carne bovina.

Neste foco descoberto em Eldorado, o Ministério da Agricultura já está fazendo o levantamento epidemiológico para avaliar a extensão do foco, segundo me contou ontem à tarde o presidente do Instituto de Defesa Agropecuária de Mato Grosso (Indea), Décio Coutinho.

Ele espera que também desta vez o ministério releve a gravidade do foco para permitir a exportação de carne bovina pelos estados vizinhos de Mato Grosso do Sul.

Contudo, a irresponsabilidade do governo federal tem sido crescente. Na etapa de novembro próximo, quando será vacinado o rebanho de todas as idades, não se tem certeza do repasse de R$ 4 milhões do governo.

A vacinação tem sido custeada pela iniciativa privada, embora a sanidade animal no país devesse ser uma política de Estado.

O que está em jogo em episódios como esse é justamente a queima da imagem de Mato Grosso e, em última instância, do Brasil como produtor e exportador de carne bovina.

No mundo lá fora, de nada adianta saber que o nosso boi é ecológico, criado e engordado a pasto, comendo capim e sem sofrer as crueldades do sistema europeu.

A carne bovina, suína formam o terceiro item na pauta de exportações de Mato Grosso. Resta-nos esperar pelos próximos dias e pelo veredicto do Ministério da Agricultura e sonhar que mais uma vez Mato Grosso não seja penalizado por eventos sanitários ocorridos fora do seu território. Aqui se tem feito o dever sanitário de casa. 

Por ONOFRE RIBEIRO articulista do Diario De Cuiabá e da revista RDM

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