segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Oito anos

Autor: Onofre Ribeiro

Como em todos os anos, neste também trago aqui algumas reflexões pessoais e familiares sobre o aniversário de passagem do nosso filho Marcelo que, no dia 7 de dezembro de 2004 partiu da vida. A intenção não é pessoal, mas quem sabe, um afago a quem está passando pela inesperada experiência de ver a morte levar um filho. Estão morrendo mais jovens do que adultos na atualidade.
Desde a passagem do Marcelo, minha mulher Carmem e eu, uma vez por mês, frequentamos um grupo de pais que passaram pela experiência, na casa dos amigos José Carlos Branco e Nara Nardez. A cada reunião mais e mais pais chegam sofrendo muito. Quem já está na estrada há mais tempo, como muitos ali, tem a missão de confortar os que estão chegando com o coração em frangalhos.
Gostaria de dizer neste artigo alguma coisa mais ou menos óbvia: passados os primeiros meses, a gente vai se fortalecendo e recupera a vida, na medida do possível. É uma cruel inversão das circunstâncias que filhos morram primeiro do que os pais. Mas é fato! Se o filho ou filha partiu, nada mais há que possa ser feito senão reconstruir a nossa própria vida e a dos que nos cercam, especialmente a de outros filhos que ficaram e também sofrem. Não são bons conselheiros o isolamento e o desespero. Desestabilizar-se é natural nessa circunstância. Até porque sabe-se que ninguém morre nesse sentido tradicional de que tudo acaba quando o corpo físico morre. Lá no mundo espiritual onde outros valores e princípios funcionam sob novas regras, o filho percebe o sofrimento familiar e se sente preso a essa dor e sofre impotente.
Por essa razão, entre tantas outras, o melhor caminho não é o desespero. Realmente não é. Isso, porém, não quer dizer indiferença. Confesso que levei muito tempo antes de conseguir chorar. Paguei muito caro por isso. Sugiro que os pais chorem sempre que se a saudade bater, e vai bater muito frequentemente, mas não se desesperem e nem chamem de volta o filho. Isso será muito ruim para ele onde se encontra construindo uma nova vida espiritual.
Desculpem-me os leitores que não passaram pela experiência, e desejo que nunca passem, mas tantos passam e passarão. Esse tipo de situação não traz manual de comando. A surpresa quase sempre é a principal companheira nos primeiros momentos. Depois cai a ficha e vem a angústia, que também não é boa conselheira. Quem sabe a busca de ajuda, seja religiosa, seja clínica ou, como Carmem, eu e tantos amigos buscamos num grupo que acaba realizando uma psicanálise coletiva?
Hoje confesso que muitos já readquiriram a estabilidade emocional e espiritual. Sabemos que os nossos filhos estão bem na sua nova vida espiritual. Se aqui estamos bem, então, alcançamos o equilíbrio necessário pra continuarmos vivendo. Carmem e eu, meus filhos, neto e amigos, continuamos com Daniela, nossa nora amada, e Luka, nosso neto amado, hoje com 11 anos. Todos, seguindo com a vida, mais maduros e, podemos dizer, mais conscientes sobre a vida e sobre a morte! Ah! Marcelo está muito bem!

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