quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Vida do "bispo dos pobres" na televisão

Do Jornal de Angola / Artigo por E-Mail

Liturgia solidária com os índios e os sem-terra no Brasil é contada agora no pequeno ecrã depois de ter sido narrada em livro

Fotografia: AFP

A liturgia solidária do bispo catalão Dom Pedro Casaldáliga, que durante décadas foi a voz dos índios no Brasil e dos mais pobres, chega à televisão transformada numa série pelo seu compatriota Francesc Escribano, informou ontem a EFE.
“É a história de alguém que veio para transformar o povo, mas acabou por transformar a terra”, declarou Francesc Escribano à Agência EFE, que está a filmar a série “Descalço Sobre a Terra Vermelha”, baseada no livro com o mesmo título sobre a vida do bispo.
A filmagem está a ser feita em São Félix de Araguaia, um povoado do interior do Estado de Mato Grosso, aonde o “bispo dos pobres” chegou em 1968 e ainda reside, com 84 anos de idade e lúcido, apesar da doença de Parkinson que o acomete há muito tempo. Nesse mesmo lugar, Francesc Escribano conheceu Dom Pedro Casaldáliga em 1984, quando fez a primeira das entrevistas que depois resultaram no livro “Descalço Sobre a Terra Vermelha”, publicado em 2002.
Tanto o livro como o “documentário-ficção” são para o jornalista espanhol “algo como um ‘western’ com forte carga espiritual”, que descreve o duro retrato humano encontrado por Dom Pedro Casaldáliga quando chegou em São Félix de Araguaia.
“Esta parte do Mato Grosso era em 1968 uma região abandonada por Deus, extremamente violenta e com os índios numa luta feroz por suas terras com fazendeiros que não perdoavam”, afirmou o escritor.
A história retrata essa luta e a forma como o bispo catalão se envolveu nela até abraçar a Teologia da Libertação, uma corrente teológica nascida entre os movimentos de base da Igreja Católica no Brasil, que depois se expandiu pelo resto da América Latina. Por essa causa, Dom Pedro Casaldáliga voltou à Europa em 1988, pela primeira vez desde que chegou ao Mato Grosso. Mas fê-lo porque “foi chamado para uma audiência” pelo Vaticano, disse Francesc Escribano, explicando que essa ida à Santa Sé é um dos fios condutores da história.
Nessa oportunidade, além de ter uma audiência com o papa João Paulo II, o “bispo dos pobres” teve “uma verdadeira queda de braço religiosa” com Joseph Ratzinger, hoje papa Bento XVI e então prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, que condenava os princípios “marxistas” presentes na Teologia da Libertação. Durante as filmagens, Francesc Escribano disse que “todo o povo” e o próprio Dom Pedro Casaldáliga passam por “uma autêntica revolução”, ao reviver passagens de sua própria história “que muitas vezes não são as melhores”.

O bispo, adiantou, recebe quase todos os dias uma parte do elenco artístico e, segundo palavras de Francesc Escribano, sempre os atende com uma mesma frase que remete ao seu delicado estado de saúde: “Estou vivo”.
O projecto é uma co-produção hispânico-brasileira da qual participam a Televisió de Catalunya (TV3), a Televisión Española (TVE), a TV Brasil e as produtoras Minoria Absoluta e Raiz Produções.
A produção foi financiada em parte por empresas dos dois países. A filmagem conta com mais de 1.200 figurantes da região de São Félix de Araguaia. No papel de Dom Pedro Casaldáliga vai estar o actor espanhol Eduard Hernández.
“Já trabalhei em 25 ou 30 filmes, mas este é a personagem mais especial, o mais importante que já tive e para o qual precisei ‘esvaziar-me’ para poder fazer um Pedro ‘limpo’ e assumir o compromisso que ele teve durante a sua própria história”, disse Eduard Hernández.
Uma história que, segundo Francesc Escribano, o “bispo dos pobres” queria ter escrito e refletido de outra maneira.
“Disse que queria evitar o ‘benefício próprio’, que preferia um filme sobre as causas e não sobre uma pessoa concreta”, porque a história das suas lutas “foi comunitária”, explicou Francesc Escribano.

Fonte: Jornal de Angola

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