domingo, 15 de julho de 2012

ALTO BOA VISTA:MARÃIWATSEDE: Área xavante seria maior Antropóloga que participou dos estudos para identificação diz que território deve ter 200 mil e não 165 mil hectares

A Terra Indígena Marãiwatsede, na região de Alto Boa Vista, terá que ser desocupada em breve

Por RODRIGO VARGAS

Os 165 mil hectares delimitados para os xavantes na Terra Indígena Marãiwatsede não incluíram todas as áreas tradicionais da etnia identificadas na região de Alto Boa Vista (1.064 quilômetros a noroeste de Cuiabá).
Integrante da equipe que realizou para a Funai os estudos de identificação do território, em 1992, a antropóloga paulistana Iara Ferraz, de 59 anos, defende a ampliação do atual traçado e diz que o acirramento das tensões na região atende ao interesse de “políticos e grileiros”.
“O mapa original do estudo e o relatório de identificação provam isto: foram elaborados para toda a área mais de 200 mil hectares e não os 165 mil delimitados”, disse a antropóloga, em entrevista ao Diário. “Os Xavante ainda vão demandar a porção excluída”.
Marãiwatsede é alvo de uma disputa judicial que já dura 17 anos e que envolve os índios, a Funai, o Ministério Público Federal e representantes de posseiros e fazendeiros que dizem ocupar a área demarcada há pelo menos 40 anos.
Recentemente, o Tribunal Regional Federal (TRF) da 1ª Região cassou uma liminar que mantinha suspensa a execução da sentença que determinou a retirada de todos os ocupantes não-indígenas da área xavante.
A antropóloga, que esteve pela primeira vez na região em 1991, assegura que o que chama de “invasão” não havia ocorrido quando começaram os trabalhos de identificação em campo.
“Não havia um único invasor: a empresa [Agip, proprietária da fazenda Suiá Missu] mantinha a fazenda com algumas pastagens ativas e muitas áreas de mata. O Posto da Mata era apenas um posto de gasolina e parada dos ônibus que iam para São Félix ou para a BR-80”, diz.
Segundo ela, a entrada dos supostos invasores foi incitada por lideranças políticas e econômicas locais imediatamente após a conferência Rio-92, quando a Agip restituiu a área da fazenda Suiá-Missu aos xavantes.
“Sou testemunha da invasão. Fotos e gravações da incitação à invasão, no Posto da Mata, compunham o material entregue ao então Ministro da Justiça e ao Ministério Público Federal”, afirma.
A antropóloga refuta o argumento de que os xavantes, tradicionais ocupantes de áreas de cerrado, jamais teriam habitado as áreas de mata fechada que havia em Marãiwatsede.
“Os Xavante orientais, que compreendem esse grupo de Marãiwatsede, são habitantes de uma zona de transição entre o cerrado e a mata, de onde faziam incursões até as fronteiras do Parque Indígena do Xingu.”
Sobre a proposta de permuta feita pelo governo de Mato Grosso (que prevê a transferência dos índios para um parque estadual), a antropóloga diz se tratar de uma “indecência inconstitucional”. "Os direitos indígenas ao seu território são originários, ou seja, são anteriores a qualquer título de terra que possa ter sido emitido."
O grupo de xavantes dissidentes, que apoia a permuta e contesta a veracidade do laudo de identificação, foi “claramente cooptado” na opinião da antropóloga. “Existem integrantes desse grupo que estiveram conosco no estudo de identificação e que sabem muito bem que a área identificada é maior do que a que foi delimitada na Fazenda Suiá Missu.”
Vencida a etapa da desintrusão, que ela considera “inevitável”, a antropóloga defende que a etnia busque na Justiça uma indenização dos invasores e do governo do Estado para que seja possível recompor as áreas hoje degradadas.
“Os Xavante poderão resistir se outras alternativas de sustentabilidade forem trabalhadas com eles, ainda que seja uma gota d'água no oceano.”

Fonte: Diário de Cuiabá

Um comentário:

njbispo disse...

brincadeira,qual o compromisso c verdade e diga a mesma.esta senhora e no minimo sonhadora.