sábado, 9 de junho de 2012

Tião critica falta de apoio a VG

Prefeito social-democrata afirmou que muitos parlamentares não levam recursos ao município. Ele reforçou ainda que a dívida local é impagável

Tchélo Figueiredo/DC

Nome: Sebastião dos Reis Gonçalves
Estado civil: Casado
Profissão: Empresário

Por RENATA NEVES
Pré-candidato à reeleição, o prefeito de Várzea Grande, Sebastião Gonçalves (PSD), o “Tião da Zaeli”, admite as dificuldades enfrentadas pelo município, mas afirma que tem trabalhado para superá-las. Por outro lado, critica a falta de atuação de parlamentares e gestores que residem no município e pleiteiam ingressar na disputa, como o secretário de Estado de Cidades, Nico Baracat (PMDB), o deputado estadual Wallace Guimarães (PMDB) e o senador Jayme Campos (DEM).
Zaeli faz um balanço da atual situação da prefeitura e das articulações para consolidar sua candidatura. Embora tenha dito em diversas oportunidades que não possui afinidade com a política, o gestor garante que está indo à reeleição para cumprir uma missão e trabalhar em prol do município.
Entre os partidos dos quais espera ter apoio está o PDT, cuja maior liderança é o senador Pedro Taques, que possui divergências políticas com o líder do PSD, deputado estadual e presidente da Assembleia Legislativa, José Riva.
“O PDT é um partido com o qual temos grande afinidade. O quadro do PDT é formado por pessoas que são meus grandes amigos e com certeza devem me apoiar porque sabem da minha história, da minha conduta e sabem que meu propósito é melhorar Várzea Grande”.
Diário - Qual a realidade atual da prefeitura de Várzea Grande?
Tião da Zaeli - A realidade atual é que a prefeitura tem uma dívida muito grande, que nesse primeiro momento é impagável e quem disser que ela é pagável não tem informação. Com os recursos e a receita que temos hoje é impossível pagá-la. O que nós temos feito com muita dificuldade é a manutenção do município que, no meu entendimento, ainda está aquém do que a população merece. O que está avançando no município são obras federais. Temos várias delas para ser lançadas com recursos federais. Do governo do Estado temos obras que se limitam ao acesso ao aeroporto e estamos aguardando assinatura de um convênio. Essa é a situação atual. Com relação às finanças em si, realmente está muito difícil administrar por conta do endividamento e as despesas da prefeitura, que tem uma folha muito alta. Temos a consciência de que precisa fazer uma grande reengenharia na prefeitura para melhorarmos o quadro para o próximo mandato. Foi um mandato que assumi com grande dificuldade, com instabilidade política, pois o Murilo está afastado por decisão judicial e desde então tenta retornar ao cargo, então isso causa uma instabilidade muito grande e fica difícil de governar.
Diário – As dívidas que o município possui o têm impedido de receber que tipo de recursos?
Zaeli – Estamos impedidos de receber recursos para infraestrutura. Por conta disso, temos lutado muito para trazer o PAC II, porque é um recurso a fundo perdido e não necessita de certidão negativa. Hoje, não estamos recebendo recursos para infraestrutura nem do governo federal, nem do governo do Estado. O PAC, como não tem essa prerrogativa, temos trabalhado muito forte em busca desses recursos e vamos lançar obras referentes ao PAC I no valor de R$ 70 milhões daqui a 30 dias. Esses recursos estavam perdidos desde 2009. Nós conseguimos recuperá-los, fizemos todos os projetos novamente e vamos lançar essas obras.
Diário - O senador Jayme Campos disse que tem destinado recursos em emendas federais a Várzea Grande, mas que o município estaria impedido de recebê-las por não possuir certidão negativa...
Zaeli – O político que quer ajudar Várzea Grande de verdade não precisa destinar o recurso para o município. Ele pode destinar para o Estado fazer a obra. Com relação a emendas parlamentares, a falta de certidão não é impedimento para destinar recursos ao município. Os deputados federais Homero Pereira, Eliene Lima, Pedro Henry e Valtenir Pereira têm feito investimentos aqui com emendas, além do senador Pedro Taques e do deputado estadual José Riva. Esses políticos não têm mais expertise que nenhum outro. Ou seja, se tivesse boa vontade de investir no município poderia alocar emendas via Estado para fazer as obras. Se quiser ajudar a saúde, a educação e a promoção social também não há nenhum impedimento por conta de certidão. Poderiam todos esses se quisessem ajudar Várzea Grande alocar recursos para a Saúde, que o município precisa e eles sabem disso.
Diário – O senhor anunciou a formação de um comitê estratégico para obter respostas rápidas para os problemas de Várzea Grande. Qual o resultado desses trabalhos?
Zaeli – O que nós temos de positivo é que hoje temos condições de visualizar qualquer situação da prefeitura. Avançamos bastante na questão da informação, pois quando entramos não tínhamos nenhuma. Softwares não funcionavam, os sistemas eram inconsistentes. Então, avançamos bastante na questão da resposta das informações.
Diário – O pré-candidato a prefeito de Várzea Grande pelo PMDB, Wallace Guimarães, teceu críticas à situação da Saúde do município e chegou a sugerir que o pronto-socorro seja transformado em maternidade e que seja construído um novo pronto-socorro, já que, segundo ele, este não possui estrutura suficiente. Como o senhor avalia o serviço de saúde oferecido à população de Várzea Grande?
Zaeli – A saúde era um dos principais gargalos que pegamos na administração. Pegamos uma situação com os médicos em greve. Não tinha remédio nas policlínicas nem no pronto-socorro. Os médicos estavam de braços cruzados e nós tínhamos somente um centro cirúrgico funcionando. Hoje, temos os salários não em dia por conta de dificuldades de alguns repasses, mas o pronto-socorro hoje funciona com quatro centros cirúrgicos. O pronto-socorro hoje tem uma cara nova e se você andar pelas policlínicas já tem remédio para a população. Está muito aquém do que necessita ser, mas está muito melhor do que quando pegamos. Dentro da realidade da prefeitura, estamos fazendo o que é possível fazer. Concordo com o deputado Wallace de fazer as críticas e também acho louvável ele dizer que precisa ser construída uma maternidade. É só ele mandar recursos que estamos prontos para fazer.
Diário – O senhor quer dizer, com isso, que ele não tem atuado em benefício do município?
Zaeli – Eu estou há nove meses aqui no cargo e não recebi nenhuma visita institucional do deputado Wallace. Em nenhum momento ele expressou com essa administração seu comprometimento e sua preocupação com o município.
Diário – Há um histórico de empreguismo e funcionários-fantasmas na prefeitura de Várzea Grande. Em sua gestão, foi feita alguma coisa para combater isso? A presença desses funcionários pesa nas contas da prefeitura?
Zaeli – Hoje, não tem mais esse quadro. Nós tivemos mais de 300 demissões de pessoas que não compareciam ao trabalho e muitas terão que devolver os recursos porque foi aberta sindicância e nós estamos em curso com recadastramento de verdade, que realmente é fundamentado para zerar essa questão do servidor que não comparece.
Diário – A demissão desses servidores resultou em uma economia de quanto na folha de pagamento da prefeitura?
Zaeli – De um modo geral, entre R$ 400 mil e R$ 450 mil por mês.
Diário – Este ano a prefeitura registrou superávit em relação à arrecadação de IPTU e ISSQN. Esses recursos serão investidos em que setores?
Zaeli – Esse superávit é o que vem mantendo a administração funcionando. É com esses recursos que fizemos reforma salarial para a categoria da saúde e na prefeitura como um todo. Os salários da prefeitura de um modo geral eram muito baixos. Eram salários que não tinham realmente como garantir comprometimento por parte dos servidores. Fizemos uma reforma salarial bastante grande e é com esse superávit que estamos mantendo a máquina funcionando.
Diário – Várzea Grande é conhecida como “Cidade Industrial”. Hoje, esse título ainda cabe a ela?
Zaeli – Temos que fazer uma análise da história. Quando a cidade recebeu esse título eram muito fortes as indústrias madeireira, ceramista e do arroz. Mato Grosso deixou de ser um polo madeireiro como um todo. A madeira é extrativismo. Também não se produz mais arroz em Mato Grosso. Vários cerealistas que atuavam aqui não atuam mais. Da mesma forma, a indústria ceramista. Hoje, a indústria ceramista está sendo substituída por outros materiais de construção, então temos que analisar também o comportamento da matéria-prima. Várzea Grande perdeu várias indústrias madeireiras de grande porte porque o Estado não tem sua economia baseada na extração de madeira. Por outro lado, Mato Grosso como um todo também trocou de garimpo para agropecuária, de madeira para a soja, depois para o algodão. Ou seja, Mato Grosso como um todo também teve essa mudança de comportamento da sua atividade econômica na área industrial. Mesmo assim, ainda existem várias indústrias na cidade. A principal fonte de empregos na cidade é a indústria. Indústria de refrigerante, frigorífica e de cerâmica ainda emprega muito, mas hoje o comércio está muito forte por conta também de Várzea Grande estar muito próxima de Cuiabá, que é um polo muito forte principalmente na questão do servidor público, que fomenta o comércio e movimenta a economia.
Diário – Por que, então, tanta dificuldade financeira? Há sonegação por parte dessas indústrias?
Zaeli – O principal problema de Várzea Grande foi o esvaziamento dos investimentos privados por conta de uma deficiência urbana. Uma cidade que não tem infraestrutura não recebe investimentos privados. Se essa infraestrutura tivesse sido criada, teríamos hoje grandes condomínios, indústrias que poderiam ter vindo se existisse uma malha viária, avenidas. Não temos avenidas na cidade para ter um trânsito mais rápido, não temos esgoto e não temos água, ou seja, por conta dessa deficiência de infraestrutura houve esvaziamento de investimentos como um todo e, por conta disso, a arrecadação de impostos tende a diminuir. Se analisarmos o valor desses impostos, como o IPTU, por exemplo, em Várzea Grande o valor médio é 20% menor do que o que é pago em Cuiabá. Existe essa discrepância na receita média do município. Rondonópolis hoje arrecada mais que Várzea Grande, mesmo tendo 100 mil habitantes a menos.
Diário – Em relação às obras para a Copa do Mundo de 2014, o senhor acha que o município está sendo preterido?
Zaeli – Temos três obras em andamento na cidade: Avenida da Guarita, Avenida Mário Andreazza e a reforma do aeroporto. Tenho colocado que qualquer obra que vier será relevante para o município. Temos cobrado do governador Silval Barbosa um compromisso de campanha de fazer um recapeamento nos bairros, mas, de modo geral, o que fizer para Várzea Grande vamos sempre agradecer. A gente sempre cobra mais, mas também entendemos a dificuldade pela qual o governo passa.
Diário – Como o senhor classifica sua relação com a Câmara de Vereadores?
Zaeli – Tranquila! A Câmara tem contribuído bastante. Só tenho a agradecer. Fizemos em seis meses a reestruturação do Plano Diretor, que a cidade não possuía mesmo após 60 anos de emancipação e foi a partir daí que possibilitou a vinda de alguns investimentos relevantes para o município, como uma empresa de biodiesel que vai gerar mais de 300 empregos e um shopping. No total, serão instaladas quatro grandes empresas no município, que devem gerar mais de dois mil empregos diretos e vai contribuir para que Várzea Grande crie sua independência em relação a Cuiabá. O várzea-grandense precisa ter suas demandas atendidas aqui e é nesse caminho que vamos trabalhar. Vamos trabalhar para que ele tenha aqui entretenimento, uma maternidade pública e emprego, para que não dependa de trabalhar em Cuiabá e também possa fazer suas compras aqui. É nesse sentido que temos que trabalhar, e não ficar 10, 15, 20 anos na política, de dois em dois anos fazer o mesmo discurso e isso não se tornar prática. Se você pegar os discursos de hoje, são os mesmos de 30, 40 anos atrás e as demandas continuam sem ser atendidas. Estamos lutando para que o governo do Estado faça uma rodoviária aqui. O secretário de Cidades, Nico Baracat, assumiu o cargo dizendo que traria uma rodoviária para Várzea Grande e até ontem nada foi feito. Ele nasceu e é morador daqui e até hoje não trouxe nenhum centavo da secretaria dele para a cidade. Também ainda não recebi nenhuma visita desse secretário. Estamos esperando ações concretas porque falar é fácil.
Diário – Como está seu projeto de reeleição?
Zaeli – Meu projeto de reeleição está em discussão dentro do PSD. Paralelo a isso, estamos discutindo com outros partidos. Nada de forma oficial, até porque ainda é prematuro. Temos trabalhado com naturalidade. Vou resolver isso até o final do mês. Temos discutido com outros partidos porque precisamos trazer aqueles que confiem no nosso projeto e vejam nele uma nova maneira de administrar Várzea Grande.
Diário – Com quais partidos o senhor tem conversado?
Zaeli – Conversamos com todos. O único partido com o qual não conversamos foi o DEM.
Diário – Algum deles já sinalizou a possibilidade de apoiá-lo?
Zaeli – Essa fase é uma fase de namoro. Se vai dar casamento, saberemos só no final do mês.
Diário – O PSD já garantiu ao senhor apoio total, principalmente financeiro, mesmo se o senhor vir a disputar contra alguém da família Campos?
Zaeli – Eu não vejo nenhuma dificuldade. O deputado José Riva, que para mim é um dos maiores líderes políticos do Brasil, tem seus projetos e não brinca de fazer política. Ele tem a postura de ser sempre verdadeiro em suas palavras e com certeza ele sabe o compromisso que tem conosco. Não tenho nenhuma preocupação com relação a isso.
Diário – Existe a possibilidade de o PDT indicar um vice para compor a chapa encabeçada pelo senhor? O PSD chegou a fazer esse convite ao partido?
Zaeli – O PDT é um partido com o qual temos grande afinidade. O quadro do PDT é formado por pessoas que são meus grandes amigos e com certeza devem me apoiar, porque sabem da minha história, da minha conduta e sabem que meu propósito é melhorar Várzea Grande. Houve essa conversa e os meus amigos do PDT, mais do que ninguém, me conhecem.
Diário - Como o senhor avalia a possível candidatura da esposa do senador Jayme Campos, dona Lucimar Sacre de Campos?
Zaeli – Eu quero falar de mim, não dos adversários. Na campanha, nós vamos debater.
Diário – Como o senhor avalia o interesse da família Campos em disputar a prefeitura do município após passar anos em seu comando?
Zaeli – Avalio que eles estão fazendo o que gostam.
Diário – O quê?
Zaeli – Estar sempre com a máquina na mão, desfrutando de cargos públicos.

Fonte: Diário de Cuiabá

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