quinta-feira, 24 de maio de 2012

Ano eleitoral... Ano de estatísticas

Por: Antônio Lemos Augusto

Apenas nove países no mundo têm porta-aviões. O Brasil é um deles.
Apenas quatro países do mundo têm porta-aviões com sistema de propulsão. O Brasil é um deles.
E daí?
Sei lá. Nem sei ao certo o que é sistema de propulsão. Vi na televisão, há algum tempo, em um desses programas de madrugada, cujo apresentador visitava o porta-aviões brasileiro, um meia-sola de 40 anos, comprado da França, se não me engano.
Estatísticas são assim: podem ser usadas a favor ou contra. Poderia dizer que um país com vasto litoral, como o Brasil, tem a obrigação de ter porta-aviões e não é nenhum mérito, ainda mais um de segunda-mão. Poderia dizer que a Costa Rica não tem nem marinha (nem exército, nem aeronáutica), quanto mais porta-aviões, e sobrevive. Poderia alegar que não vai ser um porta-aviões solitário que significará mais segurança no mar brasileiro. E poderia comprar o discurso ufanista: ôba, nós - brasileiros - temos um porta-aviões.
Virando a página, estatísticas - se não olhadas com desconfiança e muita contextualização - não servem para nada, além de forrar discursos politiqueiros. E, claro, neste ano estaremos inundados de discursos politiqueiros que mostrarão números dentro de perspectivas próprias, de interesse apenas de quem quer o voto, sem maiores significados.
Melhor dizendo, estatísticas são fundamentais até para desmascarar aquelas estatísticas que não cheiram bem. Um bom exemplo é a estatística vendida desde os tempos de Fernando Henrique Cardoso que demonstra que o Brasil está quase livre do analfabetismo... Ela é contraditória em relação à estatística que demonstra o elevado desemprego de pessoas com pouca escolaridade e que, sim, dentro de um conceito restrito de alfabetização podem ser consideradas alfabetizadas, mas se pensarmos em alfabetização como uma noção mais ampla, pobres brasileiros, analfabetos funcionais.
A imprensa ajuda um pouco no mar de deturpações dos números ao sabor do vento de quem os dita. Aliás, não raro a deturpação parte de um comunicador social, seja um jornalista ou um publicitário. Freqüentemente, é ele o verdadeiro autor do contexto relativo em que se encaixa o número para melhor vender a imagem do produto, um produtozinho em maioria de má qualidade, que é o candidato.
Surgem os milhões de reais conseguidos para isso ou aquilo, sem que ao isso ou ao aquilo seja mencionado o custo para que o eleitor saiba o quanto tais milhões de reais significarão efetivamente. Surgem os “aumentou tanto por cento” na ótica da situação ou o “piorou tanto por cento”, na visão da oposição. Tudo mastigado para que o cidadão apenas engula, sem pensar. É uma construção midiática e politiqueira que empurra o eleitor (que, distraído, cai na lábia) ignorância abaixo.
É como divulgar estatísticas afirmando que a violência nas ruas diminuiu, porque caiu o número de pessoas presas. Será que é de fato? Ou será que a redução do número de pessoas presas ocorreu porque a polícia está desaparelhada e os salários dos policiais estão defasados? Sim, a redução no número de pessoas presas pode ser verdade, mas a redução, vista dentro de um contexto relativo, pode enganar o eleitor mais desavisado.
Uma estatística mascarada com uma pinturinha aqui e uma reforminha ali, então!!! O governante vomita números sobre saúde pública e, para realçá-los, pinta o pronto-socorro da cidade, para não deixar dúvidas sobre o que fala. Por fora, bela viola. Por dentro, pão bolorento, diz o ditado. A escola está com aparência externa que é um brinco... Mas, dentro, não tem carteiras, não tem equipamentos... Um percentual “x” de ruas foi pavimentado, mas o valor das licitações públicas não é divulgado, porque talvez se descobrisse que a pavimentação feita representa bem menos do que foi gasto.
Portanto, senhores, o Brasil é um dos quatro países do mundo que tem porta-aviões com propulsão, junto com os Estados Unidos, França e Rússia. Que alívio!
Antônio Lemos Augusto é jornalista, advogado e professor universitário em Cuiabá-MT. E-mail: lemosaugusto@hotmail.com

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