quinta-feira, 19 de abril de 2012

Tratamento contra câncer recebe verba, mas faltam médicos no Brasil

DIARIODEPERNAMBUCO.COM.BR

Na tentativa de melhorar o atendimento aos pacientes com câncer, o Ministério da Saúde anunciou o investimento de R$ 505 milhões na rede de tratamento da doença e na compra de equipamentos de radioterapia destinados às áreas de maior carência do país – os aparelhos serão instalados nas regiões Norte e Nordeste. No entanto, o programa só vai suprir 25% da demanda e esbarra em outro problema, reconhecido pela própria pasta: a falta de médicos capacitados.
Com esses recursos, o ministério planeja renovar 32 centros de tratamento já existentes e instalar 48 em cidades do Norte e do Nordeste. Diferentemente do modelo adotado hoje, no qual os municípios recebem somente os aparelhos, a pasta agora vai construir centros médicos nos locais onde serão utilizadas as máquinas. Com a medida, o governo espera minimizar um problema recorrente no país: equipamentos encaixotados por falta de local para uso. De acordo com o ministro Alexandre Padilha, a intenção de ampliar os sistemas de atendimento partiu da presidente Dilma Rousseff, em acordo firmado em março do ano passado. O objetivo é reduzir a desigualdade no acesso ao tratamento, geralmente concentrado nas capitais.
No entanto, especialistas alertam que apenas o recurso financeiro não será suficiente para sanar os problemas. O diretor-geral do Instituto Nacional do Câncer (Inca), Luiz Antônio Santini, disse na terça-feira, em audiência pública na Câmara dos Deputados, que o maior problema da oncologia no país atualmente é a falta de profissionais. “Claro que precisamos de recursos, mas isso não basta. O principal problema que a assistência ao câncer enfrenta hoje é a falta de recursos humanos”, declarou. De acordo com ele, há déficit de médicos, principalmente nas especialidades que tratam o câncer, tanto em capitais quanto em regiões mais distantes.
O ministro Alexandre Padilha, no entanto, argumenta que algumas medidas estão sendo adotadas para amenizar o problema. Ele citou programas de bolsas de estudo e incentivos, além do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), que vinculam a residência médica ao trabalho prestado em regiões carentes. A expectativa é de que em cinco anos sejam criados 80 centros, com expectativa de atender 28,8 mil pacientes. De acordo com o secretário de Atenção à Saúde do ministério, Helvécio Magalhães, a ideia é de que, em uma década, todos os brasileiros tenham acesso ao tratamento a poucos quilômetros de casa. Uma das medidas que, segundo ele, tornará isso possível, é uma nova portaria do ministério, que desvincula a relação entre a população de um município e a possibilidade de instalação dos centros de tratamento.
Entretanto, ainda falta muito para que os cidadãos sejam atendidos com facilidade. Atualmente, existem cerca de 290 hospitais capacitados para o tratamento radioterápico, porém a estimativa da Sociedade Brasileira de Radioterapia é de que seriam necessários cerca de 400 centros para atender toda a população. Segundo o presidente da entidade, Robson Ferrigno, a compra de equipamentos anunciada pelo governo não será suficiente. “Aproximadamente 60% dos pacientes que têm câncer vão precisar, em algum momento, receber radioterapia. São cerca de 500 mil novos casos por ano. Desses, 300 mil vão precisar da terapia. O sistema está se modernizando, mas a velocidade em que isso está ocorrendo ainda está aquém da necessidade do número de pacientes com câncer.”
Espera de 4 meses

Brasília – Relatório do Tribunal de Contas da União (TCU) divulgado no fim do ano passado aponta que apenas 15% dos pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) conseguem iniciar as sessões de radioterapia dentro do prazo regular de 30 dias após o diagnóstico de câncer. A média de espera costuma ser de quatro meses. Para o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, a compra e a renovação dos aparelhos de radioterapia vai diminuir essa demora nos estados.
Além de reduzir o tempo de espera, a aposta do governo no setor visa estimular empresas a produzir equipamentos destinados aos tratamentos radioterápicos no país. “Vamos exigir que as indústrias que produzirem no Brasil tenham vantagens. Esse mecanismo permitirá atrair pelo menos uma fábrica para o país”, anunciou Padilha. A meta é de que uma unidade produtora seja instalada já no próximo ano e entre em atividade em 2015. Com a produção em território brasileiro, a pasta espera economizar R$ 20 milhões por ano.
A preferência pela indústria brasileira é prática comum no ministério. Como exemplo dessa política, o ministro destaca um novo medicamento para o tratamento de leucemia mielóide, o mesilato de imatinibe, que passará a integrar o rol da produção nacional ao lado de vacinas e retrovirais. A fabricação do composto para tratar a leucemia vai, segundo a pasta, gerar economia anual de R$ 70 milhões.

Do Etado de Minas

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