quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Adriana Accorsi é a 1ª mulher a dirigir a Polícia Civil goiana.

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A nova delegada-geral quer deixar, como marca, o rigor contra a criminalidade e o respeito à vida. O desafio é motivar delegados, agentes e escrivães, diminuir a superlotação nas delegacias e a sensação de insegurança

Por Mantovani Fernandes

Ex-titular da Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente e ex-superintendente de Defesa dos Direitos Humanos da Secretaria da Segurança Pública e Justiça, Adriana Accorsi é a primeira mulher a dirigir a Polícia Civil goiana. Filha do ex-prefeito de Goiânia Darci Accorsi e de perfil técnico-operacional, Adriana se destacou na DPCA pela atuação firme nas investigações de crimes e chega ao comando da Polícia Civil com o desafio de motivar delegados, agentes e escrivães, diminuir a superlotação nas delegacias e a sensação de insegurança e contribuir para mudanças na lei de execuções penais.

Entrevista:

Quais são os principais desafios à frente da Polícia Civil?

Adriana Accorsi - Eu vejo que os desafios são muitos mas nós não sentimos temor porque, como policiais, nós temos que estar preparados para todas as missões que nos são colocadas. Primeiramente essa situação de Goiânia e Goiás, com essa sensação de insegurança que tem levado a população a reclamar muito das forças de segurança e faz necessária uma forte ação de pacificação social. Em segundo lugar a própria responsabilidade de ser a primeira mulher a dirigir a instituição, o que pesa bastante, pois nossa administração se refletirá junto a  uma futura colega que poderá vir a ocupar este lugar. Por fim, outro grande desafio são as condições da Polícia Civil hoje. Nós temos um déficit de pessoal importante, relevante, que faz a diferença. E também a questão dos prédios, que precisam ser ampliados, reformados, adequados. Sem falar do déficit salarial, pois estamos já há muitos anos sem reposição salarial. Enfim, são vários os problemas relacionados à crise de confiança da sociedade e à própria dignidade do policial. São várias as questões que nós temos que trabalhar, em função da sociedade em geral e do policial, então, os desafios são muitos mas estamos dispostos a enfrentá-los.
Na sua avaliação, essa sensação de insegurança é exarcebada ou corresponde à realidade?

Adriana Accorsi - De forma alguma é exarcebada. É um sentimento que da comunidade e temos que respeitar. Nós, como policiais, também somos sociedade, também somos comunidade e temos que respeitar esse sentimento. Nós acreditamos que várias razões, nem todas relacionadas à polícia judiciária, levaram a uma onda de violência. Na história de todas as cidades, estados e países há períodos com histórico de ondas de violência, por várias motivações. Mas o que importa é que a população está se sentindo amedrontada e é papel das forças de segurança dar uma resposta a este sentimento e devolver a sensação de segurança, principalmente em Goiânia.
Quais são os projetos de curto e médio prazos?
Adriana Accorsi - As melhorias nas delegacias especializadas e nas específicas que eu citei vão ser discutidas com os titulares. Eu já comecei a me reunir com os colegas para verificar as principais necessidades. O Plano de Redução da Criminalidade, apresentado na semana passada, abre possibilidade de acréscimos, adendos, então, as áreas que não foram contempladas irão receber atenção. Não há muitos segredos, nós sabemos quais são as principais necessidades a vamos trabalhar muito para atendê-las e auxiliar os colegas.
Sua gestão vai ser de mudança ou continuidade?
Adriana Accorsi - Eu quero crer que nós teremos uma gestão de equilíbrio. Ao mesmo tempo em que há um ímpeto de buscar o novo e promover mudanças, nós temos que ter respeito pelo que vinha sendo feito e não provocar uma paralisia ou crise de continuidade. Quero tranquilizar os colegas de que não promoverei grandes mudanças neste momento, mas vou cobrar dedicação e respeito ao conhecimento e o trabalho de cada um. Quero dar à sociedade uma reposta convincente, de elucidação dos crimes, responsabilização dos culpados e redução nos índices de criminalidade.
É a sociedade que cobra ou a Polícia Civil que chama pra si o trabalho de prevenir crimes?
Adriana Accorsi - Um pouco de cada. O papel da Polícia Civil é investigar, é determinar a autoria e encaminhar o caso para o Judiciário. Isso nós temos feito, com grande eficiência e números bem positivos, mas nós não podemos ficar indiferentes ao clamor da sociedade. Prevenir é uma responsabilidade da Polícia Militar, uma força importantíssima da Segurança Pública, com a qual temos uma parceria excelente. Mas o Policial Civil tem a percepção de que, ao determinar a autoria e responsabilizar de forma rigorosa, isso também serve de lição. Uma atuação eficiente é didática, pois ensina que a punição existe e acontece. Agora, temos que reconhecer que o crime de homicídio é de difícil prevenção. Nenhuma polícia tem como adivinhar que uma pessoa quer matar a outra, ou vai ficar irado a ponto de matar. Além disso, ninguém liga para avisar que está se sentindo ameaçado ou contar que sabe que alguém pretende cometer um assassinato.
Em que a passagem pela Superintendência de Defesa de Direitos Humanos vai auxiliá-la ou influenciar seu trabalho como Delegada-Geral?
Adriana Accorsi - A passagem pela Superintendência ajuda muito, pois foi minha primeira experiência administrativa. Sempre trabalhei em delegacias, ou seja, sempre fui operacional. A Superintendência me deu uma experiência administrativa importante, inclusive com um novo olhar sobre a segurança e um conhecimento maior das questões que envolvem a área. Também me sensibilizou para a dor dos que não sabem onde estão os seus. O sofrimento de ter alguém desaparecido é diferente, é único, fica dividido entre a esperança do reencontro, a ansiedade por notícias e o anseio por justiça.
A senhora tem um perfil técnico e ocupa um cargo político. Como irá transitar entre os imperativos técnicos e as necessidades políticas?
Adriana Accorsi - Cada líder, cada chefe, tem suas características e deve tentar ser fiel à sua essência, mas eu sei que vou precisar e vou poder contar com colegas que possuem, além da experiência administrativa, experiência política. Vamos alcançar o equilíbrio entre experiência, juventude e vontade de participar de ações.
Recentemente a senhora declarou que “prender o criminoso não significa que ele não voltará a cometer crimes”. É possível diminuir a criminalidade com a lei de execuções penais em vigor atualmente? A senhora, como trabalhadora da Segurança e estudiosa da área, defende mudanças na lei?
Adriana Accorsi - Com certeza! A legislação penal sempre tem que ser aprimorada e seguir as necessidades da sociedade, à medida que elas vão surgindo. Eu, particularmente, defendo muito a adoção de penas alternativas para práticas de crimes mais leves, enquanto que os crimes mais graves precisam ser punidos com maior rigor. Então, se hoje nós temos uma legislação que, às vezes é branda com alguém que comete um crime de furto ou estelionato, ela tem que ser muito, muito mais severa com quem comete um assassinato, um estupro, um sequestro, um latrocínio. Eu concordo com as penas alternativas, é um caminho seguido em muitos países. O juiz tem opções, além da prisão, para punir quem, por exemplo, está começando na vida criminosa e possa, porventura, se recuperar antes de prosseguir na vida criminosa, graças a uma pena alternativa. Agora eu acho que deve haver modificações no que diz respeito às pessoas realmente perigosas, que têm transtorno antissocial, como pessoas que praticam latrocínio, pedofilia e estupro de mulheres e crianças. Defendo mais rigor para essas pessoas que, infelizmente, não permanecem presas. Precisamos refletir pois hoje, uma pessoa que comete um crime contra o patrimônio, fica presa, enquanto que uma outra, que comete um crime contra a vida, um bem inegociável e irrecuperável depois de perdido, fica solta por conta de várias situações que existem hoje na nossa legislação. Um bom exemplo é a possibilidade da pessoa poder se apresentar dias depois do crime e responder o processo em liberdade, saindo pela porta da frente da delegacia. Isso causa indignação de toda a sociedade, inclusive de nós policiais.
A senhora tem um trabalho reconhecido, perfil técnico e não tem desgaste. Com estas credenciais, a senhora considera a possibilidade de procurar os parlamentares goianos e estimulá-los a levar este debate para o Congresso Nacional?
Adriana Accorsi - Fiz muito isso como chefe da DPCA, a Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente. Procuramos os legisladores que trabalhavam com a questão da pedofilia, da exploração sexual infanto-juvenil... Sempre fizemos questão de levar nossos pensamentos, nossas ideias e sugestões, para conseguir uma punição mais efetiva para os criminosos. A polícia, muitas vezes, fica enxugando gelo. Todos ficamos frustrados, de realizar investigações especialmente difíceis e, no fim das contas, não conseguir a devida punição ao autor do delito. Então, com certeza, eu vou manter este contato com nossos legisladores e tentar demonstrar a importância de abraçar este debate.
Um grande desafio é a superlotação das delegacias. Quais são as perspectivas para o próximo ano?
Adriana Accorsi - Realmente, este é um problema muito grave, que eu acompanhei de perto como superintendente de Direitos Humanos. Eu acredito que existem ações que serão realizadas em breve e que, com certeza, eles serão resolvidos também em breve, principalmente com a ida do delegado Edemundo Dias para a Agência Prisional. Ele chega lá tendo, como principal objetivo, resolver esta situação das delegacias.
Como motivar os agentes, delegados e escrivães que agora estão sob o seu comando?
Adriana Accorsi - Além de estabelecer como objetivo uma busca incessante da melhoria das condições de trabalho, eu acredito que é preciso valorizar e estimular esta vontade que os policiais têm de prestar um bom serviço para a sociedade. Nós também queremos deixar cada vez mais claro para a população o esforço, a dedicação e a importância do trabalho do Policial Civil, agindo com transparência e valorizando a integração com as demais forças de segurança.
Qual vai ser a marca da sua gestão à frente da Polícia Civil?
Adriana Accorsi - Com certeza muito será dito pela história mas, o que eu gostaria que ficasse, é a marca de uma administração prática, operacional, de polícia agindo, uma gestão que propõe um rigor muito grande contra a criminalidade e um respeito à vida. Como não poderia deixar de ser, vamos priorizar as delegacias que trabalham na elucidação dos crimes contra a vida, como a Homicídios e a Denarc. Além de que, é claro, vamos dar importância para as delegacias que trabalham com a proteção da infância, da juventude e das mulheres. Eu trabalhei na área e sei que é algo que incomoda muito, dói muito na sociedade e são crimes que não podem, de forma alguma, ser subestimados.

FONTE: - GoiasAgora

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