Brasília é conhecida por algumas marcas que a tornaram famosa, no Brasil e no mundo. A corrupção é uma delas, mas isso não é privilégio apenas da capital federal, porque a malversação do dinheiro público está entranhada na cultura política brasileira, desde os tempos do “rouba mas faz”, e permeia Câmaras de Vereadores, prefeituras e governos estaduais.
E há mesmo uma espécie da leniência de parcelas expressivas da sociedade que parecem já estar conformadas com o roubo rotineiro aos cofres estatais, ou porque perderam a esperança de que algo mude nesse sentido ou porque entendem que esse tipo de prática não constitui crime. Para os que têm essa visão distorcida, crime é o praticado por quem furta bujão de gás ou varal de roupas – que, aliás, precisa e deve ser punido na proporção do dano causado às suas vítimas, assim como também tem que ser penalizado, e com maior rigor, os que assaltam o dinheiro arrecadado pelos impostos.
Outra marca brasiliense, além do arrojo da sua arquitetura futurística, é a de que se tornou um imenso cabidão de empregos com a avalanche de criação de dezenas de novos ministérios e secretarias especiais (com status de ministério) pelo então presidente Lula e cuja farra, pelo jeito, terá continuidade com a presidente Dilma, que apesar dos cortes feitos no orçamento, estaria propensa a criar mais dois ministérios, o que elevaria o número dessas pastas para 39.
Esse inchaço monumental, inclusive, gerou uma espiral de gastança que, só com aluguéis de espaços físicos para abrigar, tantos ministros, ministras e o enorme séquito de aspones e funcionários, a União gasta cerca de 100 milhões de reais – fato que motivou uma reportagem no jornal Estado de S. Paulo, publicada no domingo (13), apontando que esse dinheiro daria para construir 2.700 casas populares.
Muitas dessas pastas, por serem improdutivas, e mais servem para barganhas e acomodação política, poderiam ser fechadas que a população não sentiria nenhuma falta. Ao contrário, sentiria alívio por saber que com a economia feita, poderia sobrar mais para obras e serviços dos quais o povo tanto necessita.
Mas, Brasília não é só feita de aspectos negativos e inerentes ao poder, tem o seu lado bom. Um deles, positivo, é o representado pelo Pacotão, um dos blocos mais irreverentes e críticos do país - especialmente ao poder político e suas instituições – que acaba de completar 33 anos de fundação, cujo aniversário teve até lançamento de livro contando a história do bloco, que nasceu na folia carnavalesca, para satirizar ao menos durante quatro ou cinco dias a outra folia, a da política, que segue o ano todo.
São mais de três décadas de gozações, sátiras e protestos contra os que, situados no andar de cima, despejam seus pacotes de mais impostos e arrochos salariais, sobre a cabeça da galera que está em baixo.
O livro é um catatau robusto de 400 páginas, que vou tratar de ler, tão logo chegue às livrarias cuiabanas. Assim como a maioria dos brasileiros e brasilienses, curto ver os poderosos (e poderosas) de plantão, metidos em saia-justa. Retratados pelo lado da galhofa que eles mesmos estão sempre protagonizando.
E que seria apenas motivos para rir, se não fosse o desperdício de verbas públicas que a manutenção dessa corte perdulária custa aos contribuintes brasileiros.
CALENDÁRIO DIFERENCIADO
Passando um zíper no capítulo acima, vamos falar, doravante e até o final desta coluna, sobre algumas particularidades tipicamente brasileiras, como a da contagem do tempo que por aqui tem calendário diferenciado do restante do mundo. Vejamos:
As coisas no Brasil começam a funcionar para valer a partir desta segunda quinzena de março, uma semana após o carnaval, tempo suficiente para se curtir a ressaca da folia. Nenhum país do mundo pode se dar ao luxo de ficar tantos dias em compasso de espera. Funcionando em marcha lenta, devagar quase parado...
Qualquer outra economia do planeta, emergente ou desenvolvida, não agüentaria tantos dias santos, feriados e pontos facultativos. Fora as sextas e segundas, ou seja, véspera e término de final de semana, geralmente “enforcadas”, porque ninguém é de ferro neste patropi. Possivelmente, vai ver, suportar tantos folguedos, sem quebrar de vez, seja o grande “milagre brasileiro”.
Capaz de superar o estigma lançado por De Gaulle, lá pelos idos dos nos 70, e quando ao se referir ao Brasil, disse que este não é um país sério. Se não é sério, é alegre. E com tantas festividades em seu calendário que beira a irresponsabilidade. Talvez porque seja mesmo “abençoado por natureza”, como fala a letra do samba famoso. Talvez porque goste mesmo de ficar deitado eternamente em “berço esplêndido”, fazendo jus à letra do seu hino.
O fato é que, para muitas instituições públicas e governamentais, o ano tem apenas seis meses ou menos. Haja vista, por exemplo, o contingenciamento nos orçamentos da maioria dos órgãos mato-grossenses, nos três primeiros meses do ano e o “estouro” do mesmo orçamento, conforme sempre ocorre, nos três últimos meses.
Bom começo de ano real para todos!
Mário Marques de Almeida é jornalista. E-mail: mario@paginaunica.com.br
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quinta-feira, 17 de março de 2011
Artigo: Mário Marques relata sobre "As marcas de Brasília e do Brasil"
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