Sinézio Alcântara-de Cáceres
Cerca de cinto toneladas de pasta-base de cocaína saem, através da região da fronteira, passando por Cáceres, para abastecer 80% do consumo de drogas no país. A estatística foi revelada pelo coordenador do Grupo Especial de Fronteira (Gefron), procurador de Justiça Paulo Prado, durante o 2º Encontro de Fronteira, realizado nos dias 10 e 11, no Campus da Unemat, em Cáceres. O tráfico de droga é facilitado pela extensa faixa de fronteira. Além das inúmeras estradas vicinais, as chamadas “cabriteiras” que dão acesso ao território boliviano, a cocaína entra para o Brasil, através do espaço aéreo, onde são jogadas de aeronaves nas fazendas dos traficantes, bem como pelo rio Paraguai.
O juiz da Vara Criminal e de Execuções Penais, Alex Nunes de Figueiredo, chega a afirmar que a economia do município poderia “quebrar” se acabar, totalmente, o tráfico de droga na região. Ele diz que “Cáceres não tem indústria, falta infra-estrutura, possui uma economia voltada para o rio Paraguai. E, a pecuária não traz riqueza e o dinheiro também vem do servidor público. É uma cidade que tem um padrão de vida um tanto alto. Eu fico me perguntando de onde vem esse dinheiro?”, indaga.
O juiz é conhecido e ao mesmo tempo temido pelos traficantes que atuam na fronteira. Figueiredo é comparado ao juiz Odilon de Oliveira, de Ponta Porã (MS) que morava no Fórum, por segurança, por ter condenado mais de 100 traficantes na região. Em Cáceres, em menos de 7 anos, atuando no ramos de execuções penais, o juiz Alex de Figueiredo, já condenou mais de 300 traficantes. Foi ele que expediu os mandados de prisão de mais de 60 pessoas, envolvidas nas operações “Volver” e recentemente “Re- Volver” que, mandou para cadeia, inclusive, duas advogadas do município Ketlleen Karitas de Oliveira e Lucy Silva. A primeira continua presa.
O prefeito Túlio Fontes contesta a afirmação do juiz. Em nota, ele disse que “Cáceres se mantém por sua riqueza histórica, cultural, turística e pelo trabalho de seu povo valoroso e acolhedor. “Cáceres é uma cidade acolhedora, com sólida base econômica na pecuária”. O Município é um dos maiores produtores de carne bovina do país- e no turismo, cujo exemplo maior, mas não único, é o Festival Internacional de Pesca, e que pretende também se industrializar através da ZPE (Zona de Processamento e Exportação). É sede da Universidade de Mato Grosso, do Hospital Regional, de um importante Batalhão do Exercito. Mas o que Cáceres tem de mais importante e valoroso é seu povo, formado pelos filhos da terra e pelos que aqui foram acolhidos com respeito e cordialidade, todos trabalhando pelo crescimento econômico, cultural e social dessa importante região do Estado de Mato Grosso”.
O 2º Encontro de Fronteiras realizado em Cáceres – o 1º aconteceu no ano passado em Ponta Porã (MS) – teve objetivo encontrar alternativas para combater o tráfico internacional de drogas. As autoridades defenderam a união de esforços entre todos os entes da segurança pública para fechar a fronteira contra essa atividade criminosa. O procurador Paulo Prado defende a instalação de radares, satélites, aumento do efetivo e até a aquisição de um avião não tripulado para fiscalizar com maior intensidade a região.
O secretário de Estado de Justiça e Segurança Pública, Diógenes Curado, informou que o governador Silval Barbosa, já autorizou a aquisição de, pelo menos, mais dois helicóptero para ser utilizado no combate a criminalidade na fronteira. O comandante geral da Polícia Militar de Mato Grosso (PMMT) coronel Osmar Lino de Farias, assegurou que o governo deverá ampliar o número do efetivo do Gefron para combater com mais intensidade o narcotráfico. Conforme Farias, o efetivo da PM deverá ampliar de 7 para 12 mil policiais nos próximos anos.
O procurador-geral de Justiça de Mato Grosso. Procurador-geral de Justiça de Mato Grosso, Marcelo Ferra, destacou que além de uma política pública de combate ao tráfico, deve haver um “endurecimento nas relações externas. Temos que chamar o país vizinho para conversar. A Bolívia poderia fazer muito mais”.
Presente no encontro o comandante da Policia de San Matias, capitão Álvaro Peres, garantiu que “a policia boliviana trabalha dia e noite” no combate ao narcotráfico. O encontro que encerrou na noite de sexta-feira reuniu procuradores, promotores, juízes, políticos, policiais e militares de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e Rondônia.
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