sábado, 20 de março de 2010

Goiânia entre as mais desiguais do mundo

Relatório da ONU coloca a Capital entre cidades com maior diferença de renda. Prefeito diz que estudo é um equívoco

Taynara Borges

Goiânia está entre as cinco cidades mais desiguais do mundo. O dado é fruto de uma pesquisa divulgada no último dia 10 pela Organização das Nações Unidas (ONU). Atrás apenas das cidades sul-africanas de Johannesburgo, Buffalo City e Ekurhuleni, as três cidades brasileiras de Belo Horizonte, Fortaleza e Brasília se juntam à Capital nesta triste estatística. O prefeito Iris Rezende fica contrariado e diz ser este o segundo equívoco que a entidade comete com Goiânia.
Esta mesma pesquisa foi feita em 2008 e realizou os mesmos apontamentos. Na ocasião, Iris Rezende alegou ter entrado em contato com a ONU para se inteirar da metodologia utilizada por seus profissionais na apuração destes dados, mas não conseguiu resposta. Segundo a organização, a pesquisa foi feita com base no chamado Coeficiente de Gini, um número entre 0 e 1 utilizado para calcular a desigualdade de distribuição de renda ao redor do mundo. Goiânia teve uma média de 0,6, índice muito alto ao se levar em conta que quanto mais próximo de 1, maior a desigualdade encontrada naquele ambiente. Nas cidades sul-africanas, o número encontrado foi acima de 0,71.
O professor do Instituto de Estudos Sócio-Ambientais da Universidade Federal de Goiás, doutor em Geografia Humana pela Universidade de São Paulo, João Batista de Deus, aponta ranços históricos como responsáveis pela disparidade social tão aguda em nossa Capital. De acordo com ele, a origem da cidade foi marcada pela função de prestação de serviço para o meio- norte do País por meio da agricultura modernizada. Por isso sempre foi uma área de concentração de investimentos.
Entretanto, o prefeito Iris afirma não conseguir ver com clareza quais são os dados reais nos quais os técnicos se baseiam para realizar estas indicações. Uma de suas colocações é de que estes profissionais não estiveram na Capital para realizar a pesquisa. Ele diz que cidades como Salvador, Rio de Janeiro e São Luís possuem esgoto a céu aberto, algo que não ocorreria na Capital goiana. Ele terminou por fazer uma apelo, cobrando da ONU que envie estes técnicos para uma visita à Capital. E determinou a funcionários da prefeitura que levantem junto à organização os dados nos quais se fundamentam a pesquisa.
“Goiânia, hoje, ainda é grande formadora de mão de obra especializada, o que gera uma maior concentração de renda”, explica João Batista. “Vemos hoje a grande quantidade de prédios e condomínios de luxo espalhados pela cidade. É fácil perceber essa disparidade”, completa. Por isso mesmo a Capital é hoje grande alvo de migrantes. Famílias vêm de várias partes do País à procura dos empregos gerados por estes novos investidores.
Este é um exemplo clássico de como a cidade gera riqueza e pobreza ao mesmo tempo. Pessoas desqualificadas vêm para a cidade na procura de melhores condições de renda, que são oferecidas, por sua vez, por empresários já estabilizados na chamada classe alta. Por serem desqualificadas, aquelas se submetem a trabalhos pesados e de baixa remuneração, enquanto estas mantêm o status quo em contínua ebulição.
E os “patrões” não são só cidadãos goianienses. É cada vez maior o número de empresários e businessmen que vêm de todos os Estados brasileiros a fim de encontrar melhor qualidade de vida. É a chamada “deseconomia de aglomeração”, explica o especialista. Ele diz que “na ânsia de sairem dos problemas da cidade grande, estas pessoas vêm para Goiânia, que possui boa qualidade de vida, estrutura de serviços, é próxima a Brasília, oferece fácil ligação com São Paulo, possui locais requintados e sofisticados, possui estrutura médico-hospitalar fantástica e ainda é uma cidade onde se pode andar com os vidros do carro abertos. E o melhor, o custo de vida é razoável”.
Porém, nem tudo são flores. Segundo o professor, isso pode se tornar um pesadelo a curto ou médio prazo. De acordo com ele, toda esta ostentação pode acabar por gerar todos aqueles problemas dos grandes centros: grandes engarrafamentos, elevação do custo de vida, além de agravar os problemas relacionados à segurança.
“Para que não sejamos forçados a confrontar com essa realidade, é preciso que o governo invista em políticas públicas que ofereçam, de alguma forma, possibilidades de redução desta desigualdade”, ressalta. Ações como o aumento do salário mínimo acima da inflação e, principalmente, a possibilidade de acesso a um ensino de qualidade a toda a população foram colocadas por ele como primordiais.

DM

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