sábado, 20 de março de 2010

ARTIGO - Marina Silva - Uma chama de luz no Congresso

Enildes Corrêa

Em Brasília, tive a grata satisfação de conhecer pessoalmente a senadora Marina Silva, ex-ministra do Meio Ambiente, que vem a Cuiabá para participar como conferencista do 3º Congresso Brasileiro de Jornalismo Ambiental, que acontece entre os dias 18 e 20 de março no Centro de Eventos do Pantanal.

Encontrei-a  inesperadamente no Túnel do Tempo do Senado Federal, num fim de tarde de pouco movimento naquele local. Envolta em um xale verde, o verde da esperança, da renovação - e por que não dizer - da ressurreição, a sua expressão física lembrou-me as características do povo indiano.

Sinto muita admiração e respeito pela “senadora da floresta”. Então, não me contive diante da oportunidade de chegar mais perto dessa grande figura feminina da política brasileira, uma das pessoas que sintetiza, atualmente, os ideais daqueles que querem ver a vida preservada em todas as gerações, com dignidade e justiça social para todos. O reconhecimento da sua atenção e dedicação em defesa das causas ambientais transcendeu as fronteiras do Brasil e, em 1996, recebeu nos Estados Unidos o mais importante prêmio de meio ambiente do planeta, o Goldman Environment Prize. O seu nome passou a ser conectado com os heróis da Terra.

Ela, que viveu na floresta amazônica até a adolescência, que aprendeu o ofício da extração da borracha desde muito cedo com o seu amado pai, que vivenciou na própria pele o sofrimento dos pobres, que teve a saúde fragilizada por três malárias e cinco hepatites, que só foi alfabetizada aos 17 anos pelo Mobral. Contudo, após cinco anos, ingressou na faculdade no Acre, cursando com louvor o curso de História e tornou-se professora. Ao mudar-se para a cidade estranhou o clarão da luz elétrica e o canto dos galos fora de hora, acostumava que estava com o escuro e o silêncio da noite na mata, com a iluminação em casa à luz de lamparina somente.

A sua história pessoal, exemplo de superação de dificuldades e desafios, movida pela fé em Deus, trouxe à minha memória uma conversa com o meu sábio pai, que viveu cerca de trinta anos em contato direto e estreito com a natureza: “a gente não se diminui nem se exagera. A gente não desfaz da vida nem dos que tem a vida. O dia de amanhã ninguém sabe. Deus sabe o que faz e nós não sabemos o que falamos. O impossível acontece. A vida é como uma roda. E a roda gira. E quando gira, tudo muda. Quem está em cima desce e quem está em baixo sobe”.

Ao parar e conversar alguns minutos com a senadora, fui surpreendida com a sensação de extremo bem estar que senti em sua presença. Uma sensação que só experienciei ao lado de pessoas que conhecem e vivenciam a simplicidade e o estado de paz interior em suas vidas. Dentro de mim, um reconhecimento imediato de que estava na frente de alguém que num nível muito profundo do ser, distinguiu-se da multidão.

Que constatação surpreendente! É gratificante saber que uma pessoa com a profundidade e a qualidade de ser de Marina Silva está presente no Congresso Nacional, influenciando a muitos com uma abordagem diferenciada e iluminadora. Expressa em si a natureza da flor de lótus – característica interna que tanto ansiamos e precisamos nos nossos parlamentares. Como a flor de lótus, não se contaminou pelo lodo, que, infelizmente, existe demais no meio político e fez da atuação política o seu sacerdócio. Permaneceu ética, simples, de fato, democrática e comprometida com a luta de sua gente por melhores condições de vida.

E a missão de Marina - de iluminar o ambiente ao seu redor - começou quando ainda pequena. Filha de pais cearenses, a família se reunia nas noites do Seringal Bagaço (Acre), local de nascimento da senadora, para ler e recitar cordel. O pai, Pedro Augusto, sempre incumbia as filhas da tarefa de segurar a lamparina.

Solicitei-lhe uma entrevista, a qual me foi concedida. Ao nos despedirmos, dirigiu-me um olhar que derramou em mim uma benção e disse: “Que Deus te abençoe”. Reportei-me às palavras do jornalista, Dimas Kunsch, em seu livro Marina Silva: Fé e Política, no qual pesquisei alguns dados da biografia da senadora da floresta que mencionei neste artigo: “de quantos olhares como esse precisa o meu país para ser feliz?”.

O Documento

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