segunda-feira, 20 de julho de 2009

ARAGUAIA- Viagem pela BR-158 é caótica

Rodovia que liga Mato Grosso ao Pará não tem sinalização, segurança e está em com condições precárias

A partir de Ribeirão Cascalheira, não há mais asfalto, é colocado ônibus mais velho, chamado pelas pessoas do local de ""canela seca

Caroline Rodrigues
Da Redação

Buracos, falta de sinalização, segurança e condições precárias da rodovia. Este é o cenário para quem transita pela BR-158, que liga o Estado de Mato Grosso ao Pará pelo Vale do Araguaia, conhecido também como ""Vale dos Esquecidos"". A viagem entre Cuiabá e Confresa dentro de um ônibus intermunicipal, é marcada por reclamações. Os motoristas falam sobre as dificuldades em transitar pela estrada, que é de chão em grande parte do trecho.

Até a cidade de Ribeirão Cascalheira, a BR-158 é asfaltada, então a viagem é tranquila e realizada em um ônibus de qualidade. Mas, no local, a empresa troca para um veículo inferior, mais velho e chamado pelas pessoas do local de ""canela seca"".

O motorista Rubens Paulo, 41, e Célio Divino, 36, fazem percurso de 780 km entre as cidade de Barra do Garças e Confresa há cerca de 3 anos e relatam os obstáculos do trabalho, que é cansativo e também perigoso.

O horário dos ônibus que saem de Confresa têm menos de 30 minutos de diferença. Isto acontece por uma questão de segurança. O objetivo, segundo Rubens, é que um veículo dê assistência para o outro em caso de problemas no trecho.

As dificuldades variam conforme o período do ano. Na seca, é a falta de visibilidade, devido a poeira e os buracos. Já na chuva, os atoleiros e também as pontes, que são na maioria do trecho de madeira, estreitas, sendo que a sinalização é precária.

Segundo Célio, o percurso entre Confresa e Porto Alegre do Norte, que é inferior a 70 km, já chegou a ser realizado em 3 horas, devido a péssima condição da estrada. Rubens relata que já ficou parado na estrada por até 3 horas a espera de um veículo que pudesse retirar o carro da lama. Ele argumenta que a situação gera insatisfação dos passageiros, que em alguns casos chegam a perder o ônibus para baldeação até o destino, que é feita na rodoviária de Barra do Garças.

A viagem é realizada em meio a muita trepidação devida as chamadas ""costelas de vaca"" e buracos, que fazem com que os ônibus tenham que praticamente parar para conseguir atravessar. A estrada está sem manutenção e a promessa do tão sonhado asfalto já é tida pelos motoristas como ""só vendo para acreditar"".

A falta de segurança também é percebida pela falta de policiais no decorrer da rodovia. Nenhum posto da Polícia Rodoviária Federal (PRF) é visto.

Célio argumenta que a solidariedade é fundamental para quem trafega na BR-158. As pessoas têm medo de parar porque não tem policiamento, mas quando os motoristas olham o ônibus ou alguém com uniforme da empresa param, porque se sentem seguros.

Nas ruas paralelas a estrada é comum ver motos, que são temidas pelos condutores. Como falta Polícia, é comum o trânsito de motos roubadas.

Para fazer o percurso de Barra do Garças a Confresa, 2 motoristas são escalados por ônibus. Rubens explica que normalmente a troca é realizada a cada 200 km em outras linhas. Mas, na BR-158, a distância não passa de 120 km devido a precariedade da estrada. ""Cada veículo vem com 38 passageiros. Se fosse diferente, não seria garantida a segurança das pessoas"".

Uma das situações mais difíceis encarada pela dupla na BR-158 foi o acidente que aconteceu em julho do ano passado, quando 2 ônibus de passageiros colidiram. No acidente, 8 pessoas morreram e 20 ficaram feridas. Rubens conta que estava atrás do veículo envolvido, cerca de 20 minutos.

Quando viu a situação, ele parou o ônibus para dar socorro às pessoas. O motorista fala que muitos passageiros entraram dentro do carro e espremiam-se na tentativa de sair do local. Algumas pessoas seguiram viagem até a cidade mais próxima em pé no corredor.

Os conflitos de terra da região também afetam o trabalho dos profissionais. Em julho deste ano, os assentados da Fazenda Bordolândia interditaram a pista para protestar contra a desapropriação da área. O bloqueio ficava próximo ao município de Bom Jesus do Araguaia e os motoristas pegavam um desvio para tentar chegar aos destinos.

A nova rota passava por uma ponte de madeira no município de Novo Paraíso e aumentava o tempo de viagem em 2 horas. Os manifestantes queimaram a travessia e mandaram um recado para os motoristas, ""da próxima vez será o ônibus"".

Célio afirma que os coordenadores da empresa de ônibus foram várias vezes ao local do conflito, na intenção de fazer com que fosse permitida a passagem dos veículos da linha. Mas a situação só foi resolvida com a chegada de representantes do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Renováveis (Ibama).

Outro lado -O superintendente do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes em Mato Grosso, Rui Barbosa Egual, disse que as obras de pavimentação da BR-158 já começaram. No momento, está sendo realizada a parte topográfica e as empresas começam a se instalar. Ele diz que existe contratos para a restauração dos trechos e que a reclamação dos buracos e dos atoleiros em época de chuva é normal para estradas sem pavimento.

O inspetor da Polícia Rodoviária Federal (PRF), Mário Nilson Furrer, explica que existem 2 postos da Polícia na BR. Um fica em Barra do Garças e outro na cidade de Água Boa. O restante do percurso, até o Estado do Pará, não tem cobertura da PRF. Ele diz que para fazer o policiamento em toda a rodovia seria necessário mais efetivo.

Gazeta Digital

Selzy Quinta

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